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Escalada boulder trabalha músculos de todo o corpo e exige disposição para cair

Método é feito sem cordas de segurança, mas especialistas apontam como tombar de forma segura

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Erik Vance
The New York Times

Quando John Sherman escalou uma montanha pela primeira vez, não era um cara destemido buscando picos para conquistar. Era um adolescente entediado que perambulava por alguns quarteirões de seu bairro em Berkeley, na Califórnia.

Era o ano de 1974, e ele se deparou com um pequeno parque urbano, o Indian Rock, onde escaladores locais praticavam escalada sem cordas em blocos de rocha vulcânica do tamanho de uma casa. "Quando comecei, não conseguia fazer nem uma flexão de braços. Aquele início foi bem difícil."

Na época, rechonchudo e nada atlético, segundo ele mesmo, foi atraído pelo equilíbrio e pelo desafio da escalada boulder. Sem cordas, machado ou mesmo parceiros – apenas habilidade e rocha. Nos 50 anos seguintes, ele criou novas rotas de escalada, denominadas "problemas" pelos praticantes do esporte, e ajudou a popularizar a prática por meio de livros, artigos e façanhas impressionantes.

Escalada indoor na Casa de Pedra, em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Atualmente, o boulder indoor é uma modalidade olímpica e está entre os mais populares esportes de aventura do mundo. "É uma atividade coletiva e colaborativa, as pessoas se reúnem, se conhecem", diz David Sacher, fundador da rede Vital de ginásios de escalada.

É também a maneira mais fácil de entrar no universo mais amplo do montanhismo, principalmente em áreas urbanas. Mas pode ser um pouco intimidante entrar em um galpão cheirando a mofo, cheio de gente pendurada de cabeça para baixo apenas pelos dedos cobertos de magnésio.

Se quiser experimentar esse tipo de escalada, aqui vai um guia básico.

Escalar é uma atividade física que envolve o corpo todo

Uma das primeiras coisas que os novatos percebem é a dor que sentem em lugares bem estranhos no dia seguinte. Isso porque a escalada aciona músculos grandes e pequenos, inclusive alguns que raramente usamos. É um exercício aeróbico e anaeróbico e trabalha os membros superiores, inferiores e o core, que é composto pelos músculos do abdome, da lombar, da pelve e do quadril.

"É preciso concentração total para entender a relação entre seu corpo inteiro e a superfície que você está tentando escalar. Todos os músculos são acionados, exceto talvez a língua. A não ser que você escale com a língua de fora", indica Lanae Jobert, professora assistente da Universidade do Norte do Michigan, que há décadas estuda escalada.

Escaladora veterana, Joubert afirma que não é possível prever quem será um bom escalador com base na estatura ou no tipo físico. Os homens não levam vantagem em relação às mulheres, segundo ela. O que realmente importa é quanto a pessoa pratica.

Escale com as pernas, e não com os braços

Fui um adolescente magrelo e desajeitado, e rapidamente aprendi que uma boa técnica de escalada vem das pernas, e não dos braços, e se baseia em equilíbrio, pernas fortes e um core firme.

Os melhores escaladores aprendem a tirar o peso dos braços, concentrar-se no quadril e buscar bons apoios para os pés, e não para as mãos. Bons escaladores não sobem aos trancos: deslizam.

Os escaladores podem ser intimidantes, mas não se deixe abalar

Entrar em um ginásio de escalada sozinho pode ser assustador: o linguajar é estranho, as bravatas são irritantes e, ocasionalmente, ouvem-se gritos de gelar o sangue. Isso sem falar dos torsos nus e da exibição física, nem sempre sutil.

Mas os primeiros escaladores eram sujeitos amáveis e diferentões que gostavam de explorar a natureza, e essa cultura permanece até hoje. Não é como o surfe, em que as pessoas ficam bravas se você atrapalhar sua onda. A parede de escalada não vai a lugar nenhum, e muitos escaladores gostam de trocar ideias sobre estratégia.

Cair faz parte

Se tiver medo de altura, comece com rotas laterais, em vez de verticais. Na hora de cair, dê uma cambalhota para trás ao tocar o colchão de espuma. É melhor cair sentado do que sobre um tornozelo. Pratique um pouco: escale alguns passos, solte-se e pratique a cambalhota de costas.

Se ainda não sentir segurança, peça a um escalador mais experiente que monitore sua escalada, para ajudar em caso de queda. Ele não vai pegá-lo, mas pode conduzi-lo a uma queda mais segura, segundo Sherman.

Leva tempo para aprender a fazer essa parceria de monitoramento, que é menos comum na escalada indoor, em que os problemas são criados para que as quedas sejam seguras. Não monitore alguém que não lhe tenha pedido que o fizesse.

Veja o problema, seja o problema

A escalada boulder é na mesma medida uma atividade física e mental: muitos a chamam de xadrez corporal. Ao girar um joelho ou erguer levemente o quadril, um problema impossível pode se tornar factível, até mesmo fácil. Será que você deveria ter agarrado aquele suporte com a mão direita, e não com a esquerda? E se puser seu outro pé naquele pequeno suporte azul? Essas são as questões que atormentam um escalador de boulder.

Ao cair, não volte a escalar logo em seguida: espere um momento, sacuda os braços e explore outras maneiras de subir. Observe os outros.

Se for praticar boulder ao ar livre, será necessário usar um crash pad – almofada portátil para amortecer as quedas –, mas é comum o compartilhar com os iniciantes.

Fique à vontade ao ar livre – mas nem tanto

Se decidir escalar ao ar livre, ainda que seja em um bloco de granito aleatório em meio a uma área suburbana, nunca se esqueça de que está na natureza. Trate a rocha com o respeito de um visitante – o que você efetivamente é. Aproveite o ar fresco, sinta a rocha sob os dedos e o movimento do corpo.

"Espero ainda escalar por mais umas duas décadas. Adoro, não há outra coisa que eu prefira fazer. Nada me satisfaz mais que a escalada boulder", diz Sherman.

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