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Fazer as perguntas certas é essencial para se preparar para uma cirurgia; veja quais

Médicos consideram crucial saber informações como o tempo de recuperação e procedimentos alternativos

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Melinda Wenner Moyer
The New York Times

Quando, recentemente, uma pessoa de minha família foi aconselhada pelo médico a fazer uma cirurgia de pequeno porte, senti medo e incerteza. Como termos certeza de que a cirurgia era necessária? Será que devíamos buscar uma segunda opinião, ou deveríamos confiar no médico que recomendou o procedimento? O que deveríamos fazer como preparação?

Minha família é uma das muitas que se viram nessa situação recentemente. Segundo o American College of Surgeons, 15 milhões de americanos passam por cirurgias todos os anos. Para descobrir a melhor forma de refletir sobre a situação, procurei três médicos que estudam a tomada de decisões médicas e os conhecimentos que os pacientes têm sobre sua própria saúde.

Médicos consideram importante fazer as perguntas certas para o profissional responsável pela cirurgia - Adobe Stock

Para Susan Pitt, cirurgiã do Centro de Resultados e Políticas de Saúde da Universidade do Michigan e estudiosa de como pacientes e médicos tomam decisões sobre tratamentos, a primeira coisa que o paciente deve fazer é respirar fundo.

Enfrentar uma operação não é pouca coisa para processar em sua cabeça. Se o médico ainda não lhe explicou por que recomenda a cirurgia, pergunte por que o procedimento é necessário. Pergunte, também, se as diretrizes médicas geralmente recomendam esse procedimento para o problema que você tem.

Considere questionar se você pode gravar a conversa com o médico com seu telefone, para poder ouvir a informação outra vez mais tarde, quando você estiver mais calmo. Essa é uma recomendação do Harlan Krumholz, cardiologista que dirige o Centro de Pesquisas e Avaliação de Resultados da Escola Yale de Medicina.

Mesmo que o médico apresente argumentos convincentes em favor da cirurgia, você talvez tenha outras opções. Pitt sugere que você pergunte se existem opções não cirúrgicas ou cirurgias de outro tipo, menos invasivas. Especifique que você está interessado não apenas nas alternativas que seu médico pode te oferecer, mas também em tratamentos que podem ser disponibilizados por outros médicos.

Não esqueça de perguntar o que pode acontecer se você não fizer nada, recomendou Pitt. Talvez o pior cenário possível não seja tão ruim assim.

Para Krumholz, você deve perguntar ao médico sobre os benefícios potenciais de qualquer procedimento. Muitas vezes os médicos realizam cirurgias para aumentar as chances de o paciente se sentir bem ou para evitar riscos futuros. Mas, segundo o profissional, algumas cirurgias não alcançam esses objetivos.

Quando ele e seus colegas entrevistaram adultos americanos candidatos a uma angioplastia eletiva – um procedimento para abrir artérias bloqueadas –, 70% disseram acreditar que o procedimento prolongaria sua vida ou preveniria complicações cardíacas futuras, embora esse não seja o caso geralmente. (Normalmente a cirurgia apenas alivia dores no peito.)

Alguns procedimentos nem sequer são necessários e podem não ajudar. Numa pesquisa feita em 2017 com mais de 2.000 médicos americanos, eles estimaram que 11% dos procedimentos médicos, incluindo cirurgias, são desnecessários.

Segundo Pitt, também é fundamental se informar sobre os riscos potenciais da cirurgia. Se o que o médico lhe diz não ficar claro, peça uma explicação melhor.

(No caso de decisões cirúrgicas complexas, você pode perguntar se o hospital tem profissionais que defendem os interesses dos pacientes ou enfermeiros que prestam auxílio a pacientes. Eles podem acompanhar o paciente às consultas e ajudá-lo a entender o que lhe é dito.)

Pergunte como será a recuperação da cirurgia. Quanto tempo levará? O que você vai ou não poder fazer? Quantas pessoas nunca se recuperam completamente?

"Isso é informação crucial que o paciente deve entender", disse Krumholz.

Pergunte também quais os custos que ficarão por sua conta. "Muitas pessoas não entendem que terão uma conta alta a pagar", ele disse, mesmo que tenham convênio médico.

Também pode ser útil ouvir uma segunda opinião de um médico diferente, disse Glyn Elwyn, do Instituto Dartmouth de Política de Saúde e Prática Clínica. É o caso especialmente se o primeiro médico não sugeriu qualquer outra alternativa à cirurgia. Elwyn recomendou que o paciente busque uma segunda opinião de um clínico geral, que pode estar mais bem informado sobre opções alternativas não cirúrgicas.

Quando o médico do meu parente não mencionou qualquer alternativa à cirurgia, meu parente buscou uma segunda opinião de um cirurgião diferente. Este lhe explicou que na realidade havia várias opções não cirúrgicas.

Ele sugere que você pergunte ao médico quantos procedimentos desse tipo ele realizou nos últimos 12 meses e ao longo de sua carreira profissional, e como isso se compara com o limiar associado a resultados positivos na área de atuação do profissional.

"Se o médico disser que não sabe, isso será revelador", disse Krumholz, e talvez seja o caso de você procurar outro cirurgião.

Você também pode perguntar quais são os índices de eficácia do cirurgião e de complicações para esse tipo de cirurgia, comparados com os de outros cirurgiões.

"Os cirurgiões devem saber onde se situam em relação à média nacional", disse Pitt.

Não existe um cadastro nacional onde os pacientes possam acessar essas informações. Por isso mesmo, o melhor é perguntar diretamente ao médico.

Se seu médico realiza cirurgias num hospital-escola, pergunte se existe a possibilidade de um médico júnior ser encarregado de realizar o procedimento e, se sim, quanta experiência ele tem e o que o hospital faz para garantir atendimento ótimo aos pacientes.

Para Elwyn, se o médico se aborrecer por você estar fazendo tantas perguntas, interprete isso como sinal de alerta.

Depois de meu parente procurar uma segunda opinião e descobrir que havia outras opções de tratamento, ele optou por um procedimento menos invasivo, com recuperação mais fácil e rápida. Seus sintomas melhoraram tremendamente. É possível que a cirurgia ainda se torne necessária um dia, mas talvez não.

"Há inúmeras maneiras pelas quais as pessoas são levadas a pensar que a cirurgia é necessária e que não existe outra opção, sendo que na realidade quase sempre há outras opções", disse Krumholz.

Tradução de Clara Allain

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