Descrição de chapéu Alalaô

Primeira noite de desfiles de Carnaval em SP cultua raízes da África e da terra

Na lista de homenagens desta sexta (9) no Anhembi também há menção a cidade baiana e ao parque Ibirapuera

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São Paulo

Saudações, é Carnaval. Com um aceno às raízes africanas, a Camisa Verde e Branco abre nesta sexta-feira (9) a primeira noite de desfiles no Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo. É o retorno da escola da Barra Funda (zona oeste), vice-campeã do Grupo de Acesso em 2023. A agremiação volta à elite do samba 12 anos depois.

Ao todo, 14 escolas disputam no Grupo Especial do Carnaval paulistano. Sete delas se apresentam a partir das 23h15 desta sexta até o nascer do sol no dia seguinte. O restante desfila na noite de sábado (10) e madrugada de domingo (11).

As duas agremiações com as piores notas nas duas noites, em apuração a ser realizada a partir das 16h de terça-feira (13), serão rebaixadas, assim como subirão as duas melhores do Grupo de Acesso, que desfilam na noite de domingo.

Mulher com biquini dourado levanta uma rosa com a mão direita no Sambódromo do Anhembi
Ana Beatriz Godói, rainha de bateria da escola Rosas de Ouro, em ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, para o Carnaval de 2024 - Divulgação/Rosas de Ouro

Das sete escolas que se apresentam nesta sexta, três exaltam a África em seus temas. Uma delas é a própria Camisa Verde e Branco, com "Adenla, o imperador nas terras do rei".

"A Mocidade Verde e Branco vem saudar suas raízes, reafirmar-se como tradicional e legítimo território negro", diz a escola sobre seu enredo que homenageia o orixá Oxóssi, o rei das matas e "patrono espiritual" da agremiação, que afirma pagar uma promessa pelo acesso ao Grupo Especial.

O enredo também vai homenagear o ex-atacante Adriano, como símbolo de vitória e resistência negra. O goleador, que brilhou com a camisa da seleção brasileira e de clubes como Flamengo, São Paulo, Corinthians e Inter de Milão (Ita), é chamado de Imperador.

Outras duas escolas que enfatizam o continente africano, suas origens e histórias, são nascidas de torcidas organizadas do São Paulo Futebol Clube, a Dragões da Real e a Independente, que, curiosamente, desfilam na sequência —serão a terceira e a quarta a entrarem no sambódromo nesta sexta.

"Nosso enredo tem uma carga de reparação histórica", diz Márcio Santana, diretor de Carnaval da Dragões da Real sobre o tema "África, uma constelação de reis e rainhas". "Pretendemos resgatar o passado triunfante de um continente que é colocado em segundo plano nas histórias da humanidade", acrescenta.

Em um desfile atemporal, a Dragões da Real busca enfatizar realezas africanas a partir do rei Mansa Musa, considerado o homem mais rico da história.

No terceiro carro, a escola homenageia Cleópatra (69-30 a.C.) com a promessa de grandiosidade. "A gente vai mostrá-la como um poder que foi muito além da sedução [uma das ditas características da rainha egípcia]."

A Independente desfila depois com "Agojie, a lâmina da liberdade". "O continente africano é personificado na figura de uma mãe, provedora de nossa origem", diz a escola, que no ano passado terminou na sétima colocação.

Também nascida de torcida organizada de time de futebol, a palmeirense Mancha Verde tem a agricultura como tema do desfile. E quer mandar um recado para a sociedade globalizada e o descaso com as mudanças climáticas.

"Do nosso solo para o mundo: o campo que preserva, o campo que produz, o campo que alimenta", é o enredo da escola, a penúltima a entrar no sambódromo, às 4h40.

"Plantar é um exercício de fé, porque o agricultor não tem certeza de que vai colher", afirma o carnavalesco André Machado.

Em seu terceiro setor no desfile, a escola vai ressaltar a agricultura familiar e o quanto é importante a preservar a natureza para perpetuar a vida na terra. "É para a gente pensar no meio ambiente, para as futuras gerações terem o que plantar e comer", afirma.

Falar dos recursos naturais não é inédito nos enredos da escola. Em 2022, a Mancha Verde foi campeã com o tema "Planeta Água".

No ano passado, a agremiação que cantou o xaxado do Nordeste terminou na segunda colocação, com um décimo a menos na classificação geral que a campeã Mocidade Alegre —o segundo lugar foi dividido ainda com Império de Casa Verde e Acadêmicos do Tatuapé.

