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Nova geração influencia investimento de impacto por famílias bilionárias

Fundos e family offices começam a mirar com força em bons negócios sociais e sustentáveis

Eliane Trindade
Poços de Caldas (MG)

A troca de gerações no comando de empresas e grupos econômicos faz bem às finanças sociais. É o que demonstra a evolução por faixa etária dos investimentos de impacto, aqueles alocados em negócios que aumentam a probabilidade e o ritmo de solução de problemas socioambientais.

"No Brasil, sentimos que as novas gerações são as grandes mobilizadoras dessas mudanças nas famílias: 89% dos herdeiros querem fazer investimentos de impacto", diz Rodrigo Tavares, fundador e presidente do Granito Group, que opera em São Paulo e Zurique.

Tavares presta serviços de consultoria e assessoria financeira para family offices, estruturas que gerem investimentos e patrimônio de grandes fortunas. Segundo ele, que integroru o painel "Nova Geração de Investidores de Impacto", realizado domingo (4), no Fiis, quanto mais velhos os clientes, menor o interesse em investimentos de impacto.

"Na geração X o índice é de 70%; entre os 'baby boomers' cai para 49%", diz o português radicado no Brasil, referindo-se respectivamente a investidores na faixa dos 40 e dos 60.

Fernando Setúbal e Rodrigo Pipponzi são a prova dessa evolução geracional entre famílias brasileiras de alta renda. Na faixa dos 30, eles começam a influenciar os investimentos do portfólio familiar.

"Minha família é dona de uma grande rede de varejo, e naturalmente começamos a ter discussões de como criar um legado e devolver para a sociedade", diz Pipponzi, filho do fundador da rede Droga Raia. "É um processo mudar mentalidades e mostrar que existe outra forma de fazer negócio e investir para gerar impacto positivo."

Os Pipponzi estão entre o grupo de 12 family offices que investem em seis negócios de impacto no Brasil com o suporte do ICE (Instituto de Cidadania Empresarial).

"Estamos caminhando para um mundo em que será antiético investir em empresa que só visa o lucro", afirma Célia Cruz, diretora do ICE, que abriga e articula a Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto.

O movimento de finanças sociais é global e vem sendo acompanhado por Fernando Setúbal, expoente da nova geração da família de banqueiros. No painel do Fiis, ele relatou viagens aos Estados Unidos e ao Reino Unido para ver de perto a tendência.

"O desafio é conseguir ampliar os investimentos e medir os diferentes níveis de impacto", diz Setúbal, que é doutor em economia e membro do comitê financeiro da Fundação Tide Setubal.

Chama a atenção do economista o fato de cada vez mais empresários buscarem negócios que tragam algum benefício à sociedade e sejam financeiramente sustentáveis.

Na esteira dessa tendência, fundos e consultorias têm atuado em um nicho cada vez mais relevante.

"O PIB combinado do mundo soma cerca de US$ 85 trilhões. Desses, US$ 23 trilhões, ou seja 27%, são de economia sustentável", explica o fundador do Granito Group. "Então, finanças sustentáveis não são algo periférico, marginal. Já correspondem a um quarto do mercado de capitais."

Para Célia Cruz, quando uma família de alta renda decide mover recursos para negócios de impacto socioambientais, acaba por alavancar uma série de outros atores no ecossistema.

"Nossa meta é que, até 2020, mais famílias brasileiras movam de 1% a 3% de seu portfólio para produtos de impacto. Para isso é preciso que os bancos entrem, oferecendo mais negócios e produtos com esse perfil", afirma Célia.

De acordo com o presidente do Granito Group, os family offices foram os últimos a chegar aos investimentos de impacto, globalmente. No entanto, atualmente 38% deles já fazem esse tipo de aposta, dentro do que Tavares chama de uma floresta de modelos e possibilidades sustentáveis de investimentos de impacto. "E 45% das famílias querem crescer seus portfólios nesta seara."

No Brasil, nos últimos anos, foram R$ 131 milhões de investimentos direcionados para a área. "Precisamos mover engrenagens para trazer mais capital para esse campo. Se olharmos para a filantropia e os investimentos do governo, não há recursos suficientes para bancar toda a inovação social de que o Brasil precisa."

Um discurso que encontra eco entre os mais jovens, segundo Tavares. "Várias famílias brasileiras têm Fernandos e Rodrigos, interessados em mobilizar investimentos de impacto dentro de seus family offices", conclui o consultor.


economia do bem

27% é a parcela da economia global que possui ativos geridos sob o ângulo da responsabilidade social e ambiental, o que corresponde a US$ 23 trilhões

1% desse mercado, apenas, é de investimentos de impacto, no qual os aportes são feitos em produtos ou serviços que geram impacto positivo mensurável

38% dos family offices (estruturas de gestão de patrimônio de famílias ricas) investem em empreendimentos sustentáveis

45% deles pretendem aumentar os investimentos desse tipo nos próximos 12 meses

Fonte: Global Sustainable Investment Alliance (GSIA); UBS

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