Descrição de chapéu

Entrega de compras online em Paraisópolis simboliza inclusão coletiva

Livros estão entre os três itens mais comprados pelos moradores da favela

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

André Biselli

Gerente de operações da Americanas, fundou a empresa de entregas ecológicas Courrieros e é membro da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais

As três letras ESG –sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança– estão no topo aspiracional da grande maioria das companhias brasileiras. É o momento em que o setor privado abraça sua capacidade de gerar impacto positivo e se coloca como motor de transformação para algumas mazelas sociais.

Mas é preciso entender que toda e qualquer atuação precisa estar centrada na raiz dos problemas: a desigualdade social brasileira.

No caso da Americanas, vimos a chance de ampliar nosso papel social por meio da inclusão coletiva nas favelas –um berço de cultura, cooperação, humanidade e com uma economia pulsante.

Para isso, foi importante entender onde estão os nós para ajudar a desatá-los. Pesquisas mostram que as favelas do país têm mais de 11 milhões de moradores, a maioria com acesso à internet via smartphones. Mas a conexão não basta para fazê-los parte do processo de compra online, tão relevante em tempos de pandemia.

Boa parcela dos moradores ainda não consegue receber produtos em casa por conta dos desafios logísticos, tais como residências em becos e vielas, sem CEP e numeração.

À margem desse mercado, essa população encontrou suas próprias soluções para suprir a falta de serviços –desafio abraçado por instituições como a startup de logística Favela Brasil Express, de Paraisópolis, em São Paulo, e o G10 das Favelas, bloco de líderes e empreendedores de impacto social das dez maiores favelas do país.

Foi com o apoio deles que iniciamos, em abril, a entrega de compras online em Paraisópolis, com a criação de um hub de distribuição por lá. A partir daí, passamos a selecionar profissionais da comunidade para trabalhar no projeto, integrando o time de colaboradores do G10 e da Favela Brasil Express.

Até agora, a parceria permitiu que mais de 60 entregadores fossem cadastrados, 30 deles já trabalhando ativamente. No primeiro mês, foram cerca de 350 entregas por dia e batemos picos de 800 entregas diárias em maio.

Entre os três itens mais comprados pelos moradores até agora estão os livros: para mim, uma prova cabal do tamanho poder represado nas favelas.

E isso tudo sem nenhuma intercorrência e com total receptividade da comunidade, que confirmou que a favela está e sempre estará aberta à inovação e inclusão.

Entendíamos que esses moradores precisavam, além da possibilidade de reforço à renda, da chance de escolher, como qualquer outro cliente, como vão receber seus produtos. Mas queremos ir além. Passamos agora para a capacitação profissional dos jovens entregadores.

É bem verdade que a chance de trabalhar como entregador é uma ajuda importante, mas tende a não ser para a vida toda. A ideia de formar essas pessoas em logística permite que esses profissionais tenham um trampolim para o mercado de trabalho e para o futuro.

Para mim, este é o verdadeiro significado de uma ação “sustentável": aquela que se mantém e, sobretudo, evolui em seu impacto na sociedade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.