Descrição de chapéu acidente aéreo

Avião que caiu em Vinhedo teve colisão de cauda e ficou em manutenção antes de acidente

Especialistas dizem que problemas são comuns, e que não é possível estabelecer ligação entre as falhas e a queda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O avião que caiu em Vinhedo (SP) na última sexta-feira (9), deixando 62 mortos, apresentou ao menos duas falhas importantes e ficou alguns períodos sem voar para manutenção nos meses que antecederam a tragédia. Especialistas ouvidos pela Folha dizem, no entanto, que eventos assim são frequentes na aviação e podem não ter qualquer relação com o acidente.

Em 11 de março, o modelo ATR 72-500 da Voepass apresentou mau funcionamento do sistema hidráulico. Na aviação, esse tipo de sistema é utilizado para transmitir força para acionamento de componentes, como freios, mas não é o único recurso utilizado para este fim.

O registro do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) mostra que após decolar no Aeroporto dos Guararapes, em Recife (PE), com destino a Salvador (BA), já durante a fase de voo de cruzeiro, o painel de controle apresentou uma "mensagem de baixo nível de óleo hidráulico". A tripulação fez os "procedimentos previstos em manual" para tratar o problema, diz o histórico do incidente.

A imagem mostra uma vista aérea de uma área residencial com várias casas, algumas com piscinas. Há uma grande quantidade de pessoas reunidas em um espaço central, possivelmente em um evento ou situação de emergência. Veículos estão estacionados ao redor, e há uma mistura de tendas e estruturas temporárias visíveis no chão.
Os destroços do avião no condomínio em Vinhedo, no interior paulista - Bruno Santos - 10.ago.24/Folhapress

No mesmo voo, ao pousar em Salvador, a aeronave teve um "contato anormal" com a pista. O relatório não entra em detalhes sobre como foi esse contato anormal nem se houve danos à aeronave. Passageiros e tripulantes não se feriram. A ocorrência foi registrada às 21h04 daquele dia.

As informações estão no sistema online do Cenipa e também no site da ASN (Aviation Safety Network), um rede internacional dedicada à segurança da aviação que registra ocorrências envolvendo voos.

Pessoas que trabalham no setor aeronáutico disseram à Folha que, na ocasião, houve um toque da cauda no solo e que o avião chegou a sair da pista.

O que é possível afirmar oficialmente é que no único acidente envolvendo um ATR 72-500 em março de 2024 na rota de Recife a Salvador, o avião sofreu danos leves, segundo Painel Sipaer, que é o sistema do Cenipa para registro de ocorrências aeronáuticas. O painel também reporta as mesmas falhas no sistema hidráulico e contato anormal com a pista.

Reportagem do Fantástico, da TV Globo, afirmou ao revelar as ocorrências neste domingo (11) que a aeronave permaneceu na capital baiana por 17 dias e, em 28 de março, foi levada ao centro de manutenção da Voepass em Ribeirão Preto, no interior paulista.

Procurada, a empresa disse que após o reparo da aeronave, ela foi autorizada a retornar a voar.

Dados do site FlightAware e outros que compilam dados de fontes abertas sobre voos mostram que a aeronave voltou a voar em 9 de julho e permaneceu operando.

Especialistas dizem que não é possível estabelecer relação entre as falhas e o acidente.

Roberto Peterka, piloto aposentado da Força Aérea Brasileira e perito em investigações sobre acidentes aéreos, explica que um problema com óleo hidráulico não afeta componentes relacionados à principal hipótese para as causas do acidente da Voepass.

Informações meteorológicas do momento da tragédia e um acidente semelhante ocorrido há três décadas nos Estados Unidos levantam suspeitas sobre a formação de gelo nas asas da aeronave. "Não vejo o hidráulico entrando nisso", diz Peterka sobre o sistema antigelo.

Rafael Bessa, que foi piloto de ATR no Brasil há até cerca de um ano e meio e hoje trabalha no exterior, diz que o sistema antigelo do avião é pneumático. O bordo de ataque –parte frontal da asa– tem um sistema que utiliza o ar residual que passa pelos motores para inflar. Esse sistema quebra o gelo acumulado na asa.

As pontas das asas também contam com um sistema de aquecimento, que também utiliza ar. Não há confirmação, até o momento, de que esses equipamentos antigelo tenham falhado.

Bessa também destaca que o ATR 72-500 é um avião preparado para voar na faixa dos 20 mil pés (cerca de 6.000 metros), onde há formação de nuvens e umidade, tornando o ambiente suscetível à formação de gelo.

O piloto também diz que é difícil estabelecer relação entre um suposto dano estrutural na cauda do avião com o acidente. "Se ao menos o avião tivesse caído sem a cauda, mas ele estava íntegro, apesar da pressão estrutural provavelmente gigantesca que sofreu ao cair daquela maneira", diz Bessa.

Imagens registradas por moradores de Vinhedo mostram o avião despencando verticalmente, quase sem aceleração horizontal, e girando no próprio eixo. O movimento é conhecido como parafuso chato e indica a perda de sustentação da aeronave.

Bessa também afirma que colisões de cauda são relativamente frequentes e que, após manutenção, os aviões voltam a ser operacionais. "Reparos são feitos em centros de manutenção homologados, pois é um negócio muito sério."

O Cenipa concluiu nesta segunda (12) a primeira etapa da investigação em campo e manteve a previsão de divulgar em 30 dias o relatório preliminar do caso. Isso não significa que uma resposta definitiva será apresentada neste prazo.

O órgão extraiu 100% dos dados das caixas-pretas da aeronave. Com os primeiras registros, o Cenipa confirmou a ausência de comunicação entre o piloto e a torre de controle. Caberá à investigação descobrir o motivo.

Existem dois gravadores de voo. São as caixas-pretas. Eles têm diferentes funções. O primeiro, identificado pela sigla em inglês CVR (Cockpit Voice Recorder), registra o que foi conversado na cabine. O outro, o FDR (Flight Data Recorder), anota dados do voo, como altitude, meteorologia e velocidade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.