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Lidere a diversidade

Equipes de empresas, organizações sociais e três poderes precisam refletir a diversidade da sociedade brasileira

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Luís Fernando Guggenberger

Executivo de inovação e sustentabilidade da Vedacit, é membro do Comitê de Inovação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e do Conselho de Governança do Gife - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas.

A conversa sobre diversidade não é novidade, especialmente para quem está envolvido na agenda da sustentabilidade há um tempo. Inúmeros foram os movimentos empresariais em prol da inclusão das minorias. Ocorre que, mais uma vez, ondas vão e vem, ou melhor, vinham, pois agora a força delas ganhou mais intensidade.

O ano de 2020 foi um marco para a governança ambiental, social e corporativa, representada pela sigla ESG —do inglês "environmental, social and corporate governance".

Porém, nem mesmo a famosa carta da BlackRock aos seus clientes, no início do ano, colocou luz sobre a diversidade, mencionando o tema em um único item.

A maior companhia mundial de administração de patrimônio falou sobre sua prioridade em mapear o engajamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), citando a igualdade de gênero como exemplo do movimento de diagnóstico. E na versão publicada em 2021, o CEO Larry Fink também não cita a diversidade como de suma importância, enfatizando como prioridade a agenda ambiental.

O último ano não foi apenas marcado pelo posicionamento do principal fundo de investimento do mundo, bem como a transição de eras do capitalismo, de shareholders para stakeholders, anunciado pelo Fórum Econômico Mundial, mas especialmente pelas muitas manifestações ocorridas pelo planeta como “Vidas Negras Importam”, a Parada LGBTQIA+ e outras.

Assim como a onda ESG vem tomando conta de inúmeros fóruns, pesquisas sobre preocupações de CEOs e conselhos, a diversidade passa a ocupar um importante espaço na agenda empresarial brasileira, com ações afirmativas rompendo o status quo —a exemplo do polêmico programa de trainees para negros, negras, pardos e pardas, promovido pela Magazine Luiza.

Executivos e conselheiros em empresas com visão madura e profunda têm cada vez mais entendido que a diversidade não está dissociada da sustentabilidade. Muito pelo contrário, ela é parte do "S".

Algumas empresas passaram a levar tão a sério essa agenda que criaram diretorias e gerências dedicadas ao tema, para promovê-lo internamente, algumas incorporando às áreas de recursos humanos, outras dentro da própria área de sustentabilidade.

Dado este preâmbulo, quero propor uma reflexão, que há tempos tem me instigado, sobre nosso papel enquanto líderes em organizações ou em nosso microcosmo chamado departamento. Como estamos lidando com essa questão ao olhar a composição dos nossos times?

Veja, diversidade não se trata de privilegiar um perfil, de abraçar uma única bandeira, mas sim de gerar uma composição de pessoas capazes de promover um ambiente rico em diferentes pensamentos e histórias de vida. E é isso o que pode trazer mais potência para o resultado dos negócios: criar e nutrir essa atmosfera.

Ao tomarmos consciência de que não estamos refletindo sobre a composição dos nossos times, contemplando diferentes perfis para promover a diversidade, como estamos conversando com áreas de recursos humanos para buscar profissionais capazes de compor essa complementaridade de perfis?

Ao compor um time diverso, quais conversas abertas temos feito com nossos liderados sobre visões acerca do tema? Como estamos cuidando para oferecer igualdade de oportunidades de desenvolvimento das pessoas, sem qualquer distinção?

Quero trazer uma provocação especialmente aos líderes no campo do investimento social privado e da filantropia. Acompanho a luta de movimentos sociais e ambientais já há algum tempo, e sempre vejo uma genuína preocupação sobre o aspecto da inclusão social e produtiva das populações vulneráveis.

Porém, o olhar das fundações e institutos desde muito tempo tem sido para fora, voltado ao público beneficiário. Veja, telhado de vidro, será que organizações sociais e ambientais estão contratando e compondo seus times refletindo a diversidade que tanto promovemos?

Será que nos nossos times temos brancos, negros, pardos, indígenas, homens, mulheres, LGBTQIA+, millenials e maiores de 60 anos trabalham juntos e de maneira integrada?

E, por último, não poderia deixar de trazer uma provocação para o campo da gestão pública. Nos três poderes, agentes públicos interagem com cidades para tornar a vida de cidadãos cada vez melhor, mas é preciso olhar as cidades do ponto de vista das pessoas, para as pessoas.

Por isso, também convido você, que lidera qualquer área no setor público, a olhar para a composição de sua equipe. Será que ela reflete a diversidade que encontramos nas cidades, estado e país? Em quantos gabinetes do Legislativo e do Executivo conseguimos encontrar, ao mesmo tempo, essas diferenças trabalhando conjuntamente para tornar a vida das pessoas cada vez melhor?

Só será possível mudarmos o cenário quando cada vez mais líderes de organizações tomarem consciência sobre a relevância do tema e decidirem romper o status quo. Quando estiverem dispostos a entender o contexto que levou determinados grupos a ter menos oportunidades do que outros, e trazer para si um dos atributos mais importantes no século XXI: o do líder que desenvolve pessoas.

Tenho certeza de que o maior prêmio que você ganhará em sua carreira, em seu papel de liderança, será olhar para trás e perceber que contribuiu com o desenvolvimento de carreira de inúmeras pessoas. E aí, vamos liderar essa diversidade?

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