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TikTok é fundamental para entender e engajar jovens

Apesar do sucesso, uso do aplicativo a favor da aprendizagem ainda é um desafio

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Mariana Mandelli

Coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

São Paulo

Se você tem mais de 30 anos, provavelmente não usa e sequer fez o download do TikTok no seu celular, mas é bastante provável que já tenha se deparado, na timeline do Twitter ou do Instagram, com vídeos de coreografias e dublagens engraçadas produzidos no aplicativo.

Ou talvez tenha visto, nos últimos dias, uma notícia curiosa sobre o comício do presidente norte-americano Donald Trump na cidade de Tulsa, Oklahoma. Um grande público era esperado para o evento, mas sobraram muitos lugares vazios.

Segundo o jornal New York Times, uma ação de fãs de K-pop, estilo musical sul-coreano de sucesso entre os jovens, e usuários do TikTok pode ser o motivo do esvaziamento. Eles teriam utilizado a rede para incentivar as pessoas a registrarem interesse sem a intenção de comparecer ao ato público, boicotando-o.

Seja pelo seu poder de entretenimento, ainda mais em tempos de quarentena com a suspensão de eventos culturais presenciais, ou pela sua suposta capacidade de mobilização, como se viu no episódio da campanha de Trump, a realidade é que o TikTok se tornou um fenômeno do mundo conectado.

Em linhas bem gerais, o TikTok é um aplicativo dedicado à criação e compartilhamento de vídeos de curtíssima duração – entre 15 e 60 segundos. Para isso, o usuário tem, à sua disposição, um cardápio de ferramentas de efeitos e sons para incrementar a produção.

Criado originalmente em 2016 sob outro nome, é comandado hoje pela chinesa ByteDance e no ano passado conquistou o quarto lugar entre as maiores redes sociais do mundo, com 1,5 bilhão de usuários mensais, segundo levantamento da empresa de tecnologia Infobase Interativa. O mesmo estudo mostra que 41% do público da plataforma tem entre 16 e 24 anos.

À primeira vista, o aplicativo pode não parecer tão diferente do Snapchat e da função Stories do Instagram, mas basta navegar por alguns minutos para entender como a experiência no TikTok é mais diluída e plural, já que é possível assistir aos vídeos mesmo sem seguir nenhum amigo ou influenciador. Isto porque a plataforma prioriza a distribuição de conteúdo por meio de uma área chamada “para você”, uma espécie de feed onde é encontrada uma infinidade de microvídeos de acordo com os seus interesses, entregues pelo algoritmo.

Além disso, grande parte da lógica das interações no TikTok se dá por hashtags, que servem para lançar desafios (os chamados “challenges”) e conectar usuários por meio dessas brincadeiras – algo como o Ice Bucket Challenge (ou “desafio do balde de gelo”), que viralizou em 2014 pela conscientização em prol da esclerose lateral amiotrófica (ELA). No TikTok, no entanto, as brincadeiras geralmente não estão relacionadas a uma causa nobre.

Apesar do sucesso inegável do viés recreativo, aparentemente a plataforma pretende se aventurar em novos territórios. Na última semana, foi noticiado que o aplicativo deve abrir espaço para vídeos com foco educativo, resultado da hashtag #LearnOnTikTok, que se popularizou nos últimos meses. A ideia é que educadores e instituições de ensino se engajem na produção de conteúdo que traga informação e conhecimento para a audiência.

Alguns professores já têm perfil na rede, publicando dicas sobre vestibular e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e micropílulas com dicas de aprendizagem, como é o caso do professor de matemática Sandro Curió, que já acumula mais de 270 mil seguidores no TikTok – no YouTube, seu canal conta com cerca de 130 mil inscritos.

Contudo, como quase tudo é levado na brincadeira ali, pode ser que transpor a barreira dos esquetes de humor para construir conteúdos menos efêmeros e com intencionalidade pedagógica seja um desafio, ainda que estejamos em tempos de educação online.

De qualquer modo, o fenômeno não deve ser ignorado por famílias e educadores. Como a plataforma é usada majoritariamente por adolescentes e jovens, questões sobre superexposição, cyberbullying, privacidade e segurança digital precisam ser reforçadas com esse público de maneira ainda mais rigorosa do que em outras redes, uma vez que o dinamismo e a agilidade do TikTok talvez sejam dois dos seus grandes trunfos.

Na ânsia para participar, ver e ser visto, cuidados precisam ser tomados. O mito de que a geração Z é formada por nativos digitais precisa ser desconstruído com urgência. Saber editar e publicar microvídeos criativos não significa consciência dos efeitos e consequências que o compartilhamento desses materiais pode ter. Afinal, se fosse essa a realidade, não teríamos tantos desafios no que tange à desinformação e à implementação da educação midiática como uma demanda básica para a construção de uma sociedade mais responsável e crítica.

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