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De dentistas a inovadores sociais conectados em rede

Ao lado de parceiros como a Folha, a Turma do Bem lidera um movimento de atuação em rede

Fábio Bibancos

O ofício da odontologia nos coloca reclusos em consultórios, exercendo um trabalho solitário, silencioso e dotado de minúcias. Ser dentista significa, em tese, viver incógnito e imerso no cotidiano ditado pela carreira e pela correria do viver. Mas eis que esses profissionais se rebelaram, saíram das salas com ar condicionado para serem tocados pelo mundo –e transformá-lo.

Estou falando dos Dentistas do Bem, integrantes da organização não governamental Turma do Bem, a maior rede de voluntariado especializado do mundo.

Motivado pela aflição, criei há 16 anos a Turma do Bem –uma iniciativa que se tornou um projeto mundial que prega a inclusão e o acesso da população de menor renda à saúde bucal. Com 17 mil dentistas atuando em 14 países, oferecemos atendimento odontológico gratuito à população em condição de vulnerabilidade social e com graves problemas bucais.

Os públicos beneficiados são jovens de 11 a 17 anos e, com o projeto Apolônias do Bem, atendemos mulheres cisgênero e transexuais vítimas de violência. Em mais de uma década, o nosso trabalho impactou mais de 71 mil jovens e mais de mil mulheres.

Com um modelo inovador, a iniciativa está fundamentada no voluntariado e tem por característica a fácil replicabilidade. A estimativa é que o retorno para sociedade com os tratamentos gratuitos realizados pelos Dentistas do Bem se aproxime, hoje, de R$ 1 bilhão.  

Mais do que voluntários, os Dentistas do Bem tornaram-se social makers. Eles vão além do atendimento gratuito e têm mobilizado a sociedade em prol da inclusão social por meio do sorriso.

Na prática, trabalhamos para fomentar a cultura de inovação social e para inspirar políticas públicas dentro da temática. Parte desse trabalho é, também, fomentar uma discussão de alto nível. E é nessa seara que os Dentistas do Bem surpreendem novamente.

A Turma do Bem realiza, anualmente, o Sorriso do Bem –evento direcionado para a rede de voluntários. Desde a primeira edição, em 2006, o encontro tem uma curadoria criteriosa que privilegia o debate de temas que ultrapassam os limites da odontologia.

Trazemos pensadores, professores, estudiosos e especialistas de áreas do conhecimento humano como filosofia, cultura, psicologia, literatura, sociologia e política para debaterem temas contemporâneos.

No core dessa visão humanista está a genuína intenção de tornar o dentista-voluntário um profissional com uma dimensão maior de mundo. Ou seja, queremos alargar o mundo desse cidadão que é um ativista social, um profissional que, inconformado com a situação socioeconômica, torna-se protagonista da mudança social. E estamos falando de protagonismo de uma forma mais ampla. 

Como seguimos essa jornada há mais de uma década, naturalmente o Sorriso do Bem despertou a atenção de outros públicos, especialmente dos empreendedores sociais. Interessados na programação, esses protagonistas sociais que conduzem ONGs e negócios de impacto, começaram a vir ao evento. Com essa constatação, iniciamos um diálogo com parceiros de vida e, sobretudo, de causa.

Em pouco tempo, já estávamos conceituando com a Folha o Festival de Inovação e Impacto Social, alinhado ao conceito de social maker e focado nesses fazedores sociais. Os últimos meses foram imprescindíveis, pois conseguimos reunir um grupo de peso que nos ajudou a tirar as ideias do papel: Abrale e Rede Aliança Latina, Instituto Doar, Agenda Pública, Pitanga.mob, as produtoras Original 37 e Marcelo Jabur e a agência de viagens Vivejar. 

No Fiis, os desafios, as demandas de inovação, a importância do conhecimento e do crescer em rede –que afligem os gestores ONGs e negócios sociais– serão objeto de um pensar sistêmico. Com um grupo maior, a troca de ideias e experiências podem ajudar todos no processo de consolidação, sobrevivência e expansão. Juntos, poderemos gerar novos projetos e inovações que irão trazer impactos mais relevantes em diversas áreas do terceiro setor e do empreendedorismo social.

Acredito muito no trabalho em rede. Aliás, como membro da Rede Folha, sou impactado positivamente por esse pensar coletivo. Não poderia estar mais animado!

Eu tenho a plena convicção de que o Brasil está liderando uma transformação via empreendedorismo social. Em um cenário pós-eleição podemos, em Poços de Caldas (MG), pautar esse Brasil 2019. Juntos, os fazedores sociais darão a tônica de esperança e trabalho social que o país requer. Dentistas do Bem e empreendedores sociais, vejo vocês no Fiis!

Fábio Bibancos

Cirurgião-dentista graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), é especialista em odontopediatria e ortodontia, mestre em saúde coletiva, fundador da Turma do Bem e integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais

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