É um condenado contra dois coronéis de vida íntegra, diz Nunes sobre denúncia de caixa 2 na PM

Prefeito afirma avaliar com cuidado relato de ex-tenente-coronel que cita atuais subprefeitos da Sé e Mooca em esquema

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São Paulo

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) adotou cautela ao comentar as denúncias de suposto recebimento de propinas por ex-integrantes do alto escalão da Polícia Militar que atualmente são subprefeitos em dois importantes distritos da cidade de São Paulo.

O ex-tenente-coronel José Afonso Adriano Filho, apontado como chefe de um esquema de corrupção que pode ter desviado milhões da PM entre 2005 e 2012, afirmou à Folha que os coronéis Alvaro Camilo, subprefeito da Sé, e Marcus Vinicius Valério, subprefeito da Mooca, receberam aproximadamente R$ 150 mil e R$ 120 mil, respectivamente, em propinas.

Nunes disse nesta segunda-feira (18) que leu a entrevista do ex-militar e que avalia com cuidado o caso, mas não tomará providências neste momento.

Ricardo Nunes (MDB) durante posse de Aldo Rebelo e José Renato Nalini como secretários na prefeitura de São Paulo - Danilo Verpa - 19.fev.2024/Folhapress

"O cuidado que eu vou ter, bastante, é porque a pessoa que fez essas falas é um condenado", disse Nunes.

"Então, eu tenho dois coronéis aposentados com um histórico de vida íntegra e a fala de um condenado. Evidentemente pode ter alguma verdade, mas vou levar em consideração que tem um condenado falando e duas pessoas que estão fazendo um trabalho importante na cidade", prosseguiu o prefeito.

"Não vejo nenhum motivo, por isso estou te falando aqui, de não tomar nenhuma atitude neste momento", completou Nunes.

Adriano Filho afirmou em entrevista exclusiva à Folha que em todas as unidades gestoras da corporação há esquema de desvio de verbas públicas, por meio de caixa 2, semelhantes ao montado por ele.

Adriano conversou com a reportagem na Penitenciária 2 de Tremembé, no interior do estado, onde cumpre pena de 52 anos de reclusão por peculato, referente a dois processos, sob a acusação de ter fraudado licitações destinadas ao comando geral da corporação. Ele está preso desde 2017.

Segundo a acusação, empresas criadas pelo ex-coronel ganhavam licitações da PM organizadas por ele mesmo. O serviço não era prestado, e todo dinheiro era desviado.

Na entrevista, o ex-chefe de compras do comando da PM paulista cita a suposta participação de um grupo de 27 oficiais da corporação no esquema. A reportagem trouxe 14 documentos entregues por ele, de um conjunto de 194 evidências que o ex-coronel diz ter e que, em tese, comprovam as afirmações feitas por ele.

Em nota, a PM de SP diz que "os crimes até o momento comprovados são de extrema gravidade, motivo pelo qual as investigações em curso são prioridades absolutas do comando", aponta trecho da nota.
Ainda conforme a PM, uma sindicância detectou indícios de irregularidades na gestão do ex-tenente-coronel. Posteriormente, um IPM (Inquérito Policial Militar) foi instaurado e auditou mais de 5.000 processos, o que levou à abertura de 244 novos IPMs.

Atualmente subprefeito da Sé, o ex-comandante da PM Alvaro Camilo teria recebido cerca de R$ 150 mil, segundo Adriano Filho. Além de um suposto "mensalinho", ele afira que Camilo foi beneficiado de várias outras formas: pagamento da internação do filho em clínica de reabilitação de dependentes químicos, reforma de um apartamento incendiado por esse mesmo filho e uma série de eventos particulares que faziam parte do projeto político do então comandante para concorrer a um cargo eletivo.

Procurado pela Folha, Camilo declarou que as acusações feitas por Adriano foram investigadas pela Promotoria e arquivadas.

"Esclareço que quando eu era Comandante-Geral, em 2011, assim que soube de supostas irregularidades, determinei imediata apuração, afastei o ex-PM de suas funções e o transferi de unidade. O resultado dessas investigações culminou em sua condenação pela Justiça, perda de sua patente e salário. Esse assunto já foi investigado pelo MP e restou arquivado."

Outro mencionado por Adriano é o subprefeito da Mooca, Marcus Vinícius Valério. Hoje na reserva, ele chegou a ser subcomandante da PM entre 2020 a 2022. "Esteve lá diversas vezes. Repassei uns R$ 120 mil pra ele, de forma picada", afirma Adriano.

Valério nega ter pegado dinheiro. "As acusações são infundadas e são as mesmas que já haviam sido feitas pelo ex-oficial em 2017, logo após ter sido preso. Tudo amplamente apurado pela Corregedoria da PM", disse em mensagem enviada à reportagem.

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