Escolas de samba vão a Parintins em busca de tecnologia cabocla para o Carnaval

Agremiações do Rio e de SP têm tradição de usar expertise amazônica nas alegorias que colocam na avenida

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Laura A. Intrieri
São Paulo

O alto escalão do Carnaval esteve no último fim de semana no Festival Folclórico de Parintins, que acontece anualmente na cidade homônima localizada a 370 km de Manaus.

O presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio (Liesa), Gabriel David, posou ao lado de diretores da Grande Rio em fotos nas redes sociais, e Tarcísio Zanon, carnavalesco da Viradouro, atual campeã do RJ, também foi ao evento.

Eles estavam a trabalho. Há mais de duas décadas as escolas de samba fazem referências e, principalmente, levam artesãos parintinenses para "dar vida" às alegorias carnavalescas do Sudeste.

A imagem mostra uma apresentação com alegorias de vários metros de altura representando figuras mitológicas verdes, com braços levantados e adornos de plantas. Há várias pessoas fantasiadas em trajes coloridos, principalmente em tons de azul e verde, dançando em frente às alegorias. O cenário é iluminado por luzes brilhantes, destacando as cores vibrantes das fantasias e das alegorias.
Boi Caprichoso se apresenta no Festival Folclórico de Parintins; grupo foi campeão pelo terceiro ano consecutivo - Bruno Kelly - 29.jun.2024/Reuters

Os desfiles do Carnaval acontecem em uma avenida; as apresentações de Parintins, em uma arena. Como andam menos para a frente, os espetáculos de Parintins apostam em um leque mais variado de movimentos e dinâmicas cenográficas.

"Eles dão movimentos a esculturas articuladas, dentro do que os próprios parintinenses chamam de 'robótica cabocla'" diz Zanon, da Viradouro. "São cabos de aço e elásticos tensionados que permitem às estruturas alegóricas dar vida aos elementos. Uma tecnologia criada em Parintins que contribui muito para o desfile das escolas de samba."

Os trabalhadores de Parintins "elevam a qualidade dos desfiles", segundo Alexandre Furtado, presidente da paulistana Império de Casa Verde. "Adotamos desde 2005 a participação desses profissionais, cada vez mais intensa nas definições dos projetos alegóricos", conta.

Especialistas citam 1998 como o ano em que foi construída a maior ponte entre as duas festas, que antes faziam trocas culturais tímidas.

Naquele ano, o Salgueiro levou para avenida o enredo "Parintins, a ilha do boi-bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X Garantido", com artistas parintinenses participando diretamente das criações.

Desde então, dirigentes do Carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro contratam os artistas do Norte por um diferencial que o Sudeste ainda não consegue replicar, segundo Aydano André Motta, jornalista e biógrafo de escolas de samba.

Ele avalia, contudo, que nas agremiações há uma segregação entre o trabalho mecânico, desempenhado pelos artistas do Norte, e o criativo, concentrado nos criadores das próprias escolas.

"As escolas de samba não se preocupam em aprender as técnicas deles, não investem em formação e têm que contratá-los o tempo todo. Não há trocas de tecnologias. É uma contratação como serviço", diz. "O artista de Parintins é subaproveitado nos carnavais do Sudeste, diante do que é feito no Norte. É mais um no barracão, mesmo tendo estudado muito mais", critica.

A imagem mostra um desfile de carnaval com uma alegoria colorida representando uma serpente gigante e outras criaturas fantásticas. Um participante está vestido com trajes tribais, segurando um bastão, e está posicionado em frente à alegoria. Ao fundo, há uma grande estrutura decorada com elementos coloridos e texturizados, incluindo um escudo com símbolos. O céu está azul com algumas nuvens, e há uma grande multidão de espectadores nas arquibancadas.
Comissão de frente do desfile de 2024 da Unidos do Viradouro, atual campeã do Carnaval do Rio de Janeiro - Alexandre Vidal/Rio Carnaval

Eli Pereira Natividade, 41, é artista plástico do Boi Caprichoso, em Parintins, e da Império de Casa Verde, em São Paulo. Ele faz parte do grupo de trabalhadores que atravessa o país sazonalmente desde os anos 1990 por causa das duas festas.

"Saindo daqui de Parintins a gente vai para São Paulo fazer Carnaval. De lá, já voltamos para fazer Parintins. É a trajetória do ano todo", conta.

"É inexplicável o que a gente faz aqui [Parintins]. Essa parte do movimento das alegorias é o que dá vida para as escolas de samba."

O Boi Caprichoso venceu na última segunda-feira (1°), pelo terceiro ano consecutivo, o Festival de Parintins. É a 26ª vitória do boi azul no festival, contra 32 do rival Garantido.

A imagem é dividida em duas partes, cada uma mostrando um homem de boné tirando uma selfie em frente a carros alegóricos. À esquerda, o homem está em um ambiente interno com um carro alegórico verde e amarelo com uma figura grande e verde ao fundo. À direita, o homem está ao ar livre com um carro alegórico colorido, incluindo elementos em azul, preto e vermelho, ao fundo.
Eli Natividade, 41, artista plástico do Boi Caprichoso, em Parintins, e da escola Império de Casa Verde, em São Paulo - Acervo pessoal
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