Descrição de chapéu Alalaô

Escolas de samba de SP exaltam negros e criticam intolerância religiosa na volta à avenida

Sete agremiações entram no sambódromo do Anhembi nesta sexta; veja ordem dos desfiles e os enredos

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São Paulo

É como se o relógio biológico do carnavalesco voltasse ao fuso horário normal e o coração passasse a bater no velho ritmo de antes —pulsado por caixas, repiniques e tamborins, claro. Nesta sexta-feira (17) e no sábado (18), 14 escolas do Grupo Especial de São Paulo voltam a desfilar no Sambódromo do Anhembi, zona norte de São Paulo, no período oficial de Carnaval.

Em 2022, o desfile teve de ser adiado para o fim de abril, fora da época de folia, por causa da variante ômicron do novo coronavírus, que lotou hospitais e postos de saúde no início do ano. Em 2021, o Carnaval nem foi realizado por causa das medidas sanitárias contra a pandemia de Covid-19.

Preparação de carro alegórico da escola de samba Unidos de Vila Maria, a quarta escola a entrar no Sambódromo do Anhembi, na madrugada desta sexta (17) para sábado (18), no primeiro dia do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Críticas à intolerância religiosa e ao racismo estão entre os temas da primeira noite de desfiles, quando as escolas de samba paulistanas também vão passear pelas águas do mar do litoral sul do Rio de Janeiro ou do Pantanal.

Serão sete agremiações em cada dia. Nesta sexta, a primeira escola a entrar no sambódromo, a Independente Tricolor, inicia seu desfile as 23h15. No sábado, a programação começa mais cedo, as 22h30, com a Estrela do Terceiro Milênio.

Desfilar em abril foi estranho, define o carnavalesco Jorge Silveira, da Mocidade Alegre (agremiação que percorre a avenida na segunda noite), mas necessário para as escolas demarcarem território e realizarem novamente o ritual de cruzar a avenida.

"Fevereiro tem uma mística especial, além de ser um mês mais com temperatura mais quente", afirma Judson Sales, diretor de Carnaval da Tom Maior, penúltima escola a entrar no sambódromo na madrugada desta sexta para sábado.

Sem bloquinhos oficiais, que não foram autorizados a sair às ruas no ano passado, e por causa das dúvidas sobre a pandemia que ainda pairavam, Sales acredita que a cidade não estava contagiada pelo espírito carnavalesco, como agora.

Mesmo assim, a Tom Maior dividiu o quádruplo do primeiro lugar em 2022 —a Mancha Verde levou o título pelos critérios de desempate—, o que acirra a promessa de um Carnaval igualmente disputado em 2023.

A Tom Maior vai fazer uma homenagem às mães pretas ancestrais por meio de personagens de religiões, das afro-brasileiras à católica Nossa Senhora Aparecida, representada no quarto carro da escola.

"Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos… Amém", o enredo da Gaviões da Fiel, que fecha a primeira noite de desfiles já na manhã deste sábado, é uma reflexão sobre a intolerância religiosa.

Júlio Poloni, um dos carnavalescos da Gaviões, diz que enredo deste ano toca em um ponto muito crucial do momento sociopolítico vivido pela sociedade brasileira, em que determinados grupos religiosos insistem em se julgar superiores ou mais legítimos que outros.

Segundo ele, as escolas de samba têm um papel importante no debate em defesa da liberdade religiosa. "Traz a outra face do que tem sido visto Brasil afora", afirma Poloni, que vê o samba deste ano como candidato a entrar na galeria dos maiores da história da Gaviões. "Tratamos o tema com poesia e profundidade."

A Rosas de Ouro, quinta escola a desfilar, tem como enredo as conquistas da população negra. Segundo o carnavalesco Paulo Menezes, o tema, "Kindala!" promete resgatar, entre outros, as raízes da Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo que é berço da escola.

"Ao longo dos anos sempre existiu e segue existindo a tentativa por uma parte da sociedade de mascarar tudo o que o negro sofreu e precisou enfrentar. E hoje ainda sofre e enfrenta. É uma luta diária", afirma Menezes, na apresentação do enredo da escola.

A Independente Tricolor abre a primeira noite de desfiles e fala do retorno da escola do Grupo Especial, com um enredo que faz alusão a estratégias para se vencer batalhas.

A Unidos de Vila Maria, quarta escola do cronograma desta sexta para sábado, também faz um passeio pela história da escola e de sua comunidade.

A Acadêmicos do Tatuapé, com seus cerca de 2.200 componentes, promete uma emocionante homenagem a Paraty, cidade do litoral sul fluminense.

Um misto de história e preservação, a Barroca Zona Sul tem como tema a defesa do Pantanal de invasores espanhóis e portugueses e de bandeirantes pela população indígena Guaicurus.

"No Pantanal há de resplandecer o verde das matas, o azul do céu", diz trecho do samba da escola, que remete a tempos antes mesmo do descobrimento do Brasil, mas segue bastante atual. Quase metade da população de onças-pintadas do local foi afetada diretamente pelos incêndios que devastaram a região em 2020, por exemplo.

Com os dois grupos de acesso, o Carnaval de São Paulo tem ao todo quatro dias de desfiles, que atraem mais de 110 mil espectadores e cerca de 30 mil componentes de escolas, segundo a LigaSP, que organiza o evento.

SERVIÇO - VEJA ORDEM DOS DESFILES DO GRUPO ESPECIAL

Sambódromo do Anhembi
Av. Olavo Fontoura, 1209, Santana, zona norte de São Paulo

Sexta (17)
21h00 – Desfile das velhas-guardas de São Paulo
23h15 – Independente Tricolor
00h20 – Acadêmicos do Tatuapé
01h25 – Barroca Zona Sul
02h30 – Unidos de Vila Maria
03h35 – Rosas de Ouro
04h40 – Tom Maior
05h45 – Gaviões da Fiel

Sábado (18)
20h30 – Afoxé Filhos da Coroa de Dadá
22h30 – Estrela do Terceiro Milênio
23h35 – Acadêmicos do Tucuruvi
00h40 – Mancha Verde
01h45 – Império de Casa Verde
02h50 – Mocidade Alegre
03h55 – Águia de Ouro
05h00 – Dragões da Real

OUÇA O SAMBAS-ENREDO DAS ESCOLAS DE SP

Sexta (17)

Independente Tricolor
Enredo: Samba no pé, lança na mão. Isso é uma invasão!

Acadêmicos do Tatuapé
Enredo: Tatuapé canta Paraty

Barroca Zona Sul
Enredo:
Guaicurus

Unidos de Vila Maria
Enredo:
Vila Maria. Minha Origem, Minha Essência, Minha História. Muito além do Carnaval

Rosas de Ouro
Enredo:
Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome

Tom Maior
Enredo:
Um Culto às Mães Pretas Ancestrais

Gaviões da Fiel
Enredo:
Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos... Amém

Sábado (18)

Estrela do Terceiro Milênio
Enredo: Me dê sua tristeza que eu transformo em alegria! Um tributo à arte de fazer rir

Acadêmicos do Tucuruvi
Enredo:
Da Silva, Bezerra. A Voz do Povo!

Mancha Verde
Enredo:
Oxente! Sou xaxado, sou nordeste, sou Brasil

Império de Casa Verde
Enredo:
Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical

Mocidade Alegre
Enredo:
Yasuke

Águia de Ouro
Enredo:
Um pedaço do Céu

Dragões da Real
Enredo:
Paraíso Paraibano - João Pessoa a porta do sol das Américas

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