Universidades do Japão adotam cotas para mulheres em cursos de engenharia

Mecanismo ajuda a levar paridade a um campo dominado pelos homens; indústria também defende maior diversidade

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Asahi Shimbun

Cada vez mais universidades japonesas estão instituindo cotas especiais para mulheres nos cursos de graduação em engenharia, num esforço para chegar a um equilíbrio de gênero melhor num campo tradicionalmente dominado por homens.

O Tokyo Institute of Technology, onde as mulheres representam apenas 13% dos estudantes de graduação, vai lançar seu programa de cotas em 2024. O reitor Kazuya Masu acredita que uma paridade maior de gênero beneficiará a todos. "Flexibilidade e criatividade são raras em grupos formados pelo mesmo tipo de pessoas", explica.

Estudantes de engenharia na Universidade Feminina de Nara
Estudantes de engenharia na Universidade Feminina de Nara - 25 abr.2022/Universidade Feminina de Nara

A universidade já fez esforços anteriores de atrair mais alunas, mas o número de mulheres que estudam engenharia não aumentou. A instituição espera que esse problema seja resolvido com a criação da cota feminina. A cota de 2024 prevê 58 estudantes do sexo feminino e a de 2025, 143. A previsão é que com isso o índice de mulheres inscritas no curso de engenharia suba para mais de 20% do total.

Uma pesquisa do Ministério da Educação em 2021 revelou que há 60 mil mulheres matriculadas em departamentos universitários ligados à engenharia –menos de 16% dos 380 mil alunos da área em todo o país. É a menor participação feminina em qualquer área universitária.

O Japão perde para outros países desenvolvidos nesse quesito. Segundo a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), apenas 7% das universitárias japonesas optaram por se formar em ciências e engenharia em 2019, contra uma média de 15% em todos os países membros da OCDE.

A indústria é a força motriz dessa campanha por maior paridade de gênero; hoje muitas empresas acreditam que a diversidade propicia a inovação maior. Em 2016, o Development Bank of Japan Inc. lançou um estudo mostrando que o valor econômico de patentes desenvolvidas por equipes que incluíam mulheres era 1,4 vezes maior que o das patentes desenvolvidas exclusivamente por homens.

Os departamentos de engenharia reagiram de acordo. O site da Universidade de Nagoya, por exemplo, afirma que "são necessários recursos humanos diversos que tragam ideias flexíveis e novos pontos de vista" e que "a inovação disruptiva se faz necessária". Para 2023, a universidade agora tem uma cota de nove alunas em seu programa de engenharia.

"Há grande demanda por parte de empresas que querem contratar mulheres graduadas em engenharia, porque consideram importante o ponto de vista da mulher", disse Seiichi Miyazaki, diretor do departamento de engenharia. "O índice de colocação empregatícia dessas alunas tem sido de quase 100%, mas o número delas é baixo."

Miyazaki explica que a cota do departamento foi integrada ao vestibular por comenda, que baseia sua seleção sobre "critérios diversos além da competência acadêmica".

Estudantes do ensino médio em visita aberta ao campus promovido pelo departamento de engenharia da Universidade de Nagoya
Estudantes do ensino médio em visita aberta ao campus promovido pelo departamento de engenharia da Universidade de Nagoya - 9 ago. 2022/Universidade de Nagoya

O Shibaura Institute of Technology está adotando vestibulares semelhantes para alunas de engenharia, e a Universidade Feminina de Nara abriu sua faculdade de engenharia em 2022 com 45 estudantes em regime de tempo integral. Numa sondagem, muitas das novas alunas disseram que optaram pela universidade porque é só para mulheres e elas acharam que se sentiriam à vontade.

Outra instituição apenas para mulheres, a Universidade Ochanomizu, vai abrir um departamento de engenharia em 2024. Descrevendo a realidade das estudantes de engenharia, uma representante da universidade comentou: "É uma situação do ovo ou da galinha. As mulheres não vêm porque há tantos homens. Então precisamos criar ovos primeiro para fazer o ciclo mudar".

Traduzido por Clara Allain.

Esta reportagem está sendo publicada como parte do projeto "Towards Equality", uma iniciativa internacional e colaborativa que inclui 14 veículos de imprensa para apresentar os desafios e soluções para alcançar a igualdade de gênero.

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Hajime Ueno, Chika Yamamoto e Fumio Masutani

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