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Pandemia aumenta os fundos filantrópicos e triplica o capital de impacto em 2020

Soluções financeiras apontam crescimento da cultura de doação no Brasil, ainda que concentrada em emergências

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São Paulo

Em quase três meses de pandemia, doações de empresas em resposta à Covid-19 já somam R$ 4,6 bilhões. Valor que se torna ainda mais expressivo se comparado aos R$ 2,1 bilhões doados pela iniciativa privada em 2019, segundo relatório do Benchmarking do investimento Social Corporativo.

Além das contribuições diretas a hospitais e instituições, grandes empresas se aliam entre si e a organizações para mobilizar investimento de impacto por meio dos fundos filantrópicos, responsáveis por grande parte dos R$ 130 milhões levantados pelo terceiro setor nestes três meses, contabilizados pelo Monitor das Doações.

Dos 25 fundos filantrópicos geridos atualmente pela Sitawi, organização que trabalha com soluções financeiras de impacto social, 16 nasceram em 2020, sendo 11 deles voltados exclusivamente ao combate ao novo coronavírus.

A previsão é de que, com a intensificação da cultura de doação e o alcance dos novos fundos por conta da pandemia, a empresa mobilize R$ 150 milhões em capital de impacto até dezembro —o triplo do que havia movimentado desde 2012.

“A gente estava crescendo numa média de 50% ao ano, então talvez chegássemos a R$ 65 milhões no final do ano, sem pandemia”, explica Leonardo Letelier, CEO e fundador da Sitawi. “Mas agora vai estourar a boca do balão. É possível até que ultrapassemos os R$ 150 milhões.”

Isso porque, segundo o especialista em finanças, o Brasil tem uma forte cultura de doação e solidariedade quando se trata de emergências —e os fundos filantrópicos são exemplo disso.

O maior até agora é o Fundo Emergencial para a Saúde - Coronavírus Brasil, que já arrecadou R$ 37 milhões.

Criado pela parceria entre Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), o Movimento Bem Maior e a plataforma BSocial, o fundo visa mobilizar a sociedade filantrópica e fortalecer o sistema de saúde público brasileiro.

As beneficiárias são entidades que estão na linha de frente do combate à pandemia, como a Fiocruz, o Hospital das Clínicas de São Paulo, a Santa Casa de São Paulo e a Comunitas, organização que adquire respiradores e doa ao SUS.

O dinheiro angariado é revertido em itens como respiradores, testes para diagnóstico de infecção por Coronavírus, equipamentos para UTI, equipamentos hospitalares, materiais para médicos e enfermeiros e medicamentos.

Um outro fundo gerido pela Sitawi é o Matchfunding Salvando Vidas, uma parceria entre BNDES, CMB, Bionexo e Benfeitoria. A meta é levantar, até 30 de junho, R$ 100 milhões para os hospitais filantrópicos brasileiros.

Esses hospitais são responsáveis por 50% do atendimento do SUS e empregam cerca de 1 milhão de pessoas —um terço do total de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem do país.

Com R$ 100 milhões, será possível suprir a demanda de quase mil hospitais filantrópicos de todas regiões do Brasil por um mês e meio, permitindo um respiro a essas instituições enquanto aguardam a estabilização do mercado.

O Salvando Vidas funciona a partir da lógica de matchfunding: para cada R$ 1 doado, o BNDES doa mais R$ 1, dobrando o valor das doações. Até o momento, o fundo angariou R$ 16,3 milhões.

A ação continua até que seja atingida a meta. Os recursos serão investidos em material de proteção para médicos, enfermeiros e pacientes. A primeira rodada de compra será focada em máscaras cirúrgicas e N95, álcool em gel, luvas e aventais cirúrgicos. As demais podem incluir outros itens, como ventiladores pulmonares.

Letelier acredita que o alcance e a praticidade dos fundos possam influenciar a sociedade e as empresas a pensar em usar essa solução para outros desafios, não só a pandemia.

“Os fundos filantrópicos facilitam a recepção do dinheiro para uma única causa, nesse caso a pandemia. Essa solução acaba sendo um pouco mais visível, e as pessoas podem pensar nela para outros desafios”, diz. “Isso facilita a filantropia. E ao facilitar a filantropia, o normal seria que ela aumentasse”, espera o CEO da Sitawi.

Ele conta que, com a crise da Covid-19, a Sitawi tem sido muito mais procurada, o que pode acarretar num crescimento futuro da área de investimentos de impacto e da filantropia no Brasil.

“O que desejamos é que parte do legado dessa visibilidade e dessas grandes doações implicasse numa filantropia mais estruturada”, afirma.

Cinco dos fundos filantrópicos da Sitawi que surgiram esse ano não estão relacionados ao coronavírus, e um deles é o PerifaConnection. A solução financeira tem como objetivo apoiar o trabalho do coletivo de mesmo nome, que faz a disputa de narrativas sobre as juventudes das periferias do Brasil.

Além desse, outros fundos geridos pela organização contemplam demandas sérias da sociedade, mas, por não serem tão emergenciais quanto a pandemia, não recebem o apoio e recursos mobilizados pela cultura de doação esporádica do Brasil.

Por mais que seja essencial destinar parte dos recursos ao combate à Covid-19, Letelier acredita que os investidores devem olhar para o sistema como um todo, de forma a conseguir atender todas as demandas além da pandemia.

“Precisamos de um ‘vamos doar mensalmente para organizações’, um ‘vamos doar de forma melhor’, e não somente isso de se mobilizar durante emergências e, depois, tudo volta a ser como antes.”

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