Descrição de chapéu polícia civil BETs no Brasil

Polícia aponta uso do jogo do bicho para lavagem de dinheiro pela Esportes da Sorte

OUTRO LADO: empresa diz que houve 'interpretação precipitada e equivocada dos fatos apurados'

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Recife

Relatório da Polícia Civil de Pernambuco aponta que a apreensão de R$ 180 mil em espécie em uma banca de jogo do bicho na zona oeste do Recife, em dezembro de 2022, foi o ponto de partida da investigação que culminou com a operação deflagrada na quarta (4) que mira uma suposta organização criminosa voltada à prática de jogos ilegais e lavagem de dinheiro. A operação Integration também culminou na prisão da advogada e influenciadora Deolane Bezerra.

A banca Caminho da Sorte, onde ocorreu a apreensão, fica no bairro de Afogados e pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do dono da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho. Ambos foram alvos de mandados de prisão, e o filho se entregou à polícia.

Darwin da Silva Filho, CEO da Esportes da Sorte
Darwin da Silva Filho, CEO da Esportes da Sorte - Reprodução/TV Globo

A polícia também encontrou um caderno com o nome de uma pessoa chamada Rayssa com anotações diárias das apostas e dos prêmios pagos do jogo do bicho e dos jogos de futebol, estes pela Esportes da Sorte.

Também foram apreendidos, segundo o relatório, "canhotos de aposta com o timbre da banca Caminho da Sorte e Esportes da Sorte, contabilidade de algumas lojas físicas da Esportes da Sorte", o que, segundo o documento, demonstra "a relação umbilical entre as duas modalidades tipificadas como contravenção penal (jogo do bicho e jogo de azar), representando as infrações penais antecedentes da lavagem de capitais".

A polícia diz que a soma das anotações dos valores de apostas nos cadernos, entre 1º de janeiro e 30 de novembro de 2022, chega a R$ 11,5 milhões na banca de apostas.

"Em todas as bancas de bicho da Caminho da Sorte pode-se apostar na Esportes da Sorte, o que é vedado por lei", diz o relatório. O delegado Paulo Gondim ainda frisa que a regulamentação das apostas esportivas não legalizou esse tipo de atividade.

Em nota, a Esportes da Sorte disse que tem prestado esclarecimentos no inquérito desde março de 2023 e que há "interpretação precipitada e equivocada dos fatos".

"A operação policial será impugnada perante o juízo competente, demonstrando-se que houve interpretação precipitada e equivocada dos fatos apurados, sem qualquer análise ou consideração dos argumentos já apresentados. Tanto é assim que a autoridade policial não apreendeu qualquer objeto, documento ou equipamento na sede da empresa", diz a nota.

A suspeita dos investigadores é que a Esportes da Sorte tenha lavado dinheiro oriundo do jogo do bicho. A Polícia Civil se baseou em relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que apontam indícios de movimentações financeiras suspeitas pela empresa.

Os investigadores também apontam que colheram, no site da Esportes da Sorte, a informação de que a empresa é um site operado pelo HSF Gaming N.V, registrado em Curaçao, no Caribe.

"Tal situação é uma burla contra a legislação brasileira, pois o site de apostas afirma que é hospedado em Curaçao, ilha caribenha próxima à Venezuela, pertencente à Holanda, um paraíso fiscal, mas que na verdade a Esportes da Sorte é de Recife, os clientes podem apostar em toda loja física da banca de bicho Caminho da Sorte e o CTO e criador da HSF Gaming N.V, nasceu na capital pernambucana e aqui reside", diz.

A investigação ainda diz que Darwin Henrique da Silva levou a Fortaleza um novo modelo de jogo do bicho informatizado que aumenta a premiação dos apostadores.

A polícia também apontou o uso de depósitos fragmentados em contas de intermediários como "outro instrumento de transferência de recurso em espécie, inclusive boleto de pagamento, de forma a dissimular o valor total da movimentação". Esse tipo de ação pode, segundo os investigadores, "caracterizar o comportamento do cliente de ocultar a real origem dos recursos".

Além dos integrantes do núcleo familiar e empresarial da Esportes da Sorte, a operação mirou influenciadores que eram contratados pela empresa, como Deolane Bezerra.

"Há indícios mais do que suficientes que o dinheiro oriundo do jogo do bicho (Caminho da Sorte) e jogos de azar e esportivo e cassino (plataforma Esportes da Sorte) esteja sendo lavado nos diversos patrocínios que a plataforma celebrou contrato, ultrapassando a casa das dezenas de milhões de reais, bem como em imóveis e carros de luxo e outras empresas de propriedade dos investigados e pessoas físicas próximas a eles", diz a Polícia Civil de Pernambuco.

Como mostrou a Folha, um Lamborghini Urus, carro de luxo ostentado por Deolane, foi o pivô para a sua prisão.

Antes de se entregar à polícia, Darwin Filho divulgou uma carta aberta. "Nossa atividade é lícita, já as organizações criminosas são difíceis de combater e acredito que isso deve ser separado. A minha atitude sempre foi defender a lei. Também sempre pautei nossa atuação em favor das boas práticas, do jogo responsável e o defendo como forma de entretenimento", diz em um trecho.

O advogado de Darwin Filho diz que vem contestando as alegações da polícia durante as investigações e que a Esportes da Sorte não tem relação com a empresa do pai do executivo.

"As alegações são pelo fato de Darwin Filho ter uma vinculação familiar com o pai que teria ligação com o jogo do bicho, e eles confundem essa relação. As estruturas são completamente distintas", afirma Ademar Rigueira, que entrou com pedido de habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça de Pernambuco.

O advogado de Darwin Henrique da Silva, Pedro Avelino, afirmou que ele não irá se entregar às autoridades. "Estamos analisando o decreto de prisão preventiva para entrar com uma medida para anular essa prisão, ele não vai se entregar", disse na quinta-feira (5).

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