Estudantes da USP aprovam greve após anúncio de restrição a estágios
Alunos da faculdade de direito da USP, no largo São Francisco, decidiram, em duas assembleias nesta quarta (16) por uma paralisação a partir do próximo dia 30. Os estudantes são contra uma diretriz do novo projeto pedagógico da faculdade, que restringe estágios para alunos dos três anos iniciais do curso.
Na quinta (10), os professores e representantes dos alunos aprovaram, em votação, as 25 diretrizes propostas para a reforma do projeto pedagógico.
A diretriz que ocasionou o protesto estudantil delega à faculdade a responsabilidade de criar, do primeiro ao sexto semestre do curso, atividades complementares como alternativa a "estágios prematuros", de acordo com o texto da proposta. Tais estágios são considerados pelo corpo discente como prejudiciais à formação dos estudantes nos anos iniciais.
Ainda segundo o documento, contratos de estágio durante os três primeiros anos do curso só podem ser assinados se comprovada a necessidade financeira do estudante. No entanto, o texto não é final; esta é uma das diretrizes aprovadas para o projeto pedagógico, que ainda será elaborado ao longo do ano e será submetido à deliberação quando finalizado.
CONTRAPARTIDA
Os estudantes, por sua vez, avaliam que a faculdade não oferece, hoje, muitas opções de bolsas para os alunos que precisam trabalhar. "Faltam muitas iniciativas de permanência estudantil. Os professores querem criar uma espécie de ensino integral, mas nós queremos investimento em pesquisa e extensão, não só aulas", diz Beatriz Rodrigues Gonzaga, 20, representante do centro acadêmico e aluna do terceiro semestre.
"A gente precisa trabalhar, ainda mais agora, os estudantes que vêm pelo Enem, pelo Sisu [Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, que oferece vagas em instituições de ensino público superior para participantes do Enem]", afirma Beatriz. Para a estudante, o estágio é importante para a prática jurídica, que a faculdade não oferece. "As pessoas deveriam ter a possibilidade de escolher."
Somadas, as duas votações –uma na manhã e outra na noite desta quarta– tiveram 57% de votos favoráveis à paralisação.
ESPANTO
Para a professora Maria Paula Dallari Bucci, integrante da subcomissão que criou as diretrizes para o novo projeto pedagógico, a notícia da greve é motivo de "espanto". "Não consigo entender. Os alunos são um corpo importante da mudança, nós contamos com eles. Eles não podem ser os conservadores."
Ela reafirma o compromisso de oferecer bolsas e de liberar para estágio os alunos com necessidades financeiras. "Ninguém quer proibir o estágio para deixar o aluno ocioso. Queremos permitir que o aluno passe mais tempo estudando, como já fazem na USP Ribeirão Preto, na FGV e no Mackenzie", diz Dallari.
A ideia, segundo a professora, é aproveitar as atividades de extensão e pesquisa, como iniciação científica, justamente os pontos que o centro acadêmico critica. Dallari diz que não quer que o aluno "vá para um escritório fazer atividades que não acrescentem muita coisa para sua formação".
Em esclarecimento divulgado na terça (15), a subcomissão que elaborou as diretrizes afirma que entre as pessoas que participaram da criação do texto estão representantes dos alunos. O novo projeto pedagógico tem como previsão de início de vigência em 2017, quando a faculdade completa 190 anos.
1930/Divulgação/Arquivo Ascom FD-USP | ||
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Prédio da Faculdade de Direito da USP, no final dos anos 1930 |
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