Descrição de chapéu Obituário Maria Quinto Pomella (1931 - 2024)

Mortes: Caridosa, acreditava no poder de transformação do amor

Maria Quinto Pomella oferecia banhos, roupas e comida a quem batesse a sua porta pedindo ajuda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Judith Brito
São Paulo

Maria Quinto Pomella nasceu em Nápoles, Itália, em 24 de março de 1931. Jovem, apaixonou-se por Gennaro, italiano que já tinha se aventurado em viagens e que propôs a Maria o casamento e a mudança para "fazer a vida no Brasil". O casal de imigrantes logo teria filhas: Luzia, Ida e Rosanna.

Maria construiu uma linda "história brasiliana", levando sempre esperança e alegria por onde passava. Ficou conhecida como a "Sra. Seja Feliz", por desejar isso em cada despedida. Amava as crianças. Na verdade, amava pessoas, e não podia vê-las em dificuldade sem pensar em algo para ajudar. Oferecia banhos, roupas e comida a indigentes que pediam ajuda, porque entendia que limpos e alimentados seria mais fácil encontrarem saídas para seus problemas.

Suas filhas se lembram de quando um velhinho bateu à porta pedindo comida. Estava visivelmente doente e machucado, como se tivesse sofrido uma queda. Maria imediatamente o convidou a entrar. As filhas, assustadas, correram para se esconderem atrás do portão, dizendo: "Você não pode deixar entrar, ele tem alguma doença!" Maria, indignada, olhou fixamente nos olhos delas e respondeu: "Por isso mesmo que ele precisa entrar. Vamos fazer curativos, dar banho e alimentá-lo!"

Maria Quinto Pomella (1931 - 2024)
Maria Quinto Pomella (1931 - 2024) - Arquivo pessoal

Também fazia combinados com crianças carentes que batiam à sua porta pedindo dinheiro: "Vamos antes fazer a matrícula numa escola, depois banho, comida e roupas". Com essa postura, a campainha da casa de Maria não parava de tocar. E ela sempre atendia e ajudava de alguma forma. Essa disponibilidade gerava até ciumeira em casa: a família queria toda a atenção.

Até durante um assalto, quando andava pela rua, não deixou de dialogar. Um rapaz lhe exigiu a bolsa, aos berros, e ela respondeu calmamente: "Vou te dar, mas antes gostaria que me dissesse se tem mãe. Acho que tem, porque só uma mãe lavaria e passaria tão bem o colarinho de sua camisa. Mãe amorosa a sua! Ela certamente ficaria triste ao saber o que você está fazendo".

Surpreso, o assaltante insistia em ter a bolsa, mas a gritaria dele e as respostas calmas dela chamaram a atenção de quem passava pela rua. Final da história: Maria e o assaltante passaram um bom tempo sentados na sarjeta papeando, falando sobre o amor. Ela até quis lhe dar dinheiro, mas ele não aceitou.

Maria também era uma mulher de vanguarda, respeitando pensamentos diferentes do seu, por mais bizarros que pudessem parecer. Quando não estava cozinhando ou organizando assuntos da família, escrevia, e seus escritos eram sempre sobre o poder de transformação do amor. Eram verdadeiros manifestos sobre o amor, em linda letra cursiva com melodia.

Maria morreu no último dia 24 de março, aos 93 anos. Suas filhas contam que, durante o sepultamento surgiu uma borboleta esvoaçando ao redor, como se a mãe quisesse dizer: "Olhem para o céu. É onde estou, bem e em paz!"

Além das três filhas, ela deixou três netos, dois bisnetos, dois genros e o marido.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.