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Óleos essenciais podem causar dermatite, urticária e erupções na pele

Mesmo produtos fabricados em laboratórios têm riscos; uso exige acompanhamento profissional

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Jessica Schiffer
The New York Times

Quando Kristen Fanarakis saiu de um tratamento facial num salão de estética natural em Atlanta, nos Estados Unidos, seu rosto não ostentava o brilho fresco que ela esperava ver.

"Parecia que minha pele estava caindo", ela disse. Para Kristen, o resultado após o procedimento foi mais parecido com um tratamento a laser Fraxel, que pode deixar a paciente com pele vermelha e descamando por dias. "Eu estava parecendo uma Frankenstein."

Não foi uma reação normal para ela, que tem 44 anos e é fundadora de uma marca de roupas. Kristen tem o que descreve como "pele grega forte" que é capaz de resistir a peelings químicos regulares e uso frequente de retinol. Mas parece que sua pele não suportou os óleos essenciais de mamão e abóbora usados no tratamento.

Ilustração óleos essenciais
Óleos essenciais podem causar estragos na pele - Chloe Zola/The New York Times

"Os cuidados com a pele são uma ciência", ela comentou. "Supor que uma coisa dita ‘natural’ é melhor é arriscado. Não faltam compostos na natureza que nos fazem mal."

A dermatologista Annie Gonzalez, em Miami, vem observando um aumento nas reações negativas a óleos essenciais, que descreveu como uma das grades causas de dermatite alérgica de contato. Segundo ela, a situação se agravou durante a pandemia porque as pessoas isoladas em casa começaram a fazer experimentos usando óleos essenciais como remédios caseiros.

"Está ficando mais problemático porque as pessoas estão usando formas não diluídas desses óleos para fazer seus próprios produtos", disse a dermatologista.

Mas produtos fabricados em laboratório podem ser igualmente problemáticos.

Em fevereiro passado, Gabrielle Puig, 21, estudante na Universidade George Washington, decidiu testar a máscara Jet Lag da Summer Fridays, uma marca muito elogiada de produtos para a pele divulgados pela influenciadora Mariana Hewitt, para hidratar sua pele ressecada. Minutos depois de aplicar a máscara seu rosto começou a arder e formigar de uma maneira que parecia contraproducente.

"Tirei a máscara na hora", contou Puig. "Minha pele estava ainda mais vermelha e irritada que antes." Depois de ler a lista de ingredientes, ela concluiu que os culpados eram os óleos de hortelã e cítrico.

Em janeiro, depois de receber uma série de resenhas negativas que mencionavam erupções cutâneas e urticária como efeitos colaterais, a Summer Fridays postou um pedido de desculpas a seus clientes.

A empresa atribuiu as reações ao fato de que um lote do produto teria sido comprometido por um fabricante terceirizado, mas destacou que procuraria tirar os óleos essenciais de seus produtos, "para mitigar qualquer potencial futuro de irritação".

Por que óleos essenciais são tão arriscados

Para entender por que óleos essenciais podem ser arriscados para a pele, é útil saber o que eles são ou não são. Extraídos de flores, cascas, caules, folhas, raízes e frutos selecionados através de destilação ou prensagem a frio, os óleos essenciais são componentes químicos altamente concentrados que contêm a essência ou aroma de uma planta.

"É preciso um volume grande de material vegetal para processar os óleos; logo, eles geralmente têm concentrações de ingredientes ativos muito mais altas do que estamos acostumados a encontrar", explicou o químico de cosmetologia David Petrillo, de Los Angeles. Eles são muito mais concentrados do que óleos populares como os de coco ou argan, por exemplo. Estes são vistos como óleos "vetores" que são mais suaves e frequentemente são usados para diluir óleos essenciais mais fortes.

Embora seja possível sofrer uma reação alérgica a qualquer óleo essencial, alguns sabidamente encerram riscos maiores que outros.

Os óleos cítricos, incluindo os de limão, laranja e bergamota, são especialmente perigosos porque podem ser fototóxicos –ou seja, reagem à luz ultravioleta e podem provocar queimaduras e bolhas na pele. Os óleos de casca de canela, cravo, capim-limão, orégano, hortelã e jasmim também sabidamente causam irritações.

Mas o óleo essencial que causa estragos com mais frequência é também um dos mais recomendados por naturopatas e entusiastas dos cuidados naturais com a pele.

"O mais arriscado de todos é o óleo de melaleuca [em inglês, tea tree oil]", disse Gonzalez. "Recebo inúmeras pacientes com acne ou fungos que acreditam piamente que o óleo de melaleuca é um remédio milagroso para praticamente tudo."

Pacientes que usam muito óleo de melaleuca não diluído comprado em farmácias para máscaras faciais ou para tratar espinhas, acabam agravando a condição da pele e desenvolvendo tinha incígnita, uma infecção fúngica que é mascarada e frequentemente exacerbada pela aplicação de um agente tópico.

"Fica ainda mais difícil para mim diagnosticar o problema principal, e fica mais complicado resolver, porque agora você precisa reparar a barreira da pele que foi comprometida pelo uso desses óleos", falou Gonzalez.

Como fazer experimentos com beleza limpa sem riscos

Não existe uma abordagem única aos óleos essenciais, e erradicá-los totalmente de sua vida não parece ser a resposta mais adequada. "A maior parte do que utilizamos na indústria da beleza na realidade está numa zona cinza: algumas pessoas podem usar sem problema e outras não podem", disse Gonzalez. "Digo aos pacientes que depende realmente da dosagem, da concentração e da fonte."

Especialistas recomendam que as pessoas procurem concentrações diluídas de 0,5% a 1% ou menos, de preferência misturadas com um óleo vetor menos reativo como o de argan ou coco. Como muitas marcas não informam as concentrações, basta realizar um simples teste de cheiro: se for muito perfumado, é mais provável que irrite sua pele.

Para Gonzalez, o mais seguro é fazer um teste de contato na parte interna do braço e deixá-lo descansar por 48 horas, sem lavar, para ver como sua pele reage. Pessoas com problemas de pele preexistentes como psoríase, rosácea ou eczema devem ser especialmente cautelosas.

Tradução de Clara Allain

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