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Enem tem questões sobre Covid no segundo dia de provas

Neste domingo (20), candidatos responderam 90 questões de matemática e ciências da natureza

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São Paulo e Brasília

O segundo dia de provas do Enem trouxe questões sobre a Covid-19. Neste domingo (20), os candidatos responderam a 90 perguntas das áreas de ciências da natureza e matemática.

Professores de cursinho que fizeram a prova disseram que duas questões abordaram temas relacionados à pandemia. Uma delas falava sobre como é o procedimento do PCR, exame utilizado para identificar a presença do vírus.

Outra questão tratava do uso de ozônio como desinfetante para ambientes contra a Covid.

Candidatos em local de prova no primeiro dia do Enem, no domingo (13)
Candidatos em local de prova no primeiro dia do Enem, no domingo (13) - Bruno Santos 13.nov.2022/ Folhapress

Apesar dessas duas questões tratarem sobre uma situação recente vivida pelo país, os professores destacaram que a maioria das perguntas trouxe textos de apoio mais antigos, algumas com dados até mesmo de 2012.

"Os textos em sua maioria bastante antigos. Tinham poucos textos adaptados de 2020 pra cá, em sua maioria eram perguntas com textos que já têm mais de uma década de publicação. Daí o viés mais técnico visto na prova", disse o professor Vinicius Haidar, do SAS Plataforma de Educação.

O professor Giba Alvarez, do Cursinho da Poli, disse que os estudantes encontraram uma prova trabalhosa, de média complexidade, com uma elaboração eficiente para avaliar o ensino médio e selecionar para o ensino superior. Alvarez também ressalta a presença da pandemia na prova.

"Este Enem que termina agora mostra que o Inep [órgão responsável pelo exame] de fato olha para o futuro e não esqueceu de temas que inclusive incomodam o bolsonarismo. A pandemia caiu de uma maneira muito inteligente", disse ele.

"Não é uma prova solta no tempo e no espaço, mas trouxe conteúdos atuais e atrelados à Base Nacional Comum Curricular."

Os professores disseram que a prova seguiu o padrão de anos anteriores, com questões bastante conteudistas especialmente na área de ciências da natureza.

"Foi uma prova que exigiu dos candidatos um domínio bom de uma variedade grande de conteúdos do ensino médio. Em biologia, por exemplo, foram cobradas questões sobre doenças, genética, botânica, citologia", disse Anderson Rodrigues, diretor da Oficina do Estudante.

"A prova exigia não só uma leitura cuidadosa do aluno, mas também um profundo conhecimento sobre os conteúdos. As questões de biologia se destacaram pela criatividade e temas propostos", disse Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Objetivo.

Uma das questões de biologia falava sobre o uso do hormônio eritropoetina, um tipo de doping usado por atletas. Algumas perguntas também trouxeram textos de apoio que falavam sobre a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a OMS (Organização Mundial da Saúde).

"É interessante e importante que a prova trate de assuntos que fazem parte do dia a dia dos candidatos", avaliou Antunes.

Filippo Fogaccia, professor de química do Objetivo, disse ter chamado a atenção o grau de dificuldade das questões dessa disciplina. "Foram abordados temas típicos do Enem, mas com cálculos muito densos e demorados. A dificuldade estava maior do que em outros anos."

A presença de questões sobre a Covid-19 chamou a atenção de professores porque o presidente Jair Bolsonaro (PL) já fez críticas sobre o conteúdo do Enem mesmo quando era deputado e o atual governo fez movimentos para banir questões.

Bolsonaro também teve uma postura negacionista com a pandemia. Ele minimizou, em diversas oportunidades, o avanço do número de casos da doença e criticou a vacina —ele próprio diz não ter se imunizado.

Para Bolsonaro e aliados, questões do Enem com determinadas abordagens, como as relacionadas a gênero, seriam um instrumento de doutrinação de esquerda.

Temas como povos originários, garantia de direitos, questões ligadas a gênero, presentes no primeiro dia do exame, no último domingo (13), são alvos históricos do presidente, e sua equipe fez esforços para banir abordagens como essas durante sua gestão.

Desde 2019 houve tentativas de interferir no conteúdo da prova para agradar o presidente. Uma série de questões chegou a ser apartada por motivos ideológicos no início da gestão Bolsonaro.

Perguntas sobre ditadura militar (1964-1985), por exemplo, não caem na prova desde 2019 —o que nunca tinha ocorrido até então. No Enem 2022, essa lacuna se manteve.

No ano passado, o presidente chegou a pedir ao então ministro da Educação Milton Ribeiro que o exame não falasse em golpe de 1964, mas em revolução, visão rechaçada por historiadores.

Também houve tentativa de criar uma espécie de tribunal ideológico para censurar determinados temas. O governo recuou da ideia de criar essa comissão permanente após reportagem da Folha revelar o plano.

O primeiro dia de prova, realizado no domingo (13), teve uma abstenção de 27%, índice dentro do histórico do Enem. Dos 3,4 milhões de inscritos, 905 mil não fizeram o exame. A abstenção do segundo dia de prova não foi divulgado pelo Ministério da Educação até as 20h deste domingo (20).

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