Descrição de chapéu The New York Times

Psicóloga dá dicas de como fazer amigos na idade adulta (e mantê-los)

Especialista que estuda a amizade dá dicas para driblar a crise da solidão que vivemos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Catherine Pearson
The New York Times

Em julho deste ano, Marisa Franco foi passar férias no México sozinha. Quando voltou a Washington, dez dias mais tarde, havia formado todo um novo grupo de amigos.

Como psicóloga que estuda a amizade, Franco tem uma vantagem em relação à maioria de nós quando se trata de formar vínculos, e ela utilizou muitas das estratégias que aprendeu quando estava pesquisando para escrever seu novo livro, "Platonic: How the Science of Attachment Can Help You Make — and Keep — Friends" (platônico: como a ciência do vínculo pode te ajudar a fazer —e manter— amigos, em tradução livre).

Por exemplo: ela partiu da premissa de que as pessoas gostariam dela. E lembrou que pessoas em transição –que mudaram de casa recentemente, passaram por um rompimento ou estão viajando—tendem a ser mais abertas a fazer novas amizades.

DAVIS, CA ? BC-WELL-MAKE-FRIENDS-ART-NYTSF ? In 1990, only 3 percent of Americans said they had no close friends; in 2021, nearly 12 percent said the same. A friendship expert shares strategies for finding connection in a lonely, disconnected world. (Max Whittaker for The New York Times) ? FOR USE ONLY WITH WELL STORY BC-WELL-MAKE-FRIENDS-ART-NYTSF BY CATHERINE PEARSON. ALL OTHER USE PROHIBITED.
Em 1990, só 3% dos americanos disseram que não tinham nenhum amigo íntimo; em 2021, 12% disseram o mesmo - Max Whittaker/The New York Times

Ciente disso, Franco começou um papo com outro turista que ela ouviu falando em inglês em um café e o convidou para um encontro de pessoas interessadas em praticar conversação em espanhol, do qual ouvira falar no Meetup.com.

"No encontro para falar espanhol, conheci outra pessoa, parti das mesmas premissas e trocamos números de telefone", lembra ela. "Convidei-a para um evento de ‘lucha libre’ mexicana, e ela veio. Ou seja: as pessoas na realidade estão muito abertas a formar novas amizades."

Mesmo assim, Franco sabe que fazer amizades novas quando se é adulto nem sempre é simples, e essa pode ser uma razão pela qual a amizade está em declínio. Em 1990, apenas 3% dos americanos disseram que não tinham amigos íntimos; em 2021, foram quase 12%. Os Estados Unidos sofrem uma crise de solidão que é anterior à pandemia de Covid.

O livro de Franco reconhece essas dificuldades e oferece conselhos práticos para fazer novos amigos e aprofundar relacionamentos existentes. Ela conversou com o New York Times sobre algumas das melhores práticas a seguir.

Boa parte de seu trabalho diz respeito a mudar nossas ideias preconcebidas sobre amizade. Quais são algumas das ideias equivocadas que você gostaria que desaparecessem? Uma é a ideia de que o amor platônico é menos importante ou significativo que o amor romântico. Temos essa ideia de que as pessoas que têm a amizade como o elemento central de seus relacionamentos são infelizes ou não realizadas. Eu mesma acreditava nisso: pensava que o amor romântico era o único que me completaria. Coloquei "Platônico" no título de meu livro porque quero nivelar essa hierarquia um pouco.

Outra ideia equivocada é que a amizade simplesmente acontece naturalmente. Pesquisas mostram que as pessoas que pensam que a amizade acontece naturalmente, por uma questão de sorte, são mais solitárias. É preciso realmente fazer um esforço de aproximação com as pessoas.

É por isso que você considera tão importante pressupor que as pessoas gostam de você? De acordo com a "teoria de regulação do risco", decidimos quanto investir num relacionamento com base na probabilidade que pensamos ter de sermos rejeitados. Por isso, uma das dicas importantes que compartilho é que, se você quiser criar uma conexão com alguém, tem muito menos chances de ser rejeitado do que você imagina.

