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O ESG, o investimento de impacto, a filantropia e o poliglota organizacional

Empresas buscam modelos de negócios que levem em conta questões ambientais e sociais

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Marcus Nakagawa

Professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, autor premiado com o Jabuti 2019, palestrante e idealizador da Abraps e do Dias Mais Sustentáveis.

Tenho uma amiga que trabalhou nessas últimas décadas na área de sustentabilidade empresarial. Essa área já foi chamada de responsabilidade social, cidadania corporativa, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento socioambiental, entre outras.

Ela foi a grandes bancos levando questões ambientais, sociais e de governanças por meio de projetos, estratégias e atuação direta com os produtos e serviços. Outro dia estávamos discutindo se o tal do ESG é algo diferente do que fazíamos ou se era só um novo nome para vender livros, palestras, cursos, enfim, a palavra da moda.

Outra profissional que, há décadas, trabalha no setor financeiro, nesta área, adora colocar nas redes sociais a hashtag #vivipraver. Ela posta muitas reportagens e artigos pessoais na área de sustentabilidade, mostrando o quanto investidores, executivos de bancos, fundos de investimento e acionistas estão declarando sua crença para o ESG. Realmente, vivemos para ver tudo isso.

Nesse período, estudando e dando aulas para alunos e alunas na ESPM, temos discutido muito tudo isso e me veio uma imagem: a do poliglota organizacional.

Fiz até uma palestra sobre este tema na FestiQuali, falando sobre a importância de empresas terem pessoas que entendam de “financês”, “marketês”, “contabilitês”, “sustentabilitês”, “legalês”, enfim, qualquer “língua” que muitas vezes só o próprio departamento entende, usam deste pequeno poder para mostrar serviço e, muitas vezes, dificultar processos na batalha pelo "budget" sonhado.

Na nossa experiência de sustentabilidade e responsabilidade social, tivemos que entender todas as áreas, pois os indicadores de ESG são exatamente isso: entender, mensurar e ajudar cada área da empresa a trabalhar com as questões ambientais, sociais e de governança.

Nesta salada de línguas, o ESG vem mostrar para o investidor o que a empresa está fazendo, mensurando e impactando além da parte financeira. Vem mostrar outros riscos que a empresa pode mitigar, minimizar ou diminuir nas questões dessa sigla tripla.

Nas empresas que ajudam o investidor a colocar seu dinheiro para render, os consultores de investimentos ensinam os vários termos que levam à sustentabilidade empresarial. Inspirado numa live que assisti esses dias, com duas profissionais de grandes empresas de investimentos, decidi escrever este artigo e explicar a diferença entre estes termos.

O ESG representa as palavras em inglês environmental, social e governance, ou, em português, ambiental, social e governança. Tem gente que acrescenta mais um "e", de econômico ou financeiro neste mix de siglas.

Para o poliglota organizacional seria uma linguagem da área financeira e relações com investidores, focando nas análises de riscos, índices, políticas e processos implementados. Com isso, empresas de investimentos estão criando carteiras, fundos, índices e portfólios em empresas com esta temática para que pessoas físicas e jurídicas invistam seu dinheiro para ter rentabilidade.

Uma das vantagens, ditas por esses especialistas, é que empresas que possuem um verdadeiro ESG têm seus riscos mais controlados e que este modelo será a base para o futuro no Brasil, pois mais da metade dos fundos na Europa já consideram esta temática nas suas carteiras.

O investimento de impacto está sendo visto também como uma oportunidade de aportes, geralmente com alto risco, focado em startups e empresas ditas menos “tradicionais” e que tenham impacto social ou ambiental positivo. Ou seja, o investidor vai escolher uma empresa que, além de dar lucratividade, também resolverá um problema da humanidade ou do planeta.

Alguns exemplos são empresas de saúde que estão fazendo atendimento a baixo custo, ou empresas de reforma de casas acessíveis, por meio de crédito, para as classes D e E. Tudo isso com modelos de negócios com um potencial de escala enorme. Para a lógica deste mercado, essas empresas também trarão dividendos para os acionistas, com todos os riscos “tradicionais” envolvidos.

E, por último, na nossa tradução de poliglota organizacional, temos a filantropia, que também é conhecida como investimento a fundo perdido, ou seja, o dinheiro investido não retorna financeiramente.

Este modelo pode ser chamado também de doação, que acaba retornando em benefícios sociais e ambientais. As empresas que colocam seus recursos em projetos socioambientas também chamam essa ação de investimento social privado, pois exigirão dos seus investidos o retorno contabilizado —não em dinheiro, mas em benefícios como pessoas educadas, crianças saudáveis, árvores plantadas etc.

Na verdade, todos esses modelos estão buscando um jeito novo de fazer negócios, um modelo que leve em consideração as questões ambientais e sociais, mas sempre econômico e de governança, que são a base da empresa mas, principalmente, tentando resolver problemas da sociedade e do planeta.

Neste caso do ESG, o investidor está entendendo que o dinheiro que ele coloca em uma empresa pode piorar, ou tentar melhorar, o que temos hoje na sociedade e no planeta.

Não adianta só comprar produtos e serviços com impacto socioambiental como consumidor, mas também incentivar e investir em empresas que estão verdadeiramente preocupadas, e melhorando as suas políticas, processos e atividades para o impacto positivo.

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