Descrição de chapéu Obituário Dalva Alves Ramil (1926 - 2024)

Mortes: Professora deixa educação e música como legado para família de artistas

Nascida na fronteira com o Uruguai, gaúcha foi inspiração para filhos e netos

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São Paulo

Quando um de seus filhos chegava perto dos dez anos de idade, Dalva Alves Ramil costumava perguntar qual instrumento iria tocar. Boa educação e música fizeram parte dos ensinamentos transmitidos por ela durante quase um século. Sua história, aliás, poderia ser cantada pelos seus.

Dalva aprendeu cedo a importância de estudar e de ter boa formação. Caçula de três irmãs, perdeu o pai quanto tinha apenas 4 anos. A mãe então pegou as meninas e se mudou de Jaguarão, município na fronteira com o Uruguai, para Pelotas, também no sul gaúcho.

Na busca por um trabalho que garantisse o sustento da família, a mãe de Dalva se tornou enfermeira na Santa Casa de Pelotas.

Foto em preto e branco mostra mulher de óculos sorrindo
Dalva Alves Ramil (1926-2024) - Nauro Junior/Divulgação

Para as meninas, conseguiu bolsas de estudos em bons colégios. Ela não abria mão de ensino de qualidade para as filhas, e as três se formaram professora, passando o legado adiante.

Até ter o diploma, Dalva teve de conviver com a saudade, pois ainda criança, aos 11 anos, foi matriculada em um internato em Santa Maria, cidade a mais de 250 km de distância.

De volta a Pelotas, se formou normalista e trabalhou com educação e alfabetização de diversas gerações, até se aposentar.

No fim da adolescência, conheceu Kleber, um uruguaio cinco anos mais velho que adorava cantar tango. Foi amor à primeira vista.

O romance nascido em um baile de Carnaval logo depois virou noivado e casamento. Da união nasceram seis filhos.

Dalva lecionava durante todo o dia, da manhã até a noite, e conduzia a casa. Cozinheira de mão cheia, sua sopa amarela do jantar e seu doce de abóbora agradavam o paladar.

Foram quase quatro décadas de casamento até Kleber morrer, aos 62 anos. Viúva, Dalva decidiu se reinventar, conta o filho Kledir Alves Ramil.

"Ela começou a fazer pintura e tapeçaria, se tornou uma artista visual", afirma.

Dos seis filhos, apenas dois, Kleber e Kátia, não seguiram o mundo das artes e escolheram a psiquiatria.

Vitor fez carreira solo na música. Kledir tem fama internacional na dupla com o irmão Kleiton —a dupla é e empresariada por Branca, também filha de Dalva.

A casa da família na praia do Laranjal, na lagoa dos Patos, em Pelotas, era reduto obrigatório no Natal, tradicionalmente embalado por boa música.

"Lá era uma grande festa, tanto que recentemente levamos esse espírito dos encontros familiares para o palco", afirma Kledir sobre o projeto Casa Ramil, que além dos três músicos tem outros quatro integrantes da terceira geração da família: Ian, Gutcha, Thiago e João Ramil.

O grupo, que se apresenta com seus sete integrantes e tem disco gravado, nasceu de uma homenagem à mãe e avó. "Ela era uma inspiração para nós", diz Kledir.

Dalva Alves Ramil morreu no dia 24 de maio, data de seu aniversário, aos 98 anos. Além dos filhos, deixa 12 netos e sete bisnetos.

No hospital, os Ramil cantaram para Dalva uma de suas músicas preferidas, "Pastorinhas", de Noel Rosa. Em 29 de maio, a família publicou no Instagram um emocionante álbum fotográfico cantado da matriarca.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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