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Enxaqueca atinge mais mulheres e requer tratamento personalizado

Cuidados para este tipo de dor avançaram nos últimos anos, mas pesquisas ainda são subfinanciadas

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Melinda Wenner Moyer
The New York Times

Se você não sofre de enxaqueca, provavelmente conhece pelo menos uma pessoa que sofre. Quase 40 milhões de americanos têm esse problema –28 milhões deles são mulheres e meninas–, o que torna a enxaqueca a segunda condição mais incapacitante do mundo depois da dor nas costas. Vários estudos descobriram que a enxaqueca também se tornou mais frequente durante a pandemia.

Eu tenho enxaqueca e dor de cabeça, mas felizmente são mais bizarras do que terríveis. Com intervalos de semanas, a enxaqueca ocular obscurece minha visão com estranhas luzes em ziguezague durante meia hora. E uma ou duas vezes por ano tenho ataques que causam perda temporária de memória.

(Um desses ocorreu quando eu fazia compras e eu não conseguia lembrar em que mês ou ano estava, o que eu tinha ido comprar ou quantos anos meus filhos tinham.)

Ilustração de uma cabeça colorida. Ao centro está com um pedaço faltando com o formato de uma estrela de várias pontas. Esse pedaço está ao lado da cabeça no chão. O fundo inteiro é azul claro.
Especialista acredita que a enxaqueca recebe menos investimento na pesquisa de tratamentos por ser uma doença que atinge mais mulheres - Delcan and Co./The New York Times

Apesar de a enxaqueca ser tão comum, a pesquisa sobre a doença tem sido subfinanciada há muito tempo. Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos gastaram apenas US$ 40 milhões em pesquisas sobre essa condição em 2021; em comparação, investiram US$ 218 milhões na pesquisa de epilepsia, que aflige um número 12 vezes menor de americanos. Por que essa condição devastadora é, lamentavelmente, tão pouco estudada?

"É uma doença de mulheres", explicou Robert Cowan, neurologista e ex-diretor do Programa de Dor de Cabeça de Stanford (EUA). Em outras palavras, disse ele, o sexismo quase certamente desempenha um papel na apatia da medicina em relação a essa doença.

A boa notícia é que ao longo dos últimos anos o meio médico se interessou mais pela questão e diversos novos tratamentos para enxaqueca foram aprovados pela FDA (Agência de Alimentos e Drogas do governo americano). Alguns deles são bastante promissores. Aqui está o que os que sofrem de enxaqueca devem saber sobre o cenário atual de tratamentos.

Identifique os sintomas e obtenha um diagnóstico

Muitos daqueles que tem enxaqueca sofrem em silêncio. "Menos de 30% das pessoas com enxaqueca procuram aconselhamento médico, e apenas alguns desses pacientes receberão um tratamento adequado", disse Santiago Mazuera, neurologista do Instituto Sandra e Malcolm Berman do Cérebro e da Coluna, em Baltimore.

A enxaqueca é um distúrbio neurológico e difere das dores de cabeça comuns. É provável que as pessoas sofram de enxaqueca se tiverem tido pelo menos cinco crises de dor de cabeça na vida, cada uma com duração de quatro a 72 horas, e se a dor atender a dois destes quatro critérios: latejamento ou pulsação; ocorre só em um lado da cabeça; é moderada a grave; piora com a atividade. Além disso, essas crises devem causar náusea ou sensibilidade à luz e ao som.

Se você acha que pode ter enxaqueca, consulte seu médico de cuidados primários, sugeriu Mazuera. "Há uma melhor compreensão da enxaqueca na comunidade de cuidados primários nos últimos anos e mais conhecimento sobre os tratamentos mais recentes", disse ele.

Mas se você não estiver recebendo a ajuda de que precisa talvez queira consultar um especialista em dor de cabeça ou neurologista, disse Seniha Ozudogru, neurologista da Penn Medicine. Pessoas com enxaqueca também correm maior risco de sofrer outros distúrbios, incluindo doenças cardíacas, derrame, epilepsia, ansiedade e depressão.

