Graduação a distância supera a presencial em número de ingressantes

Pandemia acelera expansão de modelo de ensino, que atrai cada vez mais estudantes em busca de flexibilidade

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Rio de Janeiro

A pandemia acelerou o crescimento do ensino a distância, modalidade que já vinha em curva ascendente desde 2016. Dados do Censo da Educação Superior 2020, do Inep, não só confirmam a expansão, mas mostram que o número de ingressantes no EAD ultrapassou pela primeira vez o do ensino presencial.

Em 2019, havia 1,5 milhão de ingressantes, número que saltou para pouco mais de 2 milhões em 2020, alta de 26%. Ao mesmo tempo, o número de pessoas que ingressam na educação presencial recuou quase 14% no mesmo período.

Homem digita no computador
Leonardo, 28, optou pelo ensino à distância em 2021 e diz estar feliz com a escolha - (Wanezza Soares/Folhapress)

O fechamento das universidades na pandemia ajudou na expansão da modalidade, mas não é o único motivo por trás do fenômeno. É o que explica Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior.

Ele diz que, além de ser mais barato que o presencial, o EAD conquista pela flexibilidade. "O aluno pode estudar no horário mais conveniente a ele."

Não à toa, o EAD atrai pessoas entre 29 e 44 anos, aponta o Mapa do Ensino Superior, estudo do Semesp com base nos dados do censo do Inep. São pessoas que, muitas vezes, não têm tempo para aulas presenciais, por terem filhos ou precisarem trabalhar.

Capelato acrescenta que a regulamentação também ajuda a explicar o avanço da modalidade. Em 2017, o então presidente Michel Temer (MDB) assinou decreto que flexibilizou normas e facilitou a abertura de polos —estruturas físicas onde o aluno pode buscar suporte. "Antes, havia 5.000 polos no Brasil, hoje são mais de 20 mil", diz.

Para Virgilio Neves, gerente de expansão de ensino digital da Ânima Educação, os polos são essenciais para a qualidade do EAD, porque, além do suporte pedagógico, podem ser úteis para alunos com problemas de acesso à internet.

Embora apresente resultados melhores na internet fixa, a conexão móvel no Brasil está abaixo da média global e fica em 76º lugar entre 138 nações. Os dados são de um levantamento divulgado ano passado pela Speedtest Global Index, da Ookla —empresa que faz medições de internet.

"Esses espaços também ajudam quem tem casa pequena e precisa de um local para estudar. O ensino é digital, mas tem um suporte físico."

Membro do conselho científico da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Luciano Sathler diz que outro ponto importante para garantir qualidade é a mediação, isto é, a relação personalizada que professores estabelecem com os estudantes.

"É o aluno saber que está sendo acompanhado por um ser humano, não por um robô. Quanto melhor a mediação, melhor a qualidade."

Sathler pondera, porém, que a mediação exige uma infraestrutura adequada, em que profissionais sejam bem remunerados e tenham uma carga horária compatível com o número de alunos.

Com a expansão da modalidade, surgem instituições que já nascem com o foco no mundo virtual, como é o caso da Faculdade XP e da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo).

"Escolhemos o digital por uma questão de tendência", afirma Paulo de Tarso, CEO da XP Educação. "Com esse formato, podemos chegar onde não chegaríamos com o modelo tradicional", diz. "É um modelo muito mais inclusivo."

Para criar a faculdade, foram investidos R$ 100 milhões. Os cinco cursos de graduação da instituição são gratuitos, já os MBAs são pagos.

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