Descrição de chapéu greve

Estudantes ocupam prédio da USP após reitoria ameaçar reprovar grevistas

Unidades podem completar seis semanas sem aulas e perder a frequência necessária para aprovação

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São Paulo

Estudantes da USP (Universidade de São Paulo) ocuparam um prédio da administração central da instituição no fim da tarde desta quinta-feira (26). A ação ocorre em resposta à decisão da reitoria de não abonar as faltas durante o período de greve, que já dura mais de cinco semanas.

A reitoria confirmou à Folha que o prédio foi ocupado pelos estudantes. O local era um dos blocos que antigamente faziam parte da moradia estudantil.

Estudantes afirmaram que a decisão de ocupar o espaço aconteceu após a reitoria pressionar pelo fim da greve. Segundo eles, a medida classificada por eles como autoritária levou um grupo a adotar uma postura mais radical.

Eles não informaram quantos alunos estão no prédio. Davi Barbosa, diretor do DCE, disse que a ocupação foi uma ação isolada de alguns estudantes e que não foi debatida em assembleia.

"Achamos que o método de ocupação é legítimo e usado historicamente, mas que nesse momento foi feito de forma isolada e sem debate com quem estava construindo a greve", disse.

Manifestantes em ato no MASP por greve na USP no último dia 5 de outubro = - Rubens Cavallari 05.out.23/Folhapress

Conforme mostrou a Folha, a reitoria determinou que as unidades não podem alterar o calendário letivo e não devem abonar as faltas registradas no período de interrupção das aulas.

Na prática, a medida pode levar à reprovação automática de alunos de cursos em que a greve ainda não foi encerrada. Depois de ter conseguido a adesão de docentes e da maior parte das unidades da USP, nesta quinta (26) a paralisação continua apenas na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e na EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades).

Se a greve for mantida na FFLCH e na EACH até o fim desta semana, essas unidades completarão seis semanas sem aulas e, a partir daí, não seria mais possível garantir a porcentagem mínima de frequência para a aprovação, de 70%.

"Essa ação [da reitoria] buscou encerrar a greve de cima pra baixo, o que vai fazer com que milhares de estudantes percam seu semestre letivo", afirma Barbosa, do DCE.

O presidente da comissão de graduação da FFLCH, professor Eduardo Girotto, encaminhou um ofício ao reitor pedindo que a determinação seja revista.

"A referida medida poderá produzir um iminente colapso da organização das atividades de graduação no próximo semestre letivo. Por exemplo, estudantes que forem reprovados em disciplinas que são pré-requisito de outras ofertadas no semestre seguinte não poderão se matricular, produzindo um efeito cascata de represamento de matrículas", diz.

Na manhã desta sexta-feira (27), o reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior divulgou uma nota de esclarecimento à comunidade acadêmica dizendo que a universidade não tinha a intenção de pressionar os grevistas. Segundo ele, a circular de orientação sobre frequência escolar visava apenas "alertar para a necessidade de terminar em bom termo o semestre letivo".

Ele ainda afirmou que as unidades podem fazer adaptações ao conteúdo de suas disciplinas até o dia 22 de dezembro, data final do ano letivo. As notas podem ser lançadas no sistema até 9 de fevereiro, conforme previsto no calendário vigente para 2023.

Assim, segundo ele, é factível o cumprimento da frequência mínima exigida regimentalmente.

"Portanto, com a volta às aulas, não há risco de que alunas e alunos, especialmente do primeiro ano, venham a ser prejudicados. Esta reitoria busca a retomada da normalidade da vida acadêmica e não tem intenção de promover perseguição e retaliação de qualquer natureza", diz a nota do reitor.

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