Faça mudanças no estilo de vida

Se você tem enxaqueca, considere manter um diário da dor de cabeça ou baixar um aplicativo de enxaqueca para identificar possíveis gatilhos. As mulheres, por exemplo, muitas vezes têm dor de enxaqueca logo antes da menstruação. Ela pode ser tratada de várias maneiras, inclusive com um adesivo de estrogênio, disse Cowan.

Outros gatilhos comuns de enxaqueca incluem estresse, excesso ou falta de sono, ingestão de cafeína ou álcool, mudanças climáticas, certos alimentos, desidratação, luz e odores específicos, de acordo com a Fundação Americana da Enxaqueca.

Muitas vezes, os gatilhos são parciais e aditivos: você pode não ter uma crise de enxaqueca depois de beber um copo de vinho tinto, mas um copo de vinho tinto e uma noite mal dormida podem provocá-la, disse Cowan.

Um diário de dor de cabeça também pode ajudá-lo a identificar seus gatilhos e descobrir se você tem enxaqueca crônica, que é definida como dores de cabeça em 15 ou mais dias por mês durante por mais de três meses, e quando pelo menos oito dessas dores de cabeça têm características de enxaqueca.

Com base nos sintomas e na frequência, o médico pode lhe recomendar um tratamento preventivo de enxaqueca para impedir que a dor de cabeça comece. Esses tipos de medicamentos incluem antidepressivos como amitriptilina, medicamentos para pressão arterial, como propranolol, e para epilepsia, incluindo valproato, disse Cowan.

O problema desses medicamentos é que muitas vezes "têm efeitos colaterais desagradáveis", disse o médico, por isso nem sempre são recomendados ou tolerados. Eu tomei propranolol brevemente para controlar minhas enxaquecas, mas toda vez que me exercitava ficava tonta e desmaiava.

Se não ver melhora, procure novos tratamentos

Nos últimos cinco anos, um punhado de novos medicamentos e dispositivos foram aprovados para prevenção e tratamento da enxaqueca aguda.

Muitos desses medicamentos bloqueiam a atividade de uma proteína relacionada à dor chamada CGRP, explicou Ozudogru. Estes incluem, para prevenção da enxaqueca, anticorpos monoclonais que são periodicamente injetados ou administrados por via intravenosa.

Existem também pílulas, chamadas gepantes e ditans (com marcas como Nurtec ODT, Ubrelvy e Reyvow) que podem ser tomadas no início da enxaqueca para bloquear a atividade da CGRP. Rimegepant (Nurtec ODT) foi aprovado pela FDA para prevenir e tratar a enxaqueca, disse Ozudogru, o que é notável porque a maioria dos medicamentos faz apenas uma coisa ou outra.

Esses medicamentos não parecem ter efeitos colaterais significativos, disse Cowan –embora possam causar náusea leve–, mas geralmente não são prescritos até que a pessoa tenha tentado vários tratamentos de primeira linha.

Isso acontece principalmente porque os novos medicamentos são caros, disse ele. Segundo Ozudogru, alguns médicos também são cautelosos ao tentar os tratamentos mais recentes porque são muito novos e ninguém pode dizer se são seguros em longo prazo. Entre outras coisas, a CGRP ajuda o corpo a se curar de derrames, portanto, as drogas que inibem a atividade da CGRP podem dificultar a recuperação de alguém que sofra um derrame, disse ela.

Outro medicamento que foi aprovado para tratar a enxaqueca crônica é a droga cosmética Botox. É injetada em áreas ao redor da cabeça e do pescoço e acredita-se que funcione bloqueando substâncias químicas que transportam sinais de dor para o cérebro.

"Eu gosto muito do Botox", disse Cowan. Mas, ele acrescentou, "nem todo mundo aguenta ser espetado na cabeça 31 vezes, mesmo com uma agulha minúscula". Normalmente, também, o tratamento com Botox é repetido a cada 12 semanas.

Vários dispositivos médicos também foram aprovados nos últimos anos para controlar a enxaqueca. "Eles têm bons dados", disse Cowan, e são ideais para pessoas que não toleram medicamentos ou estão grávidas.

Gammacore, um dispositivo portátil, tem como alvo o nervo vago no pescoço. Nerivio, um dispositivo controlado por smartphone aplicado no braço, usa sinais elétricos para interromper os caminhos da dor. Cefaly estimula o nervo trigêmeo na testa e Relivion também estimula o occipital.

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves

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