Quanto mais carente o empreendedor, maior o impacto social de seu negócio

Alavancar minorias reduz disparidades e agrega pontos de vista que estimulam a diversidade

Everton Lopes Batista
Poços de Caldas (MG)

Mulheres e moradores das periferias estão entre os que mais podem se beneficiar do empreendedorismo social. O impacto é ainda maior quando os negócios são desenhados pelos que mais precisam.

Para haver mais empresários com esse perfil, falta vencer o preconceito e dar capacitação para que eles próprios administrem seus negócios.

No caso das mulheres, é preciso desenvolver o espírito de liderança, algo com o qual nem sempre elas têm contato.

"Em nossa sociedade, elas não estão nesse lugar de destaque naturalmente. Temos de trabalhar inclusive com os homens, para que eles entendam que a mulher pode, sim, liderar", afirmou Giuliana Ortega, diretora-executiva do Instituto C&A.

Outro desafio é a jornada ampliada de trabalho doméstico. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que elas gastam até 73% mais tempo com essas atividades do que eles.

O projeto Biografias Colaborativas, feito pelo laboratório Sanofi em parceria com a NBS Social Marketing, é exemplo de ação planejada para atacar esses problemas.

Cinco empreendedoras da periferia paulistana foram selecionadas para participar de encontros de mentoria com executivos da Sanofi e receber orientação nas áreas onde tinham mais dificuldade.

A história do grupo está registrada em livros que levam o nome do projeto e serão lançados no dia 22 de novembro.

Outro grupo que encontra desafios para pôr suas ideias em prática são os empresários negros da periferia.

O preconceito é uma das maiores barreiras para que os pedidos de crédito desses empreendedores sejam atendidos, segundo Rosenildo Ferreira, um dos fundadores da aceleradora Vale do Dendê, de apoio a startups de periferia.

Outro problema é o distanciamento entre quem planeja os negócios e o local onde eles serão implantados.

A aceleradora NIP (Negócios de Impacto Periférico), iniciativa da produtora cultural A Banca, surgiu para diminuir essa distância.

"A ideia é jogar luz sobre empreendedores dessas áreas. É como colocar uma escada nesse abismo", segundo DJ Bola, fundador da A Banca.

Essa escada pode ser uma alavanca para a economia brasileira. "Quando você faz girar a economia da base da pirâmide social, você provoca uma transformação no país", acredita Carlos Humberto, criador da Diáspora Black, plataforma de hospedagens voltada à população negra presente em 19 países.

Capacitar é fundamental. Alvimar da Silva, idealizador do JaUbra, um "uber" que atende a periferia, conta que levou um tempo até perceber que precisava encarar cursos de negócios e tecnologia.

"Enquanto aprendia a lidar com o aplicativo, muitas vezes eu queria voltar para a folha de papel. É difícil aprender a usar tecnologia, mas sem ela nós não avançamos."

O caminho para reduzir as disparidades e trazer ao jogo pontos de vistas diferentes, que podem gerar soluções mais completas e abrangentes, é um ensino que promova diversidade e inclusão.

E trazer diversidade para as organizações depende de esforço constante e consciente, de acordo com Lucas Bernar, representante do movimento Choice, que reúne jovens empreendedores de todo o país.

Por vezes, a diversidade surge naturalmente –e aí os gestores precisam estar atentos.

Wagner Gomes, economista e diretor de negócios da Adel (Agência de Desenvolvimento Econômico Local), organização que já atua em mais de 40 cidades do Nordeste, conta que cerca de 90% dos jovens filhos de agricultores inscritos no programa de formação da agência são mulheres. A predominância forçou a oxigenação, incluindo a diversidade de forma natural.

Ao fim e ao cabo, ensinar a empreender num contexto de limitações é mais do que gerar renda. É, como ressaltou Rodrigo Brito, gerente de Operações no Instituto Coca-Cola e criador da Aliança Empreendedora, que apoia microempreendedores de baixa renda, potencializar a criatividade e a autoestima de homens e mulheres que trabalham para mudar o ambiente onde vivem.

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