Descrição de chapéu Vida Pública LGBTQIA+

Abandonados por LGBTfobia ganham casa pública de acolhimento no Pará

Governo federal investiu R$ 611 mil no centro da capital paraense, além de 1,4 milhão em 12 casas pelo país

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Rio de Janeiro

Belém vai ter a primeira casa-modelo pública para receber pessoas LGBTIQA+ em situação de vulnerabilidade que tenham sido abandonadas pela família devido à orientação sexual. O espaço, resultado de parceria entre a prefeitura e o Ministério dos Direitos Humanos, vai servir de referência para o governo federal expandir centros públicos de acolhimento às vítimas de homofobia pelo país.

Isso será feito por meio do programa Acolher+, dedicado a implementar abrigos em cidades e estados com apoio do ministério. O programa também vai investir em centros da sociedade civil que já atendem pessoas LGBTQIA+. Até agora, R$ 1,4 milhão foi destinado para 12 desses centros, de acordo com a pasta.

A casa-modelo em Belém deve ser inaugurada em setembro. Com funcionamento 24 horas, vai oferecer aos abrigados atendimento psicossocial, orientação jurídica e qualificação profissional, esta em parceria com outras instituições, como o Senac.

A imagem mostra uma mulher sorrindo, sentada atrás de uma mesa de madeira clara. Ela usa óculos e uma camisa bege com detalhes verdes. Seu cabelo está preso em um coque alto. Na mesa, há uma pilha de livros com um suporte de celular no topo, segurando um celular roxo. Ao fundo, há uma bandeira com faixas verticais nas cores azul, verde, amarelo e vermelho
Jane Patrícia Gama coordena a área de diversidade sexual em Belém, responsável pela primeira casa-modelo de acolhimento à população LGBTQIA+ - Gabriele Costa

A profissionalização busca dar independência ao abrigado, pois o objetivo é que a permanência na unidade seja temporária, de até seis meses.

"As casas de acolhimento são uma política pública de direitos humanos, não de assistência social. Isso inclui não só acesso a saúde e trabalho, mas também à dignidade dessa população, já que muitos aparelhos do sistema de assistência social não atendem às especificidades de pessoas LGBTQIA+", afirma Emerson Pessoa, coordenador do Programa Acolher+.

A casa, que leva o nome Darlah Farias em homenagem a uma ativista paraense de direitos humanos, será o primeiro abrigo público desse tipo no Norte do país, com investimento de R$ 611 mil do governo federal.

A capital paraense foi escolhida porque faltam, na região, centros para acolher essa população, de acordo com Emerson. O Norte tem uma média de 1,21 morte de pessoas LGBTQIA+ por milhão de habitantes, número acima do nacional, de 1,13, segundo dados mais recentes do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+, divulgados em maio deste ano.

"A maior parte das casas de acolhimento coordenadas pela sociedade civil estão concentradas no Sul e no Sudeste. Muitas vezes, uma das únicas saídas para pessoas do Norte é migrar para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro", diz Emerson.

As casas de acolhimento são uma política pública de direitos humanos, não de assistência social. Isso inclui não só acesso à saúde e ao trabalho, mas também à dignidade dessa população, já que muitos aparelhos do sistema de assistência social não atendem às especificidades de pessoas LGBTQIA+

Emerson Pessoa

Coordenador do programa Acolher+

Ele afirma ainda que a Prefeitura de Belém já dialogava com o ministério para implementar políticas do tipo por meio da Coordenadoria de Diversidade Sexual. A pasta é chefiada por Jane Patrícia Gama, servidora pública no estado há 26 anos.

A coordenadora diz que, depois de se assumir, sempre teve a aceitação da família. Mas viu pessoas LGBTQIA+ sendo expulsas de casa e já abrigou conhecidos que passaram por isso.

Além do abandono, dentro de casa muitas vezes há também violência. O levantamento do observatório mostra que, dos 184 assassinatos que vitimaram essa população no país, 57 ocorreram em casa.

De acordo com Jane, a prioridade será contratar pessoas dessas minorias para atuar no centro de acolhimento, com o objetivo de facilitar a relação entre profissionais e abrigados. Haverá, segundo ela, psicólogos e enfermeiros, entre outros.

"Não adianta sair da rua e não se sentir acolhido. É preciso que essas pessoas sejam recebidas de forma correta e só nós, LGBTs, sabemos das nossas dores."

Para Barbara Pastana, que preside o movimento LGBTQIA+ do Pará, ter profissionais que também são de minorias sexuais vai permitir que os abrigados se sintam mais compreendidos, além de evitar a revitimização. Ela atua no conselho da Coordenadoria de Diversidade Sexual.

"A partir do momento em que a pessoa vê outros iguais, ela se sente mais confortável e amparada. Esse lado da humanização é necessário para que o indivíduo que sofreu o trauma possa se recuperar", diz.

A casa ainda vai passar por reformas, e a equipe da coordenadoria vai comprar itens como beliches e eletrodomésticos. A forma de contratação dos profissionais que vão atuar com os abrigados ainda está sendo decidida, diz Jane.

Segundo Emerson Pessoa, coordenador do Acolher+, não há uma meta de quantos centros deverão ser criados —as casas-modelo serão expandidas pelo país de acordo com o interesse de prefeituras e governos estaduais.

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