Antenada em temas pop, Fuvest faz 1ª fase com uso de máscara e sem medir febre de inscritos; veja gabaritos

Aplicativo TikTok, Among Us e a pandemia de gripe espanhola apareceram entre as 90 questões do exame deste domingo (10)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Fuvest realizou, na tarde deste domingo (10), a primeira fase de seu vestibular cercada de incertezas se o nível de segurança empregado seria capaz de proteger os participantes do coronavírus.

Além da caneta esferográfica azul, a máscara foi outro item obrigatório, e quem se recusasse a usá-la ao longo das cinco horas de prova seria desclassificado.

"Em relação às medidas de biossegurança adotadas para a realização do vestibular, houve adesão dos candidatos e nenhuma ocorrência significativa", informou a organizadora da prova.

Os gabaritos oficiais já estão disponíveis para consulta.

Antenada em novos comportamentos, a prova cobrou temas sobre o aplicativo TikTok, um meme do jogo Among Us e não se esqueceu da pandemia.

Amparada em dados, uma questão abordou os efeitos da gripe espanhola, que se mostrou mais devastadora em bairros periféricos, com maior densidade demográfica e predomínio de cortiços em São Paulo no século 20.

Abordagens sobre a desigualdade de gênero, o racismo e a associação entre o fascismo e a atuação de milícias no Brasil também apareceram. "Foi uma prova clássica, clara e que exigiu domínio de conceitos", disse Vera Antunes, coordenadora do curso e colégio Objetivo.

Os portões dos 148 locais de prova espalhados por 35 cidades paulistas foram fechados pontualmente às 13h —horário que marcou o início da prova.

Na capital paulista choveu forte logo após o fechamento dos portões, o que não prejudicou o deslocamento dos candidatos que conseguiram chegar a tempo nos endereços do exame.

A Fuvest representa o fim de um duro percurso para a estudante Maria Eduarda da Silva, 17. Aluna da rede pública paulista, diz ter sentido na pele o que foi estudar a distância. "Foram dias de desânimo e sem perspectiva. Mas hoje começou outra batalha", diz ela, que busca uma vaga em psicologia.

O vestibular da Fuvest seleciona 8.242 vagas em 183 cursos da USP (Universidade de São Paulo), a instituição do país mais bem avaliada em rankings internacionais.

Outras 2.905 cadeiras da graduação estão reservadas ao Sisu, sistema do governo federal que preenche vagas nas universidades a partir das notas do Enem.

Eram esperados 130.678 participantes (inclui treineiros) nesta primeira fase do exame, que contou com 90 questões objetivas baseadas no conteúdo programático do ensino médio.

Mas 17.210 pessoas inscritas não compareceram, um índice de abstenção de 13,2%, bem maior do que o registrado em 2020, de 7,9%.

A Folha acompanhou a movimentação dos vestibulandos na entrada do prédio D do campus Memorial da Uninove (Barra Funda), na zona oeste da capital paulista.

O local, com 3.512 inscritos, é o que concentrou o maior número de participantes e, por isso, preocupava a organização por causa de possíveis aglomerações.

A reportagem presenciou os fiscais de prova, a todo momento, pedindo aos inscritos que não ficassem com a máscara no queixo.

A presença dos fiscais também inibiu a formação de “rodinhas de conversas” entre os participantes antes do exame.

Os cursinhos pré-vestibulares optaram por só distribuir seus kits na entrada do campus da Uninove a partir das 16h, horário em que os estudantes poderiam deixar as salas.

O único problema observado pela reportagem no local foi a dificuldade que muitos candidatos tiveram em localizar as salas onde fariam a prova.

Dois prédios da Uninove, separados apenas pela praça do Terminal da Barra Funda, sediaram o exame neste domingo e muita gente se perdeu entre eles.

O taxista Marcos Gomes dos Santos, 44, viveu um sufoco com a filha Ana Júlia, 17, que esqueceu os documentos pessoais faltando poucos minutos para o fechamento dos portões.

A menina mora na Brasilândia, na zona norte da capital paulista, e não sabia se havia deixado o documento em casa ou no carro do pai.

”Eu fiquei muito desesperado porque é a chance que ela tem de entrar na universidade. Fiz uma varredura louca no meu carro e achei o RG dela”, disse Santos, emocionado, à Folha.

No último minuto para o fechamento dos portões, o taxista entregou o RG à filha, e Ana Júlia conseguiu entrar na sala de prova.

