Pão sem glúten é menos saboroso e não tem tantos nutrientes quanto o normal

Especialistas recomendam apenas para pessoas com doença celíaca, sensibilidade à substância ou alergia ao trigo

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Alice Callahan
The New York Times

No meu supermercado, a seção de pães se estende por um corredor inteiro. E entre essas ondas castanhas de pães, bagels e bisnagas há algumas opções sem glúten, que podem custar cerca de duas vezes mais que suas contrapartes à base de trigo. Elas são uma escolha mais nutritiva?

Como costuma ser o caso das perguntas sobre nutrição, a resposta dependerá da sua circunstância individual, disse Jerlyn Jones, porta-voz da Academia de Nutrição e Dietética e nutricionista em Atlanta, nos Estados Unidos.

Mas, para a maioria das pessoas, escolher um pão sem glúten em vez de um à base de trigo não é uma opção inerentemente mais nutritiva, acrescentou ela. Além disso, pães sem glúten podem não agradar porque geralmente são mais caros e têm vida útil mais curta, disse a porta-voz.

Pão sem glúten tem menos nutrientes do que o tradicional - Leo Feltran/Divulgação

O glúten é uma proteína encontrada nos grãos de trigo, cevada e centeio. No pão tradicional feito de farinha de trigo, o glúten forma uma rede de proteínas que torna a massa coesa e elástica, dando ao pão uma textura macia e agradável.

Mas o glúten ou outros componentes do trigo podem causar problemas de saúde em algumas pessoas.

Para o cerca de 1% da população mundial que tem doença celíaca, uma condição autoimune grave desencadeada pela ingestão de glúten, a proteína causa danos intestinais que podem prejudicar a absorção de nutrientes e gerar sintomas como diarreia, emagrecimento, fadiga, anemia e erupção cutânea com bolhas e coceira. A única maneira eficaz de controlar a doença celíaca é evitar o glúten estritamente e ao longo da vida toda.​

Para outros com sensibilidades mais leves relacionadas ao trigo, comer o grão não causa os danos intestinais encontrados na doença celíaca, mas pode provocar desconforto gastrointestinal e sintomas como fadiga e dor de cabeça, que geralmente desaparecem quando o trigo é evitado. Não está claro quantas pessoas têm essa condição, chamada sensibilidade não celíaca ao glúten, mas pode ser mais comum que a doença celíaca.

Uma terceira condição relacionada ao trigo, muito menos comum, é uma alergia que pode causar reações como diarreia, vômito, inchaço facial ou dificuldade para respirar minutos a horas depois da ingestão de trigo.

Se você tem doença celíaca, sensibilidade ao glúten ou alergia ao trigo, optar por um pão sem glúten é claramente a melhor escolha. Mas em uma pesquisa de 2017 com mil pessoas nos EUA e no Canadá que compraram mantimentos sem glúten –conduzida pelo fornecedor de ingredientes de alimentos e bebidas Ingredion–, 46% disseram que compraram esses produtos por outros motivos que não uma condição médica.

Entre suas principais motivações: querer reduzir a inflamação ou consumir menos ingredientes artificiais, acreditar que os produtos sem glúten eram mais saudáveis ou mais naturais e pensar que esses produtos ajudariam na perda de peso.

No entanto, nenhuma dessas teses é verdadeira, disse Anne R. Lee, nutricionista e professora assistente de medicina nutricional no Centro de Doença Celíaca do Centro Médico da Universidade de Columbia. "Normalmente, os produtos sem glúten têm mais gordura, mais açúcar, mais sal e menos fibras, vitaminas do complexo B e ferro", disse ela.

Fazer pão sem glúten é um desafio tecnológico, e os fabricantes tendem a confiar em ingredientes como farinhas refinadas de arroz, batata ou tapioca, que contêm muito menos proteínas e fibras do que as farinhas de trigo, disse Lee.

A maioria das farinhas de trigo refinadas usadas nos EUA são enriquecidas com ferro e as vitaminas do complexo B ácido fólico, niacina, riboflavina e tiamina, enquanto as farinhas usadas em produtos sem glúten geralmente não contêm esses nutrientes adicionados.

Os fabricantes de pães sem glúten também costumam adicionar açúcar, gordura e sal a seus produtos para torná-los mais saborosos, disse Lee. E em parte porque os pães sem glúten tendem a conter mais água, gordura e amido refinado do que os pães à base de trigo, eles estragam e envelhecem mais rapidamente.

Por essas razões, o pão sem glúten nem sempre é a melhor escolha. "Se você acha que tem intolerância ao glúten, antes de tirá-lo de sua dieta consulte um gastroenterologista e realmente faça o teste apropriado", disse a dra. Lee. Um benefício adicional: a doença celíaca é mais difícil de diagnosticar em pessoas que já eliminaram o glúten.

A qualidade de vida também deve ser considerada. Restringir sua dieta pode deixá-lo mais ansioso em situações sociais ou torná-lo mais relutante em experimentar alimentos caseiros nas refeições em família, disse Jones. A comida "não é apenas combustível para nossos corpos, mas também nos dá prazer. Você não quer perder o prazer, especialmente hoje em dia", acrescentou ela, referindo-se a quem evita o glúten sem motivo médico.

Para seus pacientes que precisam eliminar o glúten, a doutora Lee aconselha focar menos em produtos embalados sem glúten e mais em alimentos integrais como frutas, legumes, feijão e grãos integrais sem glúten e sementes como amaranto, trigo sarraceno, quinoa, teff e milho.

"Se você fizer uma dieta sem glúten usando alimentos naturalmente sem glúten, como todos esses grãos maravilhosos, sua dieta pode ser incrivelmente saudável", disse ela.

Mas se você estiver desejando um sanduíche, vai precisar de pão. A boa notícia é que os produtos sem glúten melhoraram –"eles estão melhores do que há cinco anos", disse a dra. Lee. Muitos fabricantes começaram a incluir mais grãos integrais sem glúten em seus produtos, o que pode aumentar as fibras, proteínas e algumas vitaminas e minerais.

Assim como os pães à base de trigo podem variar amplamente em qualidade nutricional, de pão branco altamente processado a pães integrais, o mesmo vale para as opções sem glúten, disse Lee.

Para identificar os melhores pães sem glúten, Lee recomenda comparar seus rótulos nutricionais com os de pães integrais. Verifique se há níveis semelhantes de fibra e proteína e adição mínima de açúcar, e procure um pão com grãos integrais entre os primeiros ingredientes, que são listados em ordem decrescente de peso, de modo que o primeiro ingrediente sempre está presente em maior quantidade.

"Se os primeiros ingredientes forem água e amido de tapioca, coloque o pão de volta na prateleira", disse Lee.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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