A madrugada no Anhembi também será de homenagens. Na primeira delas, a Barroca Zona Sul vai celebrar seus 50 anos.

"Nós nascemos e crescemos no meio de gente bamba. Por isso que nós somos a faculdade do samba", diz a agremiação verde e rosa da Vila do Encontro, zona sul da cidade.

A Acadêmicos do Tatuapé, da zona leste, que em 2023 levou as belezas de Paraty (RJ) para o sambódromo, subiu o litoral e agora vai falar da badalada Mata de São João, cidade da região metropolitana de Salvador rotulada como joia da Bahia no samba-enredo da escola.

No fechamento da noite, a Rosas de Ouro, escola da região da Freguesia do Ó, na zona norte, vai comemorar os 70 anos do parque Ibirapuera, que serão celebrados em agosto deste ano.

Com "Ibira 70", a Rosas de Ouro busca se reencontrar com uma fórmula do passado, quando falou sobre a São Paulo nos anos 1980, para dar a volta por cima —12ª colocada em 2023, não foi rebaixada por uma diferença de 0,1 ponto para a Unidos de Vila Maria, que caiu para o Grupo de Acesso.

"Nós vamos ser a sétima [a desfilar], já vai estar amanhecendo, e faremos uma alusão aos portões [do Ibirapuera] que se abrem", afirma Angelina Basílio, presidente da escola, sobre a evolução da escola que contará a história, a cultura e a riqueza ambiental do parque da zona sul, onde a agremiação chegou a se apresentar durante a preparação para o Carnaval.

"Nossa bateria vem com ritmo cheio de pressão. Vamos fechar a noite de sexta com chave de ouro e levantar o Anhembi", promete a rainha Ana Beatriz Godói.

Para evitar o desespero e o flerte com o rebaixamento do ano passado, a Rosas de Ouro procurou fortalecer todos os seus segmentos. Os diretores de ala passaram por treinamentos, e Dante Baptista, que voltou à escola para dirigir a harmonia, fez palestras motivacionais.

VEJA A ORDEM DOS DESFILES DO GRUPO ESPECIAL DE SP

Sambódromo do Anhembi
Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, zona norte de São Paulo.
Os ingressos de arquibancada estão esgotados.

Sexta-feira (9)
21h00 – Desfile das velhas-guardas de São Paulo
23h15 – Camisa Verde e Branco
00h20 – Barroca Zona Sul
01h25 – Dragões da Real
02h30 – Independente
03h35 – Acadêmicos do Tatuapé
04h40 – Mancha Verde
05h45 – Rosas de Ouro

Sábado (10)
20h30 – Afoxé Filhos da Coroa de Dadá
22h30 – Vai-Vai
23h35 – Tom Maior
00h40 – Mocidade Alegre
01h45 – Gaviões da Fiel
02h50 – Águia de Ouro
03h55 – Império de Casa Verde
05h00 – Acadêmicos do Tucuruvi

OUÇA OS SAMBAS-ENREDO DAS ESCOLAS DE SP

SEXTA (9)

Camisa Verde e Branco
Samba-enredo:
Adenla, o imperador nas terras do rei

Barroca Zona Sul
Samba-enredo: Nós nascemos e crescemos no meio de gente bamba. Por isso que nós somos a faculdade do samba. 50 anos de Barroca Zona Sul

Dragões da Real
Samba-enredo: África, uma constelação de reis e rainhas

Independente
Samba-enredo: Agojie, a lâmina da liberdade

Acadêmicos do Tatuapé
Samba-enredo: Mata de São João - uma joia da Bahia símbolo de preservação! Entre cantos e tambores. Viva a Mata de São João!

Mancha Verde
Samba-enredo: Do nosso solo para o mundo: o campo que preserva, o campo que produz, o campo que alimenta

Rosas de Ouro
Samba-enredo: Ibira 70 —a Rosas de Ouro é São Paulo no Carnaval 2024

SÁBADO (10)

Vai-Vai
Samba-enredo: Capítulo 4, versículo 3 — Da rua e do povo, o hip hop: um manifesto paulistano

Tom Maior
Samba-enredo:
Aysú – uma história de amor

Mocidade Alegre
Samba-enredo:
Brasiléia Desvairada, a busca de Mário de Andrade por um país

Gaviões da Fiel
Samba-enredo:
Vou te levar pro infinito

Águia de Ouro
Samba-enredo:
Águia de Ouro nas ondas do rádio

Império de Casa Verde
Samba-enredo:
Fafá, a cabocla mística em rituais da floresta

Acadêmicos do Tucuruvi
Samba-enredo:
Ifá

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