Descrição de chapéu Obituário Luiz Antonio Ferraz Matthes (1948 - 2023)

Mortes: Projetista de parques em SP, foi apaixonado por plantas desde a 1ª infância

Luiz Matthes assinou obras diversas de paisagismo pelo país e tornou-se uma referência, após ser ungido por Burle Marx

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São Paulo

Luiz Antonio Ferraz Matthes era estudante de agronomia, tinha pouco mais de 20 anos e viajou de Campinas, no interior paulista, ao Rio de Janeiro só para uma entrevista de estágio no escritório do paisagista Roberto Burle Marx, que à época já conquistava renome internacional.

Uma coleção de orquídeas garantiu sua contratação. A doação de flores chegou à sala em que Matthes aguardava, e teve início um pequeno debate entre funcionários sobre qual era a espécie que estava ali. Educadamente, o estudante corrigiu os palpites de alguns e classificou a planta, mencionando seu nome científico e as características que a distinguiam.

Não sabia que estava na sala o próprio Burle Marx, que se impressionou e garantiu a vaga ao jovem. O ano era 1970. Começava ali não apenas um estágio profissionalizante, mas uma grande amizade.

Homem grisalho, vestingo camisa branca e sem barba, olha para croqui em papel numa escrivaninha
Luiz Antonio Ferraz Matthes (1948 - 2023) - Leitor

Matthes nasceu em Lins, a 430 km de São Paulo, filho de uma professora de desenho e de um militar. Era o segundo de uma prole de quatro —a irmã era a mais velha, e depois de Luiz Antonio vieram outros dois meninos.

A família viveu por mais de uma década entre Lins e Sorocaba, onde viviam parentes. Mudaram para Campinas quando ele tinha pouco mais de dez anos de idade.

Matthes demonstrava forte interesse por plantas desde muito pequeno. Quando tinha quatro anos, já passava horas por dia aguando e cuidando delas. E a família o incentivava.

Entrou na faculdade de Agronomia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Botucatu em 1969. No ano seguinte, Burle Marx o indicou para cuidar do projeto paisagístico do Clube Náutico de Araraquara. Foi seu trabalho mais longo: durou cinco décadas até a conclusão. Hoje, o local reúne mais de 400 espécies de árvores e arbustos, o que inclui mais de 100 tipos de palmeira e mais de 40 de herbáceas.

Vários parques na cidade de São Paulo tiveram projetos paisagísticos com participação de Matthes, como o Orquidário Ruth Cardoso, o Parque do Povo e o Parque Mário Covas —este último em um terreno que já abrigou uma casa de Burle Marx. O paisagista o nomeou conselheiro vitalício do Sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro, anos depois reconhecido como patrimônio mundial de cultura pela Unesco.

A empresa Licuri, que fundou em 2003, foi batizada em homenagem a uma palmeira da caatinga que cresce de maneira singular, com a coroa formada por folhas em espiral. O arquiteto André Graziano, seu sócio na Licuri, homenageou Matthes com um texto em que o classifica como "um angelim vermelho em vida", referência à maior árvore brasileira.

Nos últimos anos, Matthes tratava um câncer e adoeceu nos últimos meses, com um nódulo no pâncreas. Morreu no dia 28 de dezembro, deixando a irmã, um irmão e sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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