Na crise, articulação e compromisso de investidor social são determinantes, dizem especialistas
Diante da crise econômica e política que afeta todos os campos da sociedade, a articulação entre instituições investidoras e organizações da sociedade civil será determinante ao futuro do investimento social privado no Brasil.
É o que afirmou André Degenszajn, secretário-geral do Gife – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, durante o 9º Congresso Gife, realizado em São Paulo, nesta sexta-feira (1).
Gife/Divulgação | ||
Os palestrantes ( a partir da esq.) Denis Mizne, André Degenszajn, Beatriz Azeredo e Marcelo Furtado |
"O momento exige dos investidores uma postura muito mais conectada com os desafios políticos que vivemos hoje", afirmou Degenszajn.
Segundo o secretário-geral do Gife, justamente se vincular com o campo de inovação política é difícil para a maior parte das instituições e fundações.
"Mexe com questões estruturais. Não é um campo tradicional de investimentos. Porém, hoje, há uma atenção maior do setor por consequência do momento", disse.
Degenszajn afirma que o cenário político e econômico representa um desafio para o setor.
"O Estado e as empresas têm menos recursos e as fundações brasileiras que realizam o investimento social privado, geralmente, não têm fundo matrimonial próprio. Assim, ficam dependentes de um repasse anual da empresa ou da família mantenedora, que são sucessíveis às variáveis econômicas."
A edição do congresso deste ano teve como tema central "O sentido público do investimento social privado".
A intenção com a temática, segundo os organizadores, foi tratar da problematização das relações atuais entre o público e o privado a partir da atuação dos institutos, fundações e empresas envolvidos no campo do investimento social.
Degenszajn encerrou o congresso no início desta tarde ao lado de Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, Marcelo Furtado, diretor do Instituto Arapyaú e Beatriz Azeredo, diretora de responsabilidade social da TV Globo.
Para Beatriz, a palavra-chave para o setor do investimento social privado no atual momento é compromisso. Ela ressaltou, em primeiro lugar, a importância básica de as empresas manterem o investimento em responsabilidade social interna.
O segundo compromisso, de acordo com Beatriz, é conjuntural e de longo prazo.
"Apesar de o investimento social privado ser o primeiro corte que as empresas fazem neste contexto, temos um compromisso a ser mantido com os avanços [sociais]", disse Beatriz.
Denis Mizne, representante da Fundação Lemann, afirmou que, nesta situação crítica, os empreendedores sociais têm que pensar fora da "caixinha" da própria organização.
"É preciso construir uma relação mais aberta junto ao Estado, não de levar a solução pronta, mas, sim, de construir junto sem ser subserviente. O diálogo tem que acontecer", disse Mizne.
Durante o congresso, o Gife promoveu um painel sobre transparência para incentivar que seus associados e organizações beneficiadas deixem público as contas de trabalhos realizados.
"A transparência que a situação do país exige vai para além dos governos. Os investidores sociais e as organizações da sociedade civil deixando clara sua atuação é uma maneira de estreitar relações com a sociedade para que ela perceba o que fazem."
Marcelo Furtado, do Instituto Arapyaú, é otimista com o momento para o setor do investimento social privado. As fundações, que geralmente realizam investimento social privado, estão em fase de mudanças estruturais. Entre as principais transformações, está a transferência do comando das instituições para a geração seguinte, de filhos ou netos.
"Essa geração tem um novo chip e isso nos dá uma oportunidade para que as instituições trabalhem de uma maneira mais colaborativa", disse Furtado.
Para Degenszajn, é preciso fortalecer as organizações da sociedade civil que estão frágeis neste momento e o trabalho dos investidores sociais de apoio e autonomia é fundamental.
Além disso, o setor deve trazer para o centro do investimento social o combate às desigualdades sociais no geral, como de gênero e racial, não somente a econômica.
"Não é um desafio só de melhorar a gestão do recurso privado, mas do tipo de democracia que está se contribuindo para construir. Uma democracia forte, exige organizações fortes", disse Degenszajn.
BALANÇO
Durante três dias de debates, o congresso bienal do Gife reuniu cerca de 1.500 pessoas, entre investidores sociais, integrantes de organizações da sociedade civil, acadêmicos, consultores e representantes de governos, entre outros.
Estiveram presentes no evento Átila Roque, da Anistia Internacional, Alice Setubal, da Fundação Tide Setubal, Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco, Darren Walker, da Fundação Ford, Francisco Gaetani, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Lais Lopes, da Secretaria de Governo da Presidência da República, Marcelo Porteiro, do BNDES, Ricardo Abramovay, da FEA/USP e Sergio Andrade, da Agenda Pública, entre outros.