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Crianças não devem tomar café; lactantes precisam ter cuidado com a quantidade

Bebidas cafeinadas também devem ser evitadas; consumo indireto via leite materno pode representar risco para bebês

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Ribeirão Preto

"Hoje tem café?", pergunta Alexandre, de 2 anos. Uma voz feminina responde "você quer uva?". Mas o pequeno diz, indignado: "Não! Quero café! O Alê pode!".

Publicado há quatro anos, a gravação do bebê que pede café viralizou mais uma vez e já acumula cerca de 8,5 milhões de visualizações. Café e crianças parece ser uma combinação que nunca sai de moda. Mas será que o pequeno acertou quando dizia que podia consumir a bebida? Na verdade, não.

Associações médicas e especialistas dizem que crianças não devem consumir cafeína, embora a idade em que a bebida deva ser evitada por completo seja tema de debate. No caso de lactantes, profissionais da saúde indicam cuidado com a quantidade para evitar intoxicações em bebês, embora casos sejam raros.

Médicos e associações não indicam o consumo de café por crianças - Alena Ozerova/Adobe Stock

De acordo com a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a cafeína não deve ser consumida por crianças de zero a dois anos e precisa ser limitada até o fim da adolescência. Os manuais da entidade indicam que o consumo da substância, seja no café ou em outro alimento, deve ser proibido.

Já a AAP (Academia Americana de Pediatria) é ainda mais radical e defende zero cafeína até os 12 anos.

A AACAP (Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente) publicou em 2020 um guia sobre o tema, no qual informa os pais que a cafeína, nootrópico estimulante presente no café, também compõe outros produtos do cotidiano, como refrigerantes, chás, chocolates, energéticos, isotônicos e suplementos alimentares.

A instituição declara que não há dose segura testada para menores de 12 anos de idade e aponta que, desta idade até os 18 anos, o limite deve ficar em torno de 100 mg por dia (o equivalente a 355 ml de refrigerante de cola ou uma lata).

A SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo) declara que produtos estimulantes com cafeína como energéticos devem ser evitados por menores de 18 anos, uma vez que não há estudos sobre a segurança do consumo dessas bebidas nesta faixa etária.

A pediatra e nutróloga Rosana Tumas, presidente do departamento de Nutrição da SPSP, diz que, no caso dos adolescentes, o problema está no consumo excessivo do café e das bebidas cafeinadas, como refrigerantes de cola ou energéticos.

"É preciso ficar atento, pois se consumidos com frequência, mesmo que com moderação, podem aumentar o risco de obesidade, devido ao alto teor de açúcar presente nesses produtos", destaca.

Enquanto a dose máxima recomendada para o consumo diário de cafeína em adultos é de 400 mg por dia, a de uma pessoa de 13 a 19 anos não deve ultrapassar 100 mg por dia, e a de uma criança de 2 a 12 anos deve ficar no limite de 2 mg por quilo por dia.

Crianças, alerta Tumas, são uma população com maior risco de desenvolver disfunções no ritmo cardíaco secundário devido ao consumo de doses elevadas de cafeína.

"Os sintomas mais comuns são insônia e ansiedade, mas podem também ocorrer alterações do humor e atenção, além do risco de dependência física", diz a pediatra. "Algumas pessoas podem ter um risco aumentado de sofrer algum tipo de arritmia, podendo até ser fatal em casos extremos."

O Projeto de Lei 455/15, em tramitação na Câmara, discute a proibição do comércio de energéticos para menores de 18 anos, mas a legislação atual é regulamentada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

As regras em vigência limitam a quantidades de cafeína em 350 mg por litro em produtos energéticos e exigem um alerta sobre os riscos de seu consumo por grupos sensíveis à substância.

Marina Bortoni, 37, intensivista pediátrica da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital das Clínicas de Botucatu, diz que nunca recebeu um caso de intoxicação por cafeína, mas que não é seguro consumir até os 12 anos.

"É cultural da casa. Até oferecer leite com café na mamadeira já vi, mas no hospital a gente orienta a não usar e inclusive não prescreve no lactário", declara.

A médica reforça que grávidas e lactantes precisam também evitar o consumo em excesso de café e produtos com cafeína para evitar intoxicação em bebês – casos, porém, são raros. A profissional destaca que os jovens são um grupo vulnerável.

"O cuidado maior é com os adolescentes, porque existem muitos suplementos com cafeína que são vendidos sem receita, além das bebidas energéticas", pondera Bortoni.

A cafeína pode melhorar a concentração em adultos e crianças, mas também pode gerar insônia, ansiedades, hiperatividade, dores de cabeça, náusea, perda do apetite, gastrite e tremores. Overdose de cafeína pode causar, segundo a AACAP, vômito, pressão alta, coração disparado, arritmia e até a desorientação e alucinação em casos extremos.

A nutricionista Ana Paula Cancio, 31, mestre e doutoranda em alimentação, nutrição e saúde pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), lembra que o metabolismo de crianças e adolescentes é mais rápido e suscetível a déficits nutricionais.

"Até para adultos é importante ficar atento à quantidade de cafeína no dia a dia e juntos às refeições, pois o execrado pode atrapalhar a absorção de alguns nutrientes", diz Cancio.

Outro problemas associados ao café e aos cafeinados é o prejuízo na absorção do cálcio. Em 2009, pesquisadores da Universidade do Porto, em Portugal, já estimavam uma perda de 4 mg de cálcio para cada xícara de café consumida, o que atrapalha tanto quem já apresenta perdas ósseas como quem está em fase de crescimento.

"O amadurecimento dos ossos ocorre até os 19 anos de idade. Após essa fase, o corpo apenas retira e repõe cálcio de acordo com as necessidades do metabolismo, mas sem haver aumento da massa ‘estabelecida’", afirma a nutricionista.

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