Descrição de chapéu The New York Times Corpo

Medicamentos comuns podem aumentar a pressão arterial, diz estudo

Contraceptivo oral com estrogênio, antidepressivos e anti-inflamatórios não esteroides são alguns deles

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jane E. Brody
The New York Times

A hipertensão arterial continua sendo uma das principais causas de morte e incapacidade nos Estados Unidos hoje. Quase a metade dos adultos tem pressão alta e só um quarto deles mantém a pressão sob controle, o que os coloca sob maior risco de ataque cardíaco, derrame, demência, doença renal e outras doenças.

Antes da pandemia de coronavírus, a pressão alta causava ou contribuía para mais de 500 mil mortes por ano nos EUA, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo americano). Esses números provavelmente aumentaram, pois as leituras de pressão arterial dispararam durante a pandemia.

Você pode ter pensado por muito tempo que sua pressão arterial estava dentro dos limites normais. Mas em 2017, com base em melhores dados de longo prazo, os especialistas reduziram os números que constituem uma pressão arterial saudável, resultando em uma proporção maior da população com essa condição de risco.

Cartelas de pílulas anticoncepcionais em linha de produção em fábrica, em São Paulo - 03.dez.2010 - Eduardo Knapp/Folhapress

O antigo limite superior da pressão arterial "normal", que se acreditava ser de 140 por 90 milímetros de mercúrio (14x9), foi reconhecido como muito alto para evitar sérios problemas de saúde em longo prazo. O limite superior atual da pressão normal é 130 por 80 (13x8), e uma pressão arterial consistentemente acima de 120 por 80 (12x8) hoje é considerada problemática.

Há muitas razões para a alta taxa de hipertensão descontrolada, o termo médico para pressão alta, nos EUA.

O excesso de peso e, para muitos, o consumo excessivo de sal lideram a lista, seguidos pelo uso inconsistente de remédios prescritos por médicos e pela não adoção de hábitos de vida que possam reduzir a pressão arterial elevada.

Agora, um novo estudo destacou outro problema muitas vezes desconhecido para os pacientes e negligenciado pelos médicos, que pode complicar o tratamento da hipertensão e engrossar as fileiras de pessoas com pressão alta descontrolada: o grande número de medicamentos e suplementos que elas tomam, alguns dos quais podem aumentar a pressão arterial e minar os benefícios de um tratamento eficaz.

O estudo envolveu 27.599 adultos, 35,4% dos quais com hipertensão descontrolada, que fizeram parte das Pesquisas Nacionais de Exames de Saúde e Nutrição no país.

As pesquisas periódicas, que são conhecidas como NHANES e acompanham a saúde de uma amostra representativa de americanos, descobriram que muitas pessoas tomaram medicamentos e outras substâncias que poderiam aumentar uma pressão arterial normal ou limitar a eficácia do tratamento prescrito para reduzir a pressão arterial elevada.

Entre os adultos da pesquisa, 17,5% cuja hipertensão não estava adequadamente controlada tomavam medicamentos prescritos que podem aumentar a pressão arterial, relataram os pesquisadores. E 18,5% dos participantes da pesquisa com hipertensão que foi efetivamente tratada também tomavam esses medicamentos, sugerindo que algumas dessas pessoas podem não precisar de tratamento para pressão arterial.

O estudo foi publicado online no ano passado na JAMA Internal Medicine. Seu principal autor, Timothy S. Anderson, médico de atenção primária no Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, disse que ele e seus colegas esperavam alertar mais médicos e pacientes sobre as maneiras como os medicamentos ou outras substâncias podem contribuir para o aumento da pressão arterial.

A maior conscientização seria especialmente útil antes que os pacientes recebam medicamentos para baixar a pressão arterial ou medicamentos mais potentes para aumentar a eficácia do tratamento atual.

Para algumas condições médicas não relacionadas à hipertensão, a mudança de medicamento pode trazer a pressão arterial elevada do paciente de volta ao normal.

