Descendente de alemães, Helcio Emerich tinha medo de dar trabalho para a família. Por isso, deixou tudo preparado para quando partisse: inventário pronto, imóveis já no nome das filhas, pediu para que o corpo fosse doado para pesquisa ou cremado e até o próprio obituário escreveu.
Nele, Helcio relata que nasceu em Varginha (MG), completou o ensino fundamental em Uberaba e se mudou para São Paulo, aos 17 anos, "em busca de ares cosmopolitas (e de empregos...)".
Ler e escrever eram algumas de suas paixões. Aos 18 anos, quando recebeu o primeiro salário, comprou uma coleção de livros do escritor Machado de Assis. Na capital paulista, ele trabalhou em escritórios comerciais e, à noite, fez duas faculdades: propaganda e marketing pela ESPM e jornalismo pela Cásper Líbero.
Entre 1989 e 1993, Helcio assinou a coluna semanal "Comunicação & Mercado" na Folha —segundo ele, as colunas foram o auge da trajetória como jornalista. Além disso, também escreveu para outros veículos como o Jornal do Brasil e para revistas, como a Exame e Autoesporte.
Porém, sua principal atuação foi como publicitário, trabalhou em agências como Thompson e Denison, mas a maior parte da vida foi na AlmapBBDO, onde esteve por mais de 47 anos e só deixou a labuta aos 92 anos. Ao longo da carreira, ganhou prêmios, como o Prêmio Caboré nos anos 1980.
A família recorda que o trabalho fazia bem a ele. Quando parou de trabalhar, em decorrência de um problema de saúde que desenvolveu após bater o carro, ficou triste. "A vida dele era ser uma pessoa ativa", relembra a filha Marta, que descreve o pai como uma pessoa reservada, mas também preocupada com a família, pai amoroso, cuidadoso e próximo às duas filhas.
Marta considera que o pai também a influenciou intelectualmente. Ele gostava de teatro, arte e ia a muitas exposições. Entre seus artistas preferidos estava Van Gogh. Helcio não costumava viajar muito com a família, a maioria das viagens que fez foi a trabalho.
O gosto pela comunicação acabou influenciando a família e uma da netas se formou como jornalista por influência de Helcio. Ler o jornal era um ritual todas as manhãs e, mesmo internado, Marta levava um exemplar para ele colocar as notícias em dia.
Além das paixões por leitura e escrita, Marta resume que o pai foi uma pessoa que gostava de ajudar os outros e no trabalho tinha o costume de auxiliar e orientar os funcionários.
Helcio morreu no dia 1º de janeiro aos 94 anos, em São Paulo. Deixa as filhas Marta e Lidia e duas netas.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.