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Marcus Nakagawa

Produtos 'fênix', o renascimento e a economia circular

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Marcus Nakagawa

Professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, autor premiado com o Jabuti 2019, palestrante e idealizador da Abraps e do Dias Mais Sustentáveis.

Lembram da antiga lenda da bela ave fênix, de penas avermelhadas, que detinha uma poderosa força e podia viver por muitos anos? Suas lágrimas curavam doenças e, ao final da sua vida, cantava uma triste melodia, queimava-se e depois ressurgia das cinzas.

Este símbolo do renascimento, da vitória da vida sobre a morte e do eterno recomeçar é o conceito que precisamos aplicar em todos os produtos que desenvolvemos e consumimos. É isso que temos que discutir dentro deste novo modelo da economia circular e do desenvolvimento sustentável.​

Sabemos que já consumimos mais de um terço dos recursos naturais no planeta e não estamos sabendo lidar com o que nos resta. Temos desmatamento, queimadas, grilagens, oceanos cheios de plásticos, rios poluídos, além de vários outros desafios da relação entre os seres humanos. E o pior de tudo é que o meio ambiente não tem mais tempo de regenerar todas estas “feridas”. Precisaríamos de muitas lágrimas da fênix para curar o que estamos causando.

Muitos cursos, palestras, workshops, artigos e livros estão surgindo sobre a temática de ver os produtos como fênix, renascendo das cinzas ou do seu próprio descarte. Porém, isto é uma realidade ou ainda conceito? Podemos dizer que algumas empresas estão tentando criar nichos de mercados ou testando os diversos segmentos para ver se têm consumidores que aprovam este tipo de argumento de venda ou valor a mais no produto.

A Adidas, por exemplo, começou testando um tênis com base em plástico retirado do mar, em parceria com a Parley, organização que defende os oceanos. Quando saiu a notícia do primeiro lote, com alguns milhares de pares, discutimos bastante em sala de aula. A turma, descrente, falou que era apenas “marketing” verde. Alguns alunos ainda disseram que não passaria deste primeiro lote e depois usaríamos este exemplo como uma boa tentativa. Quando saiu o segundo e o terceiro lote, já na casa de vários milhões de pares, discutimos novamente e vimos que já tinha um site específico com toda a linha de vestuário com plástico vindo do mar.

Pois é, não é exatamente do mesmo produto que esta fênix renasceu, mas, com certeza, já é um começo interessante pela escala que os produtos estão sendo feitos. No mundo da moda este termo pode ser substituído pelo Upcycling, que significa usar os “restos” dos tecidos ou, ainda, reutilizar o que já foi usado para fazer novas peças.

Segundo a Fundação Ellen Macarthur, uma das maiores especialistas na área de economia circular, este conceito está baseado em alguns outros como o do design regenerativo, da biomimética, da economia de performance, da ecologia industrial, do cradle to cradle (berço ao berço) e da blue economy (economia azul). Assim, leva em consideração não só a reciclagem, mas também o desenho, a implementação de novos negócios e muita colaboração de vários públicos de relacionamento das empresas.

Independente do conceito, nome ou teoria, o principal é que existem muitas empresas implementando. E mais do que colocar a mão na massa, agora é necessário ensinar o consumidor da importância e deste poderoso valor agregado ao produto.

Um ótimo caso de renascer das cinzas e de educar o cliente, por meio de uma ação promocional, foram os copos de plástico da Heineken. Estes foram usados e descartados no Rock in Rio 2019 e se transformaram nas 670 mil tampas de um produto da Natura. Assim, as tampas ainda poder ser reutilizadas várias vezes. Segundo as empresas, foram 10 toneladas de resíduos plásticos que evitaram 15 toneladas de CO2 e ainda geraram o sustento das cooperativas que trabalharam nos sete dias do evento.

O que precisamos agora é evoluir os casos e projetos pilotos para irmos para todos os segmentos e produtos das várias marcas de consumo. Uma vez que parar o consumo exacerbado ou transformar todos em consumidores conscientes parece uma utopia, atualmente.

É necessário também ensinarmos os gestores, designers de produtos, marqueteiros, consumidores e legisladores que a fênix dourada não é só uma lenda ou uma personagem de Harry Potter, mas sim uma das nossas possíveis soluções para os atuais desafios do planeta.

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