Apagão ultrapassa 30 horas, afeta abastecimento de água e prejudica pacientes

Nesta terça (19), comerciantes do centro de SP contavam prejuízos; cerca de 2.000 clientes ainda aguardam solução da Enel

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São Paulo

Cerca de 2.000 imóveis continuavam sem luz no noite desta terça-feira (19), mais de 30 horas após o apagão que afetou cinco bairros do centro de São Paulo, gerando transtornos para moradores, comerciantes e pacientes de hospitais.

A Enel, concessionária de energia, afirma que restabeleceu o fornecimento para 100% dos clientes prejudicados na área que abrange bairros de Higienópolis, Bela Vista, Cerqueira César, Santa Cecília e Vila Buarque. Moradores dessas regiões, porém, afirmam que seguem sem energia.

Durante o dia, a interrupção no fornecimento já causava desabastecimento de água nas residências e descarte de produtos.

Pacientes que tinham consultas, exames e outros procedimentos agendados na Santa Casa de Misericórdia ficaram sem atendimento pela manhã. Eles foram avisados de que, em razão do apagão, o sistema não estava funcionando e os serviços do ambulatório estavam suspensos.

Edifício sem energia elétrica na rua Canuto do Val, na Vila Buarque. - Otavio Valle - 18.mar.2024/Folhapress

A Santa Casa afirma que os atendimentos ambulatoriais e exames adiados serão remarcados posteriormente, mas os pacientes, em sua maioria do SUS (Sistema Único de Saúde), afirmaram estar decepcionados e apreensivos, sem saber quando vão conseguir uma nova data para atendimento —já que aguardam há meses para se consultar com especialistas.

Eliane Dezembro, 47, saiu de Rio Claro, no interior de São Paulo, às 3h, para levar o filho Breno, de 11 anos, em consulta com reumatologista pediátrico. Ela tinha dois pedidos de consulta, o mais antigo era de abril de 2023.

"Viemos com van da prefeitura. Chegamos aqui e disseram que está sem sistema desde ontem por falta de energia. Tem um monte de gente lá na mesma situação. Falaram que vão ligar para remarcar. Mas se já sabiam desde ontem por que não ligaram e avisaram? Assim a gente nem vinha", questiona Eliane.

Maria Pereira dos Santos, 49, também estava na calçada da rua Dr. Cesário Mota Júnior. Ela saiu de Registro, também no interior de SP, acompanhada do marido, para passar em consulta com um oftalmologista em razão de um problema de visão causado pelo diabetes.

"Saímos de lá às 2h. Mas aqui nem deixaram a gente entrar. Só disseram que vão ligar para remarcar. A gente não tem como pagar uma consulta particular, tem que passar por isso. Passar sono, fome", lamenta.

A Santa Casa ainda afirma que a energia foi restabelecida ainda pela manhã. Segundo a Enel, geradores foram enviados ao local para garantir o funcionamento das áreas de urgência e emergência do complexo hospitalar.

O apagão, que começou às 10h30 desta segunda (18), também causou prejuízo a comerciantes. Em meio ao calorão, há relatos de carnes e legumes apodrecendo e enchendo de larvas, sorvetes derretendo e cervejas perdendo o gás pela falta de refrigeração.

Na mesma rua da Santa Casa, Marcelo Souza, 40, dono de um restaurante nordestino, tentava mensurar suas perdas. "Somando vendas físicas, delivery e alimentos estragados, estou contando perder uns R$ 5.000 por dia", disse, enquanto ligava para a Enel, distribuidora de energia na capital. Era sua quinta ligação do dia, conta. Das anteriores, apenas uma fora atendida.

Marcelo relata ter sido informado que a situação seria normalizada até as 10h. Depois, às 13h. Nada ocorreu. Enquanto isso, nos fundos do estabelecimento, dezenas de quilos de proteína animal eram colocadas em sacos de lixo após serem tomadas por larvas.

A poucos metros dali, na mesma rua, Dalva Campos, 46, reclamava da quantidade de sorvetes derretidos em sua mercearia. Eram 20 caixas repletas de potes e picolés. O freezer guardando os produtos nem foi aberto para evitar o cheiro ruim.

"É desesperador. Tá tudo perdido, não tem como vender depois", declarou a comerciante. Seu prejuízo estimado é de R$ 2.000.

Mesmo nos locais em que a luz havia retornado, moradores se queixavam de que apenas a fase 110V estava operando. Assim, equipamentos 220V ou trifásicos não funcionavam.

Síndico de um prédio na rua Fortunato, na Vila Buarque, Benjamin Saviane, 35, fazia cotação para alugar um gerador. "Como só voltou o 110V, a bomba d'água e os elevadores não funcionam. Nosso reservatório tem apenas um pouco de água e, mesmo com os moradores economizando, não deve durar muito tempo."

Além da bomba d'água, os elevadores estavam sem funcionar. Segundo Saviane, mesmo a rede 110V apresentava oscilações e nem todos 116 apartamentos do edifício tinham energia.

A Enel afirma que a interrupção ocorreu devido a um problema na rede subterrânea na região de Higienópolis. A concessionária de energia chegou a atribuir a falha à Sabesp, estatal paulista de saneamento, que, segundo a Enel, realizou uma escavação e atingiu acidentalmente cabos da rede subterrânea da distribuidora.

A Sabesp, por sua vez, afirma que investigou a ocorrência e não encontrou indícios de que sua obra tenha danificado a fiação.

Nas redes sociais, muitos moradores da região se queixavam da concessionária.

"Enel é tortura. Você liga, informa a falta de luz, eles encaminham pra empresa terceirizada que entra em contato por mensagem ou ligação, caso você não atenda ou veja a mensagem, eles fecham o chamado como resolvido e volta você na saga de ligar de novo", reclamou Maicon Mariano.

"O mais impressionante é que não houve chuva, vento. Nada. Só incompetência da Enel mesmo", disse Ricardo Oliveira.

Diversos semáforos na região não estão funcionando. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirmou que a energia na central foi restabelecida, que trabalha para normalizar suas atividades, e que as equipes de campo atuam para minimizar os impactos no trânsito. Porém, os dados de semáforos sem funcionar ainda estão indisponíveis no momento, afirmou.

Na tarde de ontem, moradores correram para shoppings da região central, como Frei Caneca, para conseguir trabalhar, estudar e carregar equipamentos eletrônicos, principalmente celulares.

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