Descrição de chapéu Folhajus indígenas

Cacique é enterrado em Brumadinho (MG) mesmo com decisão judicial contrária a cerimônia

Vale entrou com ação para impedir a sepultamento na área que pertence à empresa; PF e PM foram acionadas, mas quando chegaram ao local o funeral já havia ocorrido

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Belo Horizonte

O cacique Merong Kamakã Mongoió, 36, foi enterrado na manhã desta quarta (6) na aldeia em que vivia no distrito de Casa Branca, em Brumadinho (MG).

Uma decisão da Justiça Federal em Minas Gerais em caráter liminar (provisório), tomada a pedido da mineradora Vale na noite desta terça (5), impedia a realização do sepultamento na área, que pertence à empresa e é reivindicada pela população indígena na região.

A decisão é da juíza Geneviève Grossi Orsi e determinava o acionamento das polícias federal e militar para cumprimento da ordem. O argumento foi de que há uma ação judicial de reintegração envolvendo a área.

A foto mostra o cacique Merong Kamakã, com cocar colorido
O líder indígena cacique Merong Kamakã foi enterrado na manhã desta quarta na aldeia em que vivia em Brumadinho (MG). - Divulgação/Alerice Baeta

As corporações estiveram na manhã desta quarta próximo à aldeia, por volta das 9h, acompanhando um oficial de Justiça, mas o cacique já havia sido enterrado, conforme o representante do Cimi (Conselheiro Indigenista Missionário), Haroldo Guilherme Correia, que está na aldeia.

Segundo o representante do Cimi, por volta das 10h30 a PM ainda permanecia na região. Já agentes da PF teriam deixado o local. Ninguém das corporações entrou na aldeia, segundo Correia.

Segundo a Polícia Federal, a decisão judicial chegou à corporação na manhã desta quarta (6) e seria cumprida.

A Vale, em nota, disse reiterar seu pesar pelo falecimento o cacique Merong e que se solidariza com seus familiares e comunidade indígena. "A Vale respeita os povos indígenas e seus ritos de despedida e busca construir uma solução com a comunidade que preserve suas tradições, dentro da legalidade", afirma o comunicado.

Questionada se teve conhecimento do sepultamento do cacique, a empresa afirmou que sim. A mineradora disse ainda que não pretende tomar outras medidas sobre o caso.

Merong foi encontrado morto na aldeia em que vivia em Brumadinho, no distrito de Casa Branca, na segunda (4). A Polícia Militar afirmou que o cacique cometeu suicídio. As polícias federal e civil abriram investigação.

A advogada dos indígenas, Lethicia Reis de Guimarães, disse nesta quarta pela manhã que a comunidade não havia sido notificada. O enterro estava marcado para as 10h, mas ocorreu antes.

"É uma situação conflituosa. Existe uma disputa da posse. Estamos falando de uma liderança nacional, e de uma insensibilidade muito grande num momento como esse por parte da Vale. O que choca mesmo não é a questão judicial. É o desrespeito ao luto", afirma a representante dos indígenas.

O cacique era uma liderança indígena nacional. Estava à frente da retomada Kamakã Mongoió em Brumadinho, município com forte atuação de mineradoras.

Merong militava também em defesa dos territórios de outras comunidades, como Kaingáng, Xokleng e Guarani, de acordo com a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).

"De acordo com a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), o líder indígena participou ativamente da Ocupação Lanceiros Negros, iniciativa que contribuiu com as retomadas Xokleng Konglui no município gaúcho de São Francisco de Paula, e Guarani Mbya, em Maquiné", afirma a Funai, em nota de pesar divulgada nesta terça (5).

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