Descrição de chapéu Educação a distância

Preparo de docentes para a EaD é fundamental, mas ainda exceção

Treinamento costuma ser feito pelas próprias instituições que oferecem cursos online

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Fellipe Bernardino
São Paulo

A popularização da educação a distância gerou uma demanda que está longe de ser atendida no Brasil: a capacitação de professores e tutores para essa nova forma de ensino.

"Embora a EaD seja a única modalidade que tem crescido no Brasil nos últimos dois anos, não vejo o investimento no tutor e no professor na mesma proporção", diz Josiane Tolenotto, superintendente acadêmica do Centro Universitário Belas Artes.

Como não há exigência de formação específica para EaD, o preparo desses profissionais costuma ser feito pelas próprias instituições que oferecem os cursos online —quando há algum preparo.

A questão é que nem todos os alunos têm experiência com práticas de estudo autônomas. Além disso, a conversa natural em sala de aula fica diferente se mediada por um computador, celular ou tablet. 

É preciso que esses profissionais desenvolvam novas habilidades para compensar a falta de interação presencial.

Foi o que a professora Liliane Campos sentiu quando precisou dar aulas a distância pela Universidade Estadual de Montes Claros, em Minas Gerais. "Presencialmente, o educador está diante do aluno: gesticula, escreve, fala. A distância, na maioria das vezes, o aluno estuda sozinho."

Ela fez especialização na Universidade de Brasília e dirige hoje a faculdade de educação da instituição.

"Existe uma demanda reprimida por esse tipo de preparo", afirma o professor Gilberto Oliai, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que estuda o papel das tecnologias na comunicação entre docentes e alunos. 

Ele defende neste mês tese de doutorado sobre o uso de dispositivos móveis nas universidades estaduais paulistas —USP, Unicamp e Unesp— e traz um capítulo sobre a preparação docente. Para ele, o ideal é que o professor aprenda a fazer uso das tecnologias na prática, durante as atividades de ensino.

Campos destaca outro ponto importante para o sucesso do curso online: a divisão adequada de tarefas entre docentes e tutores. Isso porque os tutores, em algumas instituições, são usados para reduzir custos de trabalho. 

Em geral, esse profissional é menos capacitado e fica responsável por intermediar a relação entre estudantes e professores. Ele tira dúvidas, cobra prazos, corrige avaliações e observa a assiduidade dos alunos, entre outras funções.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) dá especial atenção ao preparo dos seus tutores. "Além de tirar dúvidas, eles têm um papel que é de provocação, de problematização e de motivação daqueles alunos", diz Mary Murashima, diretora do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE) da FGV.

O tutor Carlos Buzetto, também da FGV, conta que nos cursos de formação da instituição, os profissionais passam pela experiência do aluno. "É importante saber se você tem aptidão, se aguenta pressão, obedece prazos". 

Os docentes passam por um laboratório de conhecimentos práticos, no qual estudam as ferramentas de trabalho.

Na falta de capacitação específica, Tolenotti sugere que o professor procure cursos livres, de plataformas como Udemy, para compor sua própria formação.

"São conteúdos genéricos, que abordam temas como storyline, roteiro e captação de vídeo, por exemplo", diz. 

Para quem domina a língua inglesa, há programas de instituições internacionais, como as americanas Harvard e Massachusetts Institute of Technology (MIT), muitos deles gratuitos.

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