SEM MEDIÇÃO DE TEMPERATURA

Com máscaras no rosto e garrafas de água mineral nas mãos, a maioria dos candidatos seguiram a recomendação da Fuvest: localizar e permanecer na sala até o início da prova.

O que chamou a atenção foi a ausência da medição de temperatura dos participantes. A febre é um dos sintomas recorrentes da Covid-19.

Questionada, a Fuvest informou que o procedimento causaria o que não se quer num vestibular de grandes dimensões: aglomeração.

A fundação também se amparou em estudos epidemiológicos e disse que a maioria dos inscritos deste ano são jovens —este grupo, diz a Fuvest, tem se mostrado mais assintomático para a Covid-19.

“Dentre os sintomáticos, apenas uma pequena parcela desenvolve febre [temperatura acima de 37,8º C] como sintoma. Dessa forma, o screening [triagem] perde eficiência”, segundo nota da fundação.

A Fuvest também disse que as pessoas com Covid-19 e febris costumam apresentar grande prostração. Este fato também fez a fundação crer que a maioria dos candidatos nestas condições não estiveram na primeira fase de provas neste domingo.

A regra máxima nesta edição da Fuvest foi: não deve fazer a prova quem esteja com Covid-19 desde o dia 1º ou teve contato com pessoas contaminadas. A mesma recomendação recaiu sobre pessoas com sintomas da doença.

Como não é possível impedir a participação de candidatos com Covid-19, a Fuvest investiu em prevenção para inibir novas contaminações durante a prova.

Criou o que ficou conhecido como “salas anticontaminação”, com lotação máxima permitida de até 40% de candidatos posicionados a 1,5 metro de distância uns dos outros.

Com lugares demarcados, os candidatos encontraram um sachê embebido de álcool 70% para higienizar os assentos antes do início da prova.

Júlia Amado, 18, que disputa uma vaga no curso de psicologia, disse que queria ter ficado um pouco mais distante dos demais concorrentes em sua sala que, segundo ela, tinha 20 pessoas.

“Mas, no geral, eu me senti segura. Tinha álcool em gel e os aplicadores da prova usavam máscara e face shield”, afirmou.

Fernando Rodrigues, 42, professor de história do cursinho da Poli, disse que passou apuros na sala onde fez a prova como treineiro. "Estava muito abafada e com pouca circulação de ar”.

Aparelhos de ar-condicionado foram proibidos durante o vestibular.

O professor também notou que as fileiras de carteiras da sala estavam mais próximas do que o 1,5 metro estipulado pela Fuvest e, por isso, “era possível até ver a resposta marcada pelo colega ao lado dele”.

“Esse foi um ponto negativo da minha sala”, diz. Rodrigues esteve na sala 15, prédio do Biênio, da Escola Politécnica da USP.

Para a Fuvest, o uso obrigatório de máscara –que cobre o rosto e a boca– para aplicadores da prova e inscritos e o fornecimento de álcool em gel ajudaram a garantir as regras sanitárias dos tempos pandêmicos.

RESPONSABILIDADE SOBRE NOVAS CONTAMINAÇÕES

O arcabouço de medidas contra a Covid-19 integra o plano de biossegurança do exame que, segundo a organizadora do vestibular da USP, foi aprovado pelo Centro de Contingência da Pandemia, do governo Doria (PSDB).

Matheus Torsani, médico assistente da Fuvest e o responsável pela estruturação do plano, disse que a qualidade das regras sanitárias desta edição do vestibular fizeram o governo paulista dar aval à realização do vestibular em qualquer estágio da pandemia em São Paulo.

Cidades como Presidente Prudente, Registro, Sorocaba e Marília são sedes da prova e estão na fase laranja, a segunda mais restritiva do plano SP de Contenção da Covid-19.

A pedagoga Belmira Bueno, diretora da Fuvest, já havia dito à Folha que os possíveis casos de contaminação entre os inscritos serão monitorados, mas que a fundação não poderá ser responsabilizada "porque colocou em prática o programa de biossegurança".

E completa: a primeira fase ocorreu dez dias após o Réveillon "muito marcado por exageros e desrespeito da população às regras na pandemia".

A imprensa só obteve autorização para acompanhar e fotografar o andamento do vestibular no prédio da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária), da própria USP, no campus Butantã. Por lá, nenhum incidente foi registrado.

Os estudantes aprovados na primeira fase voltarão à segunda etapa da seleção entre os dias 21 e 22 de fevereiro. A primeira lista de aprovados será divulgada no dia 15 de março.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.