Por exemplo, os autores do estudo sugeriram que as mulheres que tomam um contraceptivo oral contendo estrogênio, que pode aumentar a pressão arterial, podem mudar para um anticoncepcional à base de progestógeno, ou não hormonal. Da mesma forma, aqueles que tomam um anti-inflamatório não esteroide, ou AINE, para controlar a dor, podem usar paracetamol.

Há uma longa lista de medicamentos prescritos, bem como medicamentos de venda livre e substâncias recreativas e suplementos, que podem interferir no tratamento eficaz da hipertensão.

Além de medicamentos contendo estrogênio e AINEs, a lista inclui medicamentos amplamente utilizados, como antidepressivos e esteroides orais, como cortisona; substâncias como nicotina, álcool e cocaína; suplementos de ervas como alcaçuz ou ginseng; e, claro, sal. A cafeína também pode aumentar a pressão arterial em curto prazo em algumas pessoas.

Quando os médicos não perguntam aos pacientes o que mais eles estão tomando, usando ou consumindo que poderia afetar a pressão arterial –ou se os pacientes não mencionam todos os remédios à base de plantas e não prescritos que tomam–, os pacientes podem receber prescrição de um medicamento para pressão arterial desnecessário ou mais potente, que pode ter efeitos colaterais incômodos.

Dr. Anderson disse que os médicos "foram ensinados a indagar aos pacientes inicialmente sobre outros medicamentos que podem aumentar a pressão arterial, mas os pacientes não são necessariamente verificados para o uso dessas drogas ao longo do tempo".

Ele disse que é importante os médicos obterem bons históricos clínicos, incluindo o que pode ter mudado na vida dos pacientes desde que a pressão arterial estava sob controle.

"Talvez tenha havido uma mudança na dieta que causou um rápido aumento da pressão arterial", disse o doutor Anderson. "Por exemplo, alguns pacientes são muito sensíveis ao sal", disse ele. "Juntamente com idade e peso, é o mais forte preditor de pressão alta ao longo do tempo."

Mudar apenas um alimento com alto teor de sal consumido com frequência, como pizza, carnes curadas ou sopa enlatada, pode bastar para diminuir o risco de hipertensão.

Para complicar as coisas, as reações das pessoas a várias substâncias, como os antidepressivos ISRS, comumente prescritos, são "muito idiossincráticas", explicou ele. "Um ISRS específico pode ter um alto impacto na pressão arterial em alguns pacientes, mas não em outros."

Para pacientes com hipertensão que precisam tomar um medicamento que pode aumentar a pressão arterial, o dr. Anderson aconselha o uso de um monitor de pressão arterial em casa. Um aumento súbito da pressão arterial após o início de um novo medicamento pode ajudar a alertar o médico para a necessidade de mudar para um remédio alternativo, se houver um disponível.

Mesmo que você tenha pressão arterial normal por cinco décadas ou mais, há 90% de chance de desenvolver hipertensão à medida que envelhece, o que torna ainda mais importante modificar riscos como sal na dieta e excesso de peso enquanto você está ainda está saudável.

Até uma modesta perda de peso de 5 kgs pode reduzir o risco de desenvolver hipertensão e diminuir a pressão arterial em pessoas com sobrepeso que já têm essa condição.

Outro preditor comum é um estilo de vida sedentário. Adotar o hábito de atividade física regular pode ajudar as pessoas a manter a pressão arterial normal ao longo da vida. Outras medidas eficazes para controlar a hipertensão incluem parar de fumar e limitar o consumo de álcool.

"Mesmo uma redução modesta do fumo e da bebida pode ter um impacto positivo na pressão arterial", disse o dr. Anderson.

Antes de iniciar a medicação para hipertensão, mostre ao seu médico uma lista de todos os medicamentos –prescritos ou não– que você toma e divulgue quaisquer substâncias problemáticas, especialmente grandes quantidades de sal na dieta, que você usa ou ingere regularmente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.