Crianças aprendem conservação com agrofloresta e mobilização na escola

Grupos discutem e adotam soluções locais para enfrentar efeitos das mudanças climáticas

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Nazaré Paulista e Piracaia

Estudante do oitavo ano do ensino fundamental, Maria Catarina Viana, 14, não tinha ideia de que profissão queria seguir. Aluna da Escola Estadual Professora Clélia de Barros Leite da Silva, em Nazaré Paulista (90 km de São Paulo), ela descobriu uma vocação depois de levar uma porção de arroz repleta de fungos para a sala de aula.

"Cozinhei o arroz na água de poço, coloquei em um bambuzinho, subi na mata fechada e enterrei. Depois de 15 dias fui lá e estava cheio de fungo colorido", diz Catarina.

alunos agachados plantam muda em horta
Alunos da Escola Estadual Clélia de Barros Leite da Silva, em Nazaré Paulista, plantam mudas em sistema agroflorestal - Rubens Cavallari/Folhapress

A estudante, que agora quer ser engenheira ambiental, produziu uma pequena quantidade de microrganismos eficientes, um fertilizante para plantas que tem se popularizado em debates sobre a transição para modelos de agricultura menos dependentes de químicos industriais.

Ela aprendeu junto com os colegas a técnica no projeto de Escolas Climáticas, realizado pelo IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), em parceria com o instituto Iamar e patrocinado pela Petrobras.

A ideia é discutir impactos das mudanças climáticas e engajar as comunidades escolares em soluções locais. Em Nazaré Paulista, predominam propriedades familiares, que têm um papel importante na conservação da floresta no entorno da represa de Atibainha.

Nas escolas que recebem o programa, alunos e professores formam coletivos socioambientais, que lideram ações de enfrentamento e adaptação às mudanças climáticas na comunidade.

Antes de formar o grupo, professores e alunos participam de oficinas com informações do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU).

A partir daí, escolhem grupos, como o da coleta seletiva, liderado por Felipe Bertozzi, 9, do 3º ano. "Vamos nas salas para ver se estão separando."

Na Clélia de Barros, o projeto é supervisionado pela professora Letícia Bueno. "Não é para qualquer um, é uma escolha", diz a professora. "Quando você vê a importância de tudo isso, da experiência de alunos tentando formar um pequeno SAF [sistema agroflorestal] é uma semente na cabecinha deles para que façam diferente."

O SAF da escola tem rabanete, rúcula, mandioca, berinjela, milho e repolho. As frutíferas, como o pé de bananeira, ficam no meio do restante. Os alunos aprendem a manejar o sistema e criar um equilíbrio entre as plantas que crescem mais rápido, fornecendo sombra a outras espécies, e a identificar, na região de casa, plantas que podem ir para o prato.

A 15 km dali, em Piracaia, a feira do produtor, que reúne agricultores da região e atrações culturais, foi o local escolhido para um protesto em novembro deste ano com dez crianças contra as queimadas na região.

Segundo o educador Bruno Elias, o protesto foi uma etapa prática após semanas de estudo e conversas sobre o tema com as crianças, que participam do Coletivo Sementeira.

"Quis escolher esse tema porque queria cuidar da natureza", diz Iuri, 6. "A gente também escolheu esse tema porque está vendo vários incêndios aqui em Piracaia", afirma Dylan, 9.

As crianças dialogaram com uma brigadista de incêndio do conselho de meio ambiente da cidade e visitaram uma unidade do Corpo de Bombeiros em Atibaia, resumindo os aprendizados em frases para estandartes.

"Cuide de não botar fogo no mato" foi a escolhida por Iuri, e "cuide do meio ambiente", a de Dylan.

Elias, que já lecionou na capital paulista, vê no interior outras possibilidades de unir aprendizado e participação na vida pública da cidade —o que ajuda as crianças a se engajarem em temas cotidianos, como o combate a incêndios.

"É outra dinâmica. Conseguimos mobilizar no Conselho Municipal de Meio Ambiente uma licitação para contratar agente ambiental. Foi feita uma proposta de lei, o prefeito ratificou e virou edital", diz ele.

Os temas dos próximos estudos, que podem virar novas ações na feira do produtor, são o descarte de lixo e o cuidado com oceanos.

Os jornalistas viajaram a convite da Petrobras.

Os jornalistas viajaram a convite da Petrobras.

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