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Brasil fora da Copa: existe jeito 'bonito' ou 'correto' de lidar com derrotas?

Especialistas comentam postura de jogadores e do técnico Tite

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O Brasil foi eliminado da Copa do Mundo de 2022 após perder para a Croácia nas quartas de final, nesta sexta-feira (9).

No decorrer do jogo, as equipes empataram em 1 a 1 durante a prorrogação, o que fez com que o resultado precisasse ser decidido nos pênaltis.

Para a seleção, o momento pós-derrota foi de choro e lamentações, com abraços entre os jogadores e atletas deitados no chão angustiados pelo resultado.

O técnico da seleção brasileira, Tite, durante o jogo contra a Croácia - Nelson Almeida/AFP

O técnico Tite, conhecido por motivar sua equipe e ser um bom comunicador, foi criticado por deixar o time sozinho em campo após a derrota e seguir para o vestiário —as críticas se espalharam por redes sociais, mas também partiram de personalidades como o narrador Galvão Bueno.

"Eu sempre elogio as atitudes do Tite, mas essa de ir para o vestiário e deixar os jogadores em campo não está correta. São todos um time! O Tite não poderia ter se retirado para o vestiário. Me desculpe, Tite", disse o narrador da Rede Globo.

Foram os adversários croatas que tomaram a iniciativa de consolar os brasileiros.

O treinador se justificou em declaração dada horas depois do jogo, afirmando que desceu ao vestiário por ser "um cara mais reservado".

A psicanalista e coach Karla Pierri disse que o técnico, assim como o time, sofre com a derrota, mas o ideal é que ele siga próximo, de braços e ouvidos abertos.

"Como técnico, como um homem experiente, um líder, o Tite poderia permanecer em campo, sendo um exemplo. O que se espera de um líder, de um gestor, é que ele esteja firme e possa ajudar o time a lidar com as frustrações", afirma.

"Por isso é tão difícil ser um bom líder, pois você precisa limitar sua própria frustração para estar disponível e ajudar a equipe. Depois ele pode chorar, tentar extravasar de alguma forma. Estamos falando de equilíbrio, de preparo mental para situações difíceis, de experiência em administrar emoções."

Thiago Silva, capitão da seleção brasileira, que chorou sentado na bola quando o Brasil levou a goleada de 7 a 1 da Alemanha na Copa de 2014, hoje mostrou uma postura diferente, deixando o abatimento de lado para dar entrevistas com postura firme logo após o encerramento da partida.

Para Karla Pierri, o capitão demostrou amadurecimento e se colocou em uma posição de liderança, na ausência do treinador.

"Foi uma boa postura diante dos jogadores mais novos. Mas se a escolha dele tivesse sido chorar, como na última Copa, está tudo bem também. Foi a maneira que ele encontrou de lidar com a derrota. Como jogador, ele até poderia se isolar. Já sobre o Tite, o papel dele é outro, por isso a postura dele não foi adequada", disse à reportagem.

O campo psicológico de cada indivíduo é extremamente particular, o que faz com que cada um reaja de um jeito diferente a partir de suas características pessoais, experiências e expectativas.

Mas do ponto de vista de uma postura de liderança, Claudinei Elias, especialista em alta gestão para liderança na Yale School of Management, aponta que há, sim, comportamentos considerados mais corretos ou "honrosos".

"Após uma grande perda, seja uma partida como o caso da seleção, na vida pessoal ou em uma empresa, a primeira coisa é admitir, com dignidade, que houve a derrota. A atitude do Thiago foi nobre e de muita coragem", disse.

"Quando há um nível de cobrança extremamente alto não alcançar resultados esperados, o próximo passo é tirar valor dessas derrotas para usar a experiência para criar uma nova estratégia. Seja na seleção brasileira ou ao perder um grande cliente da sua empresa, por exemplo", aponta Elias, que é CEO e fundador da Bravo GRC, empresa de tecnologia e consultoria.

O papel do líder em um momento de lamentação como o vivido pelo time, na avaliação de Elias, é de extrema importância.

"O líder não pode só estar presente nas vitórias. Em tristezas, desafios, riscos, é quando o líder tem que estar ainda mais firme, cuidar do seu time. A grande questão nesse caso é cuidar da moral do time, já que essa equipe vai precisar se reunir de novo e terá que estar com a mente preparada."

Este texto foi publicado aqui.

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