Descrição de chapéu Enem

Enem 2022, último sob Bolsonaro, teve 32,4% de faltosos

Dos 3,4 milhões de inscritos, 2,3 milhões fizeram a prova nos dias 13 e 20 de novembro

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Brasília

Quase um terço dos inscritos no Enem 2022, o último sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), não compareceu aos dois dias de prova. Dos 3,4 milhões de inscritos, 2,3 milhões fizeram o exame.

A taxa de abstenção em 2022 foi de 32,4% —trata-se das maiores taxas desde 2009, só sendo superada pelas aplicações em meio à pandemia. Não compareceram aos dois dias de prova 1,1 milhão de inscritos, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (21) pelo governo.

Candidatos chegam a unidade da Unip em Campinas, no interior de Sâo Paulo, para o segundo dia de provas do Enem
Candidatos chegam a unidade da Unip em Campinas, no interior de São Paulo, para o segundo dia de provas do Enem - Luciano Claudino - 20.nov.22/Código 19/Agência O Globo

O Enem 2022 ocorreu nos dias 13 e 20 de novembro. Principal porta de entrada do ensino superior, o exame viveu um processo de desidratação sob Bolsonaro, ao mesmo tempo em que o Enem foi alvo de tentativas de interferência ideológica em seu conteúdo.

Os 3,4 milhões de inscritos da edição de 2022 representaram o menor volume em 17 anos. O número foi menor até mesmo do que antes de a prova ganhar o formato atual —a partir de 2009, o exame passou a valer como processo seletivo para praticamente todas as instituições federais de ensino superior.

O ministro da Educação, Victor Godoy Veiga, minimizou a desidratação do Enem em entrevista coletiva nesta segunda. Segundo ele, o exame foi um sucesso.

"Não vejo isso como uma questão que seja decorrente da atuação do Inep [órgão que organiza o exame]", disse ele, ressaltando que o número de participantes é maior do que o volume de concluintes do ensino médio. "O nosso trabalho é disponibilizar o Enem para que todos que têm o interesse".

Ao ser questionado sobre isso, Veiga disse que há uma investigação sobre supostos números inflados nos dados de inscritos de anos anteriores. O ministro afirmou que a a apuração é sigilosa.

A prova abordou em suas questões a ampliação das desigualdades educacionais e sociais no Brasil durante a pandemia. Mais uma vez, no entanto, a ditadura militar ficou de fora da prova.

O tema da redação do Enem 2022 foi "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil". A proposta foi elogiada por lideranças indígenas.

Servidores do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) têm comemorado nos bastidores a amplitude de temas abordados na prova de 2022. Para eles, o exame resistiu às investidas ideológicas do governo Bolsonaro.

Temas como povos originários, garantia de direitos, questões ligadas a gênero, presentes no exame deste ano, são alvos históricos de Bolsonaro, cuja equipe fez esforços para banir abordagens como essas. A prova também abordou a pandemia de Covid-19 na prova deste último domingo.

Bolsonaro também teve uma postura negacionista com a pandemia. Ele minimizou, em diversas oportunidades, o avanço do número de casos da doença e criticou a vacina —ele próprio diz não ter se imunizado.

Sob condição de anonimato, servidores do Inep disseram à Folha, após o primeiro dia de prova, que ter conseguido pautar na prova temas importantes para o debate social é demonstração de força da área técnica do órgão, apesar de ataques do atual governo.

O ministro da Educação disse que não conversou com Bolsonaro sobre o conteúdo do Enem. Godoy defendeu que não houve interferência no exame.

"Todas essas preocupações e manifestações do presidente eram no sentido que as questões não filtrassem por visão de mundo", disse. "Nunca foi feita nenhuma interferência, até porque as questões têm um processo longo de elaboração".

Reportagem da Folha já mostrou, a partir de análises estatísticas, que as questões criticadas ideologicamente por Bolsonaro e aliados foram eficientes para avaliar conteúdos.

Desde 2019 houve tentativas de interferir no conteúdo da prova para agradar o presidente. Uma série de questões chegou a ser apartada por motivos ideológicos no início da gestão Bolsonaro.

Perguntas sobre ditadura militar (1964-1985), por exemplo, não caem na prova desde 2019 —o que nunca tinha ocorrido até então. No Enem 2022, essa lacuna se manteve.

No ano passado, o presidente chegou a pedir ao então ministro da Educação Milton Ribeiro que o exame não falasse em golpe de 1964, mas em revolução, visão rechaçada por historiadores.

Também houve tentativa de criar uma espécie de tribunal ideológico para censurar determinados temas. O governo recuou da ideia de criar essa comissão permanente após reportagem da Folha revelar o plano.

Uma interferência maior no Enem não ocorreu muito por causa das questões técnicas e pedagógicas que rodeiam a elaboração das questões. A postura dos servidores também colaborou para essa blindagem --funcionários criticaram nomeações ideológicas e houve até demissões coletivas.

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