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Botox é aplicado mais cedo, de forma preventiva, e com súplicas de naturalidade

O objetivo do procedimento é diminuir a força de contração dos músculos e fazer com que as rugas não virem vincos definitivos

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São Paulo

Certa vez ouvi de uma dermatologista: "se você não parar de mexer tanto a testa enquanto fala, vou ter que colocar Botox!". Antes da ameaça, ela havia me aconselhado a deixar um espelho na minha mesa de trabalho para que eu ficasse policiando minhas expressões faciais –isso foi antes da pandemia de Covid-19, quando não ficávamos de olho em cada detalhe dos nossos rostos durante as reuniões virtuais.

Saí do consultório 1) muito incomodada com a sugestão de que eu deveria mudar a forma como me expresso, como se isso fosse desejado ou mesmo possível, e 2) encafifada com o peremptório "vou ter que", como se não fosse possível ter rugas e não colocar Botox.

O fato é que há cada vez menos rugas por aí. A aplicação de toxina botulínica é o principal procedimento não cirúrgico realizado no mundo (43% do total), seguido por injeção do preenchedor ácido hialurônico (28,1%), remoção de pelos (12,8%), redução não cirúrgica de gordura (3,9%) e fotorrejuvenescimento (3,6%), de acordo com a pesquisa anual sobre procedimentos estéticos/cosméticos da Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, em português). Os dados são de 2020 e foram divulgados em dezembro de 2021. Cerca de 85% dos procedimentos não cirúrgicos foram realizados em mulheres.

Ilustração da silhueta de uma mão segurando uma seringa, na qual está escrito 'botox'. Fundo azul escuro, mão totalmente preta, e seringa vermelha, com Botox em amarelo
A toxina botulínica, conhecida como Botox, tem sido aplicada mais cedo e de forma mais natural - Débora Gonzales/Folhapress

Campeão nos consultórios, o Botox (nome comercial da toxina da marca Allergan) tem sido aplicado mais cedo, de forma preventiva.

"O objetivo é diminuir a força da contração dos músculos e fazer com que as rugas de expressão não virem vincos definitivos. Não tem idade certa. Às vezes há pacientes muito jovens, de 30 e poucos anos, e muito expressivos, com muitas marcas, e tem gente mais velha que não tem tendência de enrugar. É preciso avaliar cada um", diz Alessandra Romiti, assessora do departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Segundo ela, peles mais finas, mais claras e ressecadas têm maior tendência a rugas.

"Hoje sabemos que a toxina modifica a contração excessiva dos músculos e deixa o processo de envelhecimento mais suave. Não é banalizar a aplicação, mas compreender que é melhor prevenir", diz o dermatologista Rubens Pontello.

Não é só a indicação da hora certa para realizar o procedimento que mudou. A intensidade da aplicação está menor, e segundo dermatologistas, há até quem queira deixar algumas rugas de propósito, para evitar exageros e deixar o resultado mais natural, quase despercebido.

"Não tem como deixar o paciente como um boneco de cera, uma pessoa de 70 anos com a cara totalmente esticada. Hoje todo mundo quer envelhecer com dignidade. Os pacientes me dizem 'não quero mudar meu rosto, quero só um pouco de Botox' ou 'pode deixar esse meu pé de galinha'. Eles estão com medo, pedem resultados naturais. Há uma tendência da dermatologia de caminhar nessa linha", diz Romiti.

Segundo Pontello, as pessoas têm "pavor" de resultados artificiais, uma vez que alguns ficaram "transfigurados". "Hoje os pacientes pedem mais para tirar o ar de cansaço do que para acabar com todas as rugas. Busca-se mais suavizar do que paralisar. A meta é manter a expressão, a naturalidade, a movimentação da musculatura", afirma.

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a toxina começa a apresentar resultados entre 7 e 14 dias depois da aplicação. Esse efeito dura cerca de três a seis meses até desaparecer gradativamente, enquanto a ação muscular retorna.

Após a aplicação é possível sentir dores e até edemas podem aparecer em torno do local da injeção, mas é preciso ter cuidado para não pressionar ou massagear a área nas horas após o procedimento. Em casos raros, os pacientes podem desenvolver fraqueza temporária dos músculos vizinhos, dor de cabeça, além de sobrancelha e/ou pálpebra caída, também temporariamente.

Romiti lembra que a toxina botulínica tem riscos, como qualquer procedimento. "O que a gente faz é minimizar riscos com ambiente adequado, profissional especialista. Sem uma avaliação médica, os erros podem incluir o material usado, a dose, os pontos em que o produto é injetado e a diluição da toxina. A toxina pode não pegar ou podem ocorrer complicações como assimetria, queda de sobrancelha ou de pálpebra, entortar o sorriso."

Em janeiro ​​deste ano, um caso de mau uso da toxina ficou famoso. Uma cirurgiã-dentista de Porto Alegre (RS) foi presa em flagrante por utilizar um produto ilegal, segundo a Polícia Civil do estado. Durante as buscas no consultório foram localizados frascos com a inscrição Israderm e a indicação de Israel como país de origem. A fabricante não tem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e seu uso é proibido no Brasil.

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