Vice-governador de SP afirma que crise na educação do estado está superada

Felicio Ramuth (PSD) defendeu o secretário Renato Feder após publicação de material didático digital com erros; entidade rebate

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Milão

O vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth (PSD), afirma que a crise em torno da Secretaria da Educação, envolvendo a publicação de material didático digital com erros, foi superada com a saída de Renato Dias da Coped (Coordenação Pedagógica), órgão responsável pela área dentro da pasta. Dias foi exonerado na última quarta-feira (6).

"É uma questão superada. Foi apresentada uma nova metodologia, uma padronização das aulas. Houve questionamentos, erros, os responsáveis estão fora do governo e [estamos] corrigindo esse rumo", disse Ramuth a jornalistas em Milão, na Itália, onde participa como convidado de evento promovido pelo grupo empresarial Lide, criado pelo ex-governador João Doria.

Segundo o vice-governador, o episódio foi pontual e não altera projetos do titular da Educação, Renato Feder. "Obviamente, ninguém tem como objetivo criar um material com erros. Se alguém criou ou não conferiu, o responsável tem que ser punido. Isso não muda o plano estratégico nem o objetivo de criar aulas padronizadas corretas."

Feito para ser usado de forma digital, material didático precisa ser impresso pelas escolas para ser usado
Feito para ser usado de forma digital, material didático precisa ser impresso pelas escolas para ser usado - Reprodução

O material digital produzido pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e distribuído às escolas estaduais de São Paulo no último mês de abril continha diversas inconsistências.

Um dos trechos mostrava que a Lei Áurea, de 1888, foi assinada por dom Pedro 2º, em vez da princesa Isabel. Outro dizia haver praias na capital paulista. Mais de 3 milhões de alunos podem ter tido acesso ao material. Este será confiscado e atualizado, afirma o Palácio dos Bandeirantes.

A saída de Renato Dias da Coped faz parte de uma crise maior envolvendo a política de livros escolares no estado mais rico do país. Neste ano, a gestão paulista cogitou abandonar o Programa Nacional do Livro Didático, do Ministério da Educação. Para o secretário Feder, o material era superficial.

Tais críticas faziam parte de um plano para acelerar a digitalização do ensino na rede estadual paulista.

Não deu certo. Em agosto, o governo paulista rescindiu contrato para compra de 200 milhões de livros digitais de literatura sem licitação. Seriam 68 títulos para cerca de 2,9 milhões de estudantes da rede, totalizando aproximadamente 197 milhões de acessos. O custo total da operação seria de R$ 15,2 milhões.

Dias depois, a Justiça de São Paulo concedeu uma liminar obrigando o estado a reintegrar o Programa Nacional do Livro Didático.

Felicio Ramuth defendeu a atuação de Feder. "O governador [Tarcísio] acompanhou toda essa questão, mas reconhece o trabalho exitoso do secretário Feder no Paraná e tem certeza que vamos conseguir evoluir ao longo dos próximos anos com a educação no Estado de São Paulo", declarou.

O vice-governador, que é ex-prefeito de São José dos Campos, reconheceu que o governo enfrenta resistência em seu plano "ousado" para a educação. "Mas isso só pode servir de aprendizado, para que a gente possa ter cada vez mais diálogo entre a pasta e os atores, as associações, os grupos de professores, os secretários municipais", disse.

Em nota divulgada nesta segunda (11), a Abrale (Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos) afirmou que "está longe de ser verdade" a afirmação de Ramuth de que a crise no material didático está superada.

Pelo contrário, diz a associação, não há apenas os erros de informação presentes no material apresentado aos estudantes, mas equívocos de conceitos, edição e metodologia.

A Abrale afirma ter preparado uma análise do material. O documento tem 116 páginas e foi produzido por uma força tarefa com 13 educadores-autores, coordenada por sua presidente, Maria Cecília Condeixa.

Entre as conclusões, o grupo diz ter encontrado no material até mesmo cópias da internet e texto em língua estrangeira.

A entidade ainda criticou a intenção, defendida pelo vice-governador, de padronizar as aulas. "A formação de professores deveria estar a serviço de ampliar o repertório pedagógico dos professores, não a estreitá-lo, dificultando aos docentes dar aulas adequadas a diferentes turmas e estudantes, que diferem mesmo em uma só escola", declara a Abrale.

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