Terapia vira pré-requisito para relacionamento entre os mais jovens

Para outros, as consultas com o psicólogo não são indispensáveis, mas é necessário cuidar da saúde mental

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Alyson Krueger
The New York Times

Assim como a maioria das pessoas que pretendem namorar, Elyse Fox, 32, uma modelo que mora no bairro do Brooklyn, em Nova York, procura um parceiro que seja gentil, bonito, inteligente e engraçado. Ela espera que ele goste de viajar, esteja disposto a um compromisso e se comunique bem. Mas ela tem uma exigência rígida: ele deve estar trabalhando sua saúde mental, de preferência em terapia regular.

Ela decidiu criar essa regra algumas semanas atrás, depois de sair com um cara que descarregou seus problemas nela. "Durante um lindo jantar com vinho, ele despejou todos aqueles traumas e coisas da infância que eu não tinha perguntado", disse Fox.

Como alguém que faz terapia, ela sente que trabalha proativamente em relação a seus problemas. Por isso quer um parceiro com a mesma mentalidade. "Eu adoro uma pessoa que sabe cuidar de si mesma", disse.

Ilustração de uma moça jovem deitada mexendo no celular
Terapia vira pré-requisito para os mais jovens se relacionarem - Camille Deschiens/The New York Times

Às vezes ela encontra naturalmente a informação que procura. Enquanto desliza o dedo por aplicativos de namoro, vê um perfil que menciona terapia. "Mesmo que eu não me sinta atraída fisicamente por eles, isso me empurra a dar 'match'", disse ela.

Outras vezes, ela garimpa. Quando conhece pessoas, Fox encontra uma maneira de trazer o assunto à tona. "Eu faço certas perguntas", disse ela, como: "Parece que você tem um trabalho muito estressante. Como você está? O que está fazendo para se sentir apoiado mentalmente?"

"Uma vez perguntei a um cara, e ele me disse que estava em terapia há quatro anos", disse ela. "Eu me senti atraída por ele imediatamente."

A geração Z e os millennials mais jovens são muito mais propensos a procurar ajuda psicológica do que as gerações mais velhas, segundo uma pesquisa de 2018 da Associação Americana de Psicologia. A pandemia também trouxe a saúde mental ainda mais para o cotidiano, tornando-a algo que as pessoas priorizam e falam abertamente.

Parte disso agora está chegando aos namoros. Muitos solteiros, em vez de procurar alguém com certa altura ou uma profissão específica, agora estão dizendo que querem alguém que trabalhe sua saúde mental.

Eles estão anunciando seus requisitos nos perfis de namoro. Em 2021, a menção a terapia na bio dos membros do Tinder aumentou 25%, segundo a empresa. ("Emocionalmente estável" subiu 12% e "emocionalmente maduro", 47%.) A Hinge –outro aplicativo de namoro comum nos Estados Unidos– pesquisou seus usuários em novembro e descobriu que 91% deles preferem namorar alguém que faz terapia.

Muitos desses dominam maneiras tranquilas de investigar o histórico de saúde mental de alguém.

"Eu menciono meu terapeuta durante a conversa e vejo se falam sobre o deles", disse Theodora Blanchfield, 39, escritora e terapeuta de casais e famílias em Los Angeles.

"Você costumava esconder que fazia terapia quando conhecia alguém, mas agora é a mesma coisa que vai à academia", disse ela. "Tinha um cara com quem saí algumas vezes cujo perfil dizia: 'Procuro uma garota legal para apresentar ao meu terapeuta', e eu nunca escolhi uma pessoa tão rapidamente.'"

Como alguém que lutou contra a depressão e a ansiedade, ela sabe que precisa de um parceiro que leve a sério a saúde mental.

"É importante para mim que a pessoa não estigmatize os problemas psicológicos ou que pense que ir à terapia significa que você é maluca", disse ela. "Eu também acho ou espero que um cara que tenha feito terapia tenha potencialmente mais empatia." (Ela já teve encontros em que trouxe à tona assuntos vulneráveis e o cara simplesmente ignorou ou se calou.)

Blanchfield também acredita que algumas lições que as pessoas podem aprender na terapia, como se comunicar de forma mais eficaz e estabelecer limites, tornarão qualquer relacionamento futuro mais suave. "Isso me deixa esperançosa por um conflito menos potencial", disse ela.

Para Sarah Papadelias, 32, advogada em Tampa, na Flórida, os homens com quem ela namora não precisam fazer terapia. "Sei que algumas pessoas não têm acesso, ou não têm seguro-saúde para cobrir isso", disse. Mas eles têm que estar trabalhando sua saúde mental. "Você faz um diário? Você medita?"
Ela considera essa triagem essencial.

"Há muito tempo estamos focados em nossa segurança física. Quando vou a um encontro, deixo meus amigos saberem para onde estou indo. Eu compartilho locais. Eu faço a devida diligência", disse ela. "Mas agora percebo que também tenho que me preocupar com a segurança mental. Você quer ter certeza de que aquela pessoa não fará nada abusivo ou traumático para você."

"Sinto que ter essas garantias no namoro é um investimento em nossa segurança", acrescentou.
Alguns namorados que encontraram com sucesso parceiros comprometidos com o bem-estar mental agora estão colhendo os benefícios.

Dillon Mulroy, 29, engenheiro de software em Raleigh, na Carolina do Norte, começou a consultar um terapeuta após um divórcio doloroso. Quando estava pronto para começar a namorar de novo, descobriu que compartilhar sua jornada na terapia o tornava mais desejável, e não menos.

"Poderia ser alarmante saber que alguém se divorciou, mas posso dizer às pessoas que sei que foi uma grande coisa", disse ele. "Passei muito tempo trabalhando isso na terapia, e agora estou num espaço saudável."

Ele também se sentia mais atraído por mulheres que compartilhavam sua experiência com um profissional de saúde mental. "Acho que, geralmente, as pessoas que fazem terapia, especialmente por vontade própria, têm um nível de autoconsciência e maturidade que considero atraente", disse ele.

Como engenheiro de software, ele até brincou sobre a criação de um aplicativo em que o terapeuta de cada pessoa poderia marcar um encontro antes de se conhecerem pessoalmente. Agora ele tem uma namorada e acredita que estão mais próximos porque ambos fizeram terapia.

"Sinto que estou num espaço mais seguro para ser vulnerável e conversar sobre temas mais difíceis com alguém que sei que se analisou e tentou melhorar também", disse ele. "O fato de nós dois termos feito terapia é tudo."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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