E você deve, sim, partir da premissa de que as pessoas gostam de você. Isso é baseado em pesquisas sobre a "lacuna do gostar" —a ideia de que, quando desconhecidos interagem, a outra pessoa gosta delas mais do que elas pressupõem.

Há também uma coisa chamada "profecia da aceitação", Quando as pessoas presumem que os outros gostam delas, elas ficam mais cordiais, amigáveis e abertas. Desse jeito a profecia se autorrealiza. Eu não prestava muita atenção à minha mentalidade até que estudei as pesquisas. Mas nossa mentalidade tem importância muito grande.

Mesmo assim, arriscar uma aproximação com alguém pode ser estressante. Você tem algum conselho quanto a isso? Minha sugestão é participar de algum grupo que se reúne regularmente ao longo do tempo. Em vez de ir a um evento de networking, por exemplo, procure um grupo de desenvolvimento profissional. Não vá a uma palestra sobre um livro, procure um clube do livro. Isso aproveita algo chamado o "efeito da mera exposição": nossa tendência a gostar mais das pessoas quando elas nos são familiares.

O efeito da mera exposição significa que você pode esperar sentir-se desconfortável quando interage com pessoas pela primeira vez. Você vai ficar cansado. Isso não significa que você deva evitar encontrar pessoas, significa que você está exatamente onde precisa estar. Continue mais um pouco, e as coisas mudarão.

Você também pensa que é imprescindível mostrar e dizer aos amigos o quanto gostamos deles. Por quê?Tendemos a gostar de pessoas que acreditamos que gostam de nós. Antigamente eu participava de grupos e tentava fazer amigos sendo inteligente. Era meu jeito de ser. Mas quando li a pesquisa, percebi que a qualidade que as pessoas mais apreciam num amigo é o apoio que ele dá ao seu ego –ou seja, basicamente, elas apreciam alguém que as faz sentir que elas têm importância. Quanto mais você puder mostrar às pessoas que gosta delas e as valoriza, melhor. Pesquisas mostram que o simples ato de mandar uma mensagem de texto a um amigo pode ser mais significativo do que as pessoas geralmente pensam.

Ao mesmo tempo, você deixa claro que as pessoas não devem se culpar se sentirem que não têm amigos suficientes. Por que parece ser tão difícil criar esse tipo de vínculo? Quero que as pessoas entendam que é muito mais comum que elas não tenham a questão das amizades toda resolvida. Os dados mostram que muitíssimas pessoas sentem falta de um círculo de amigos, e não há nada nisso de que se envergonhar. Estou tentando ensinar as pessoas a nadarem contra uma correnteza que nos está levando no sentido oposto, porque a solidão é um problema da sociedade que afeta a maioria de nós. Antigamente nossos círculos de amizades eram algo nos quais crescíamos, não algo que procurávamos.

As redes sociais são um bom exemplo. Podem ser uma ferramenta de comunicação, mas nós as usamos principalmente para espiar os outros, algo que está ligado à solidão e à falta de conexão maiores. Mas isso não é necessariamente nossa culpa. As redes sociais são criadas de tal maneira que não as usamos conscientemente; tendemos a apenas ficar nelas, sem pensar. Simplesmente existem muitas razões da sociedade que levam as pessoas a sentir solidão.

Mas também acredito que as duas coisas são verdade. Sim, este é um problema sistêmico. Mas há coisas que você pode fazer como indivíduo para aumentar a conexão.

Para quem quer fazer um novo amigo ou fortalecer amizades existentes, qual é uma dica fácil que você sugere que a pessoa tente hoje? Eu diria para você olhar sua lista de contatos, ou olhar para quem estava mandando mensagens no ano passado, e procurar a pessoa. Você pode dizer alguma coisa simples tipo "Ei, faz um tempão que não conversamos. Eu estava pensando em você. Como você está?"

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.