Descrição de chapéu Caso Marielle

Assessor de Moraes vê amadorismo em plano de assassinato de Marielle

Desembargador Airton Vieira questiona Élcio Queiroz sobre falta de planejamento claro para morte de vereadora após seis meses de monitoramento

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Rio de Janeiro

O desembargador Airton Vieira, assessor do ministro Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta segunda-feira (2) ver amadorismo na forma com que a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) foi executada.

O magistrado disse não compreender como um crime, orquestrado por cerca de seis meses segundo as investigações, foi concretizado sem definição anterior sobre quem dirigiria o carro, o local exato dos disparos e outras variáveis sem planejamento.

Os ex-PMs Ronnie Lessa (esq) e Élcio Queiroz (dir.), réus confessos pela morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, prestam depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal - Reprodução

As considerações foram feitas durante o depoimento no STF do ex-PM Élcio Queiroz, que confessou ter dirigido o carro para que o ex-PM Ronnie Lessa realizasse os disparos. Vieira é o magistrado responsável pela condução das audiências de testemunhas na ação penal contra os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, cujo relator é Moraes.

"Esse amadorismo que deu certo, entre aspas, contraria tudo o que eu ouvi até agora em relação a ser ele [Lessa] alguém meticuloso, cuidadoso, etc etc etc", afirmou o magistrado.

Élcio respondeu que "foi, pode-se dizer, um amadorismo, mas que deu certo". "Eu fui preso após um ano", disse o ex-PM, preso em março de 2019.

Os irmãos Brazão foram apontados como os mandantes do crime por Lessa, que firmou delação premiada. Os dois foram presos em março deste ano, quase seis anos após o homicídio. Ambos negam o crime.

Lessa afirmou que os dois encomendaram a morte da vereadora em meados de setembro de 2017. O homicídio ocorreu em 14 de março de 2018. O delator relata diversas tentativas frustradas, campanas e pesquisas infrutíferas no período.

No dia do crime, segundo os dois colaboradores, Lessa ligou para Élcio pedindo para que dirigisse um carro, sem informar o objetivo. Élcio afirma que só se deu conta de que participaria de uma emboscada quando viu o Cobalt. Ele disse que já havia observado o veículo com Lessa e sabia que o automóvel seria usado num homicídio.

O magistrado ressaltou, durante os questionamentos a Élcio, o fato de que o crime poderia não ter ocorrido naquele dia se o delator não estivesse disponível. Também disse estranhar Lessa não ter se preocupado em definir o local exato dos disparos, sem se interessar se havia ou não câmeras na área de execução.

"A impressão que eu tive é que, para quem já estava com essa empreitada em vias de [ser executada] há muito tempo —isso se arrastava há alguns meses—, os últimos momentos foram um tanto amadorísticos. 'Ah, estou com vontade de pegá-la aqui mesmo'. 'Ah, não. Aqui tem muita gente'. Para quem estava ruminando, em bom português, essa história toda há algum tempo...", disse o magistrado.

"E por que tinha que ser aquele dia? A qualquer preço? [...] Se não fosse naquele dia, poderia ser em algum outro dia. Uma semana a mais, uma semana a menos. Dias a mais, dias a menos, para quem estava há meses [planejando]. Segundo quem, segundo consta, já tinha tido o alvo X, depois o alvo acabou sendo o Y", afirmou o magistrado.

Élcio foi a testemunha de acusação para quem Vieira fez mais questionamentos. O magistrado fez poucas intervenções após os questionamentos da acusação e da defesa. Essas perguntas, por exemplo, não foram feitas a Lessa.

O depoimento de Élcio encerrou os 16 dias de depoimentos das testemunhas de acusação. Na próxima segunda-feira (9) está previsto o início das oitivas das testemunhas de defesa. Os cinco réus indicaram mais de 70 nomes para serem ouvidos, o que deve durar todo o mês de setembro.

Após as oitivas, acusação e defesa podem solicitar nova diligências antes que o caso vá a julgamento.

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