Controlar a ansiedade pode reduzir risco de Alzheimer, sugere estudo

Trabalho publicado na The Lancet não aponta relação causal, mas diz que tratar sintomas pode diminuir chances de declínio

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Gabriela Cupani
Agência Einstein

Tratar os sintomas de ansiedade com psicoterapia pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver demência na velhice, sugere um estudo publicado em dezembro na revista The Lancet. Os resultados ainda não são conclusivos, mas sugerem uma associação entre melhora de qualquer tipo de transtorno de ansiedade com uma menor chance de desenvolver Alzheimer e perdas cognitivas, que é quando o paciente não consegue mais fazer atividades básicas do seu dia a dia.

Já faz algum tempo que, com o crescimento dos casos de demência, pesquisadores vêm se debruçando sobre possíveis fatores de risco, inclusive buscando uma relação com as doenças mentais. No caso da depressão, essa associação já está bem estabelecida e agora o objetivo é entender os impactos da ansiedade neste quadro.

Tratamento para ansiedade pode diminuir risco de declínio cognitivo - Adobe Stock

Os pesquisadores colheram informações de diversas bases do sistema de saúde britânico e cruzaram dados de quase 130 mil pacientes que passaram por serviços de psicoterapia e que tinham algum distúrbio de ansiedade. Foram avaliados apenas aqueles com mais de 65 anos, atendidos entre os anos de 2012 e 2019, e que não tinham diagnóstico inicial de demência. Ao fim do período, aqueles que apresentaram uma melhora nos quadros de ansiedade tiveram menos risco de desenvolver perda cognitiva.

"Este é um estudo interessante que tenta jogar luz sobre essa relação, mas ainda não sabemos se há uma relação causal", diz a geriatra Ana Cristina Canêdo, da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Alguns fatores, como os biológicos e até o estilo de vida, poderiam explicar essa associação. "A ansiedade tem uma carga de estresse e faz o organismo liberar cortisol, o que traz efeitos negativos no hipocampo, região do cérebro ligada à memória", indica a especialista.

Mas os próprios autores reconhecem que o estudo tem várias limitações e ainda não é possível estabelecer um elo causal entre os dois. Algumas informações não estavam disponíveis nas bases analisadas e podem enviesar os resultados, como nível de educação, risco genético, história familiar, patologias vasculares e uso de remédios psicotrópicos. Além disso, sabe-se que alguns transtornos comportamentais leves, que poderiam ser confundidos com sintomas de ansiedade, podem ser marcadores precoces de demência quando aparecem na faixa dos 50 anos.

"Mas, na dúvida, a gente precisa sempre tratar os transtornos de saúde mental. A ansiedade é menos diagnosticada e tratada do que a depressão e deve ser rastreada, prevenida e tratada", orienta a médica.

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