Descrição de chapéu Rio de Janeiro violência

Mortes violentas são as mais baixas em 32 anos no Rio, mas homicídios crescem 7,3%

Assassinatos sobem principalmente em áreas dominadas pela milícia, aponta instituto de segurança; gestão Castro destaca mudança em pasta

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Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro atingiu em 2023 o menor número de ocorrências de letalidade violenta desde o início da série histórica do ISP (Instituto de Segurança Pública), que começou em 1991, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (19). O indicador, que engloba homicídios dolosos, lesão corporal seguida de morte, latrocínio e morte por intervenção policial, registrou 4.257 casos entre janeiro e dezembro do ano passado —uma redução de 5,1% em comparação com o ano anterior e a menor em 32 anos.

Apesar da queda no indicador geral, no entanto, os homicídios dolosos aumentaram 7,3%: foram 3.283 no ano passado, ante 3.059 em 2022. O número equivale a quase nove mortos por dia.

Na foto, uma mão segura duas balas de arma de fogo
Mulher segura projéteis encontrados no conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida onde uma criança foi baleada e morta durante ação policial na cidade de Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli-12.jul.2023/Folhapress

Os homicídios no estado se concentraram principalmente na zona oeste da capital, onde há a predominância da milícia. Foram 726 assassinatos na região, um aumento de 43,2% em comparação ao ano passado.

A área com mais ocorrência de homicídios em números absolutos é a Baixada Fluminense, onde há também forte presença de grupos paramilitares e do tráfico. Lá, 902 pessoas foram assassinadas no último ano. Apesar do número alto, houve uma queda de 1,4% comparado ao ano anterior.

Houve aumento de assassinatos no restante da região metropolitana. Na RISP (Região Integrada de Segurança Pública) 1, onde fica o centro do Rio, a zona sul e a zona norte, a alta foi de 10,6%, com 286 homicídios registrados. Já em Niterói, São Gonçalo e arredores, o aumento foi de 5,7%, com 521 mortes intencionais.

Com os homicídios em alta, o que puxa a queda no indicador de letalidade violenta é o número de mortes por intervenção de agentes do Estado. Em 2023, foram 869 casos —uma redução de 34,7% em comparação ao ano anterior, quando 1.330 pessoas morreram dessa forma.

A zona oeste, porém, também registrou um aumento nesse índice, de 13,7%, chegando ao patamar de 257 mortos em interposição à polícia. Já as demais áreas da região metropolitana registraram queda nesses números: 51,8% em Niterói e São Gonçalo, com 136 casos; 46,3% no centro, zona sul e zona norte da capital, com 117, e 44,5% na Baixada Fluminense, com 264.

"Há uma concentração de aumento dos homicídios nas áreas que a gente identificou conflitos entre os grupos armados e entre as forças policiais", afirma sociólogo Daniel Hirata, coordenador do Geni/UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense). Ele completa:

"E apesar da queda da letalidade violenta, se observamos os dados por região, ela também cresceu onde mais houve esses conflitos".

Em nota, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), comemorou a redução no indicador de letalidade violenta. Ele atribuiu a queda aos investimentos na área de segurança pública e a recriação de uma secretaria específica para a área.

"A segurança pública do Rio de Janeiro vem alcançando nos últimos anos reduções históricas na Letalidade Violenta e isso precisa sempre ser destacado, pois não é um fato trivial. Já investimos mais de R$ 2,5 bilhões em tecnologia, reformas de batalhões e delegacias e equipamentos de proteção para os policiais. Além disso, criamos uma nova secretaria de Segurança Pública, enxuta, para promover uma integração maior entre as polícias Civil e Militar", disse.

Apesar da recriação da pasta de Segurança Pública, que estava extinta desde 2019, as polícias continuam com status e autonomia de secretaria.

Por fim, o ISP também indicou um aumento de 27,5% no número de fuzis apreendidos em 2023. Ao todo, foram 610. Já o total de apreensão de armas caiu 27,6% em comparação ao ano anterior: enquanto em 2022 foram 6.795 armas apreendidas, agora esse número foi de 6.281.

Além disso, o instituto também apontou que as polícias Civil e Militar realizaram 36.952 prisões em flagrante no ano e recuperaram 14.675 veículos roubados.

Práticas de grupos criminosos

O ISP também indicou um aumento no número de desaparecidos e de extorsão. No primeiro, o índice subiu 10,7% em 2023, com 5.815 casos, enquanto o segundo teve um crescimento de 41,7%, com 3.264.

Embora esses dois índices não se restrinjam à prática de grupos criminosos, já que podem ocorrer por outros motivos e serem cometidos por diversos autores, eles mostram o retrato de como as facções e paramilitares atuam ao analisar os números por região.

O instituto não diferencia os tipos de desaparecimento, por isso não há um dado específico para aqueles que são desaparecidos forçados. Essa prática é comum à milícia, que a tem usado para aumentar seu domínio territorial.

A Baixada e a zona oeste concentram o maior número total de desaparecidos. No primeiro, foram 1.625, com uma alta de 7,5% em comparação ao ano anterior. No segundo, o número foi de 1.385, sendo um crescimento de 18%.

O maior aumento de desaparecidos, porém, se deu na região de Niterói e São Gonçalo, onde há predominância do tráfico. Em 2023, o número de pessoas que sumiram subiu 24,3%, registrando 792 casos. Houve também aumento no centro, zona sul e zona norte da capital: 22,4%, o que equivale a 1.171 desaparecidos no ano.

Já a extorsão também passou a ser praticada por traficantes. Para garantir o domínio sob uma comunidade ou um bairro, facções e grupos paramilitares costumam extorquir moradores e comerciantes, além de obrigá-los a utilizar somente os serviços oferecidos por eles.

As extorsões aumentaram em toda a região metropolitana: 56,9% na Baixada Fluminense, com 590 casos; 56,6% em Niterói e São Gonçalo, com 534; 33,3% na zona oeste da capital, 861, e 28,3% no Centro, zona sul e zona norte, com 793.

"São práticas bastante típicas da milícia e que agora passaram a ser do tráfico também. Mesmo que nem todos os desaparecimentos sejam forçados, pesquisas passadas já nos indicaram que cerca de 24% dos casos se enquadram nesse perfil de desaparecidos forçados. É necessário uma atenção das autoridades e da pesquisa social para termos uma ideia melhor desse universo", afirma Hirata.

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