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Efeito do envelhecimento na saúde fica mais evidente após os 60 anos, diz estudo

Pesquisadores observaram mudanças no corpo, como o controle da frequência cardíaca em repouso

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Maria Fernanda Ziegler
Agência Fapesp

Estudo feito com 118 pessoas saudáveis de diferentes faixas etárias mostra que é a partir dos 60 anos que se tornam mais evidentes os prejuízos causados pelo envelhecimento no controle da frequência cardíaca em repouso e na aptidão cardiorrespiratória.

Isso significa que há alterações mais visíveis na capacidade do corpo de captar (sistema respiratório), transportar (sistema cardiovascular) e consumir (músculos) oxigênio durante o exercício físico. Contudo, foram observadas certas alterações no perfil metabólico, isto é, na concentração de substâncias no sangue, que aparentemente estão relacionadas com a mitigação dos efeitos deletérios da senescência.

Macro de um rosto branco feminino sênior com pele enrugada contra um fundo cinza
Mudanças no organismo em decorrência do envelhecimento são mais notadas a partir dos 60 anos - Jacob Lund/Adobe Stock

"Estudar o envelhecimento é importante, pois ele causa alterações em vários dos nossos sistemas orgânicos. O metabolismo tem sido bastante estudado, assim como a modulação autonômica cardíaca [o controle da frequência cardíaca pelo sistema nervoso] e a aptidão cardiorrespiratória, porém, quase sempre de maneira isolada", diz Aparecida Maria Catai, professora da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e coordenadora da pesquisa.

"Em nosso estudo, buscamos investigar as mudanças decorrentes do processo de envelhecimento de forma integrada. Ao analisar esses três componentes concomitantemente, descobrimos um possível ponto de virada do envelhecimento aos 60 anos de idade. Embora a senescência seja um processo que dure décadas, é principalmente após os 60 anos que as alterações nos três componentes analisados se tornam mais significativas", afirma a pesquisadora.

Divulgado na revista Scientific Reports, o estudo teve apoio da Fapesp por meio de um Projeto Temático.

"Com o passar do tempo, o organismo, mesmo em pessoas saudáveis, vai apresentando alguns comprometimentos. Por causa disso, vão sendo realizados alguns ‘ajustes fisiológicos’ para que ele permaneça em equilíbrio [homeostase]. No entanto, esses mecanismos são limitados e vão se exaurindo com o avançar da idade. Identificamos neste estudo que algumas alterações nos níveis séricos de certos metabólitos podem ter relação com esses mecanismos homeostáticos", indica Étore de Favari Signini, bolsista de doutorado da Fapesp e primeiro autor do artigo.

Dessa forma, os pesquisadores observaram que alguns metabólitos podem estar associados à mitigação dos efeitos deletérios do envelhecimento.

"Trata-se do aumento significativo, na faixa entre 60 e 70 anos, dos níveis séricos de ácido hipúrico, um metabólito associado a uma série de funções diferentes, entre elas a diversidade da microbiota intestinal e a saúde metabólica", explica o pesquisador. O achado pode contribuir para novas estratégias direcionadas à redução dos efeitos deletérios do envelhecimento.

Os pesquisadores ressaltam que, embora o aumento desse metabólito possa indicar prejuízos na função renal, estudos recentes têm proposto que o ácido hipúrico pode ser um marcador e um mediador da saúde metabólica, podendo ter relação com a complexidade da microbiota intestinal (com influência direta na absorção de nutrientes no intestino) e um possível efeito protetor sobre as células beta do pâncreas.

"Como se tratava de idosos aparentemente saudáveis, sem nenhum indicativo de comprometimento renal, sugerimos que o aumento do ácido hipúrico estaria ligado ao enriquecimento da microbiota intestinal e, por consequência, à melhor absorção de nutrientes no intestino. E sabemos que, quanto melhor a absorção intestinal de nutrientes, considerando o contexto de envelhecimento, melhor a saúde do organismo no geral", diz.

Outro aspecto importante investigado pelos pesquisadores foi a redução de aminoácidos essenciais, como valina, leucina e isoleucina – conhecidos pela sigla BCAAs (que em inglês significa aminoácidos de cadeia ramificada).

"O decaimento de BCAAs no envelhecimento saudável pode estar atrelado a uma estratégia do organismo para se preservar. Sabemos que os BCAAs estão diretamente ligados à síntese proteica. E, com o envelhecimento, a atividade anabólica vai decaindo", afirma.

Signini ressalta que os benefícios de uma suplementação de BCAAs em idosos, com o favorecimento da síntese proteica, ainda é um assunto muito discutido. "A redução da atividade anabólica também tem sido destacada, até certo ponto, como algo benéfico segundo alguns estudos", afirma.

"Pesquisas têm apontado que a atividade anabólica acentuada no contexto em que há diversos comprometimentos na maquinaria celular, como, por exemplo, na função de organelas e de enzimas, pode trazer consequências indesejadas, entre elas o câncer", completa.

Metodologia

O objetivo do trabalho foi avaliar questões relacionadas ao metabolismo, à modulação autonômica cardíaca e à aptidão cardiorrespiratória em 118 indivíduos divididos em cinco faixas etárias (20 a 29 anos, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59, e 60 a 70). Foram incluídos em todas os grupos apenas participantes aparentemente saudáveis, ou seja, sem diagnóstico de comprometimento cardiovascular, respiratório ou relacionado ao metabolismo, como síndrome metabólica, obesidade ou diabetes. Além de passar por uma rigorosa bateria de exames e testes, os voluntários também não podiam tomar medicamentos controlados, como, por exemplo, para hipertensão.

Para avaliar a aptidão cardiorrespiratória, todos realizaram o teste de exercício cardiopulmonar, que permite medir o consumo máximo de oxigênio. As análises sobre modulação autonômica cardíaca foram feitas por meio da aferição da variabilidade dos períodos cardíacos, na condição de repouso e com os indivíduos na posição supina (deitado de costas). Já o metabolismo foi investigado por meio de metabolômica (análise do conjunto de metabólitos presentes), a partir de amostras de soro sanguíneo.

Essas análises foram conduzidas nos departamentos de Fisioterapia e de Química da UFSCar, em laboratórios coordenados por Catai, Regina Vincenzi Oliveira e Antonio Gilberto Ferreira.

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