Descrição de chapéu Beleza

Chip da beleza não possui comprovação científica e pode causar ganho de peso

Implante com ação de hormônios anabolizantes também é conhecido por engrossar a voz

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Ribeirão Preto

Ele promete melhorar a libido, queimar calorias, emagrecer, aumentar a disposição e promover maior ganho de massa muscular. Chamado chip da beleza, a terapia hormonal subcutânea está na mira de entidades médicas, uma vez que oferece riscos à saúde.

Os danos incluem acne intensa, perda de cabelo e ganho de peso, como os relatados pela cantora e ex-participante do Big Brother Brasil, Flayslane. O uso também pode causar aumento do clitóris, surgimento de pomo de adão e tornar a voz mais grossa.

"Minha pele foi minha maior tristeza. Meu rosto começou a encher completamente de espinha. Meu corpo inchando muito. Foi com o chip que eu ganhei dez quilos", disse em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

Acne na bocheca
A ex-BBB Flayslane relatou ganho de peso e acne após utilizar o chip da beleza - @flay/instagram

Nas redes sociais, Flay chamou os efeitos de "catastróficos" e recomendou cuidado aos seguidores para que não caiam nessa "cilada" do chip da beleza. Trata-se de um implante hormonal de testosterona ou gestrinona (hormônios esteroides com ação anabolizante) que é absorvido ou colocado sob a pele e promete ganho de massa muscular, emagrecimento e diminuição da celulite, entre outros benefícios.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) e a Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) afirmam que tratamentos hormonais deste tipo trazem risco.

Na última semana, o conselho proibiu a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes para fins estéticos, como ganho de massa muscular.

A decisão foi tomada devido aos graves efeitos colaterais deste tipo de tratamento e pela ausência de pesquisas científicas de qualidade "que justifiquem a adoção de terapia hormonal" para essas finalidades.

A Sbem também é contrária ao uso de implantes de gestrinona e outros tipos pelo mesmo motivo. De acordo com a organização, os usuários usam de forma incorreta e motivados pela "melhora da performance física e estética", declara em carta.

O ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, médico do Hospital Sírio Libanês, afirma que o próprio termo "chip da beleza" deve ser evitado, pois foca em marketing e não em ciência. "Quando propagandeiam ou querem vender algo mágico, que vai curar qualquer problema, temos um conceito errado do ponto de vista médico", diz.

Além disso, para atingir os efeitos anabolizantes desejados são necessárias doses mais altas que as normalmente usadas para quem está de fato em tratamento de reposição hormonal, pontua Pupo.

"No implante com hormônios pode-se colocar qualquer tipo de substância. Falam em dose personalizada, mas até chegar à quantidade boa para aquela pessoa, corre-se o risco de errar a mão com uma dose exagerada ou aquém. E nenhum deles tem estudo de validação de qual dose dispensam no corpo. Pode estar entregando pouco hormônio ou muito por dia", indica o ginecologista do Sírio Libanês.

Outra preocupação é a forma como é feito o tratamento. As duas versões do implante, tanto a absorvível como a colocada sob a pele, oferecem riscos. "O não absorvível, depois de um tempo, tem que tirar. E para remover, é preciso fazer uma pequena incisão na pele e caçar com pinça até localizar. Às vezes precisa ser guiado por ultrassom, é complexo", diz Pupo.

Já o absorvível, se esfacela no corpo e a única solução para quem sentir efeitos colaterais intensos é aguardar o prazo de quatro a seis meses da medicação.

O ginecologista Gerson Lopes, especializado em sexologia pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e coordenador do Setor de Medicina Sexual da Rede Mater Dei de Saúde, também considera "chip da beleza" um nome que precisa parar de ser usado.

"Primeiro não é chip e muito menos deveria ter o termo apelativo beleza", diz Lopes.

O profissional afirma que qualquer preparação de testosterona, seja via implantes ou injeções, que resulte em concentrações acima das necessidades fisiológicas deve ser evitada.

"A única indicação baseada em evidências de testosterona em mulheres é na pós-menopausa, na forma transdermica, por curto espaço de tempo, e para o tratamento de Desejo Sexual Hipoativo, após avaliação biopsicossocial [para excluir causa psicológica]", pontua Lopes. Em homens, os preparados de testosterona são recomendados em caso de andropausa, desde que confirmada clínica e laboratorialmente.

"Eu levantei um monte de depoimentos na época de mulheres que usaram esse pequeno bastão implantado sob a pele, que dizia que prometia baixar o peso e sumir com a celulite, e muitas relataram que engordaram, tiveram mudança de voz que a gente sabe que é irreversível, clitóris aumentado, queda de cabelo", relata o ginecologista.

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