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Fisioterapia pode ser alternativa mesmo quando há indicação de cirurgia

O tratamento pode ser mais eficaz em lesões como a de menisco e uma alternativa menos invasiva para os mais velhos

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Amanda Loudin
The New York Times

Crescendo como uma jogadora competitiva de futebol, basquete e vôlei, Lindsey Plass estava habituada a ter pequenas lesões e dores. Mas foi só aos 26 anos, depois que começou a correr, que ela recebeu o diagnóstico de síndrome do impacto femoroacetabular, uma condição comum do quadril que se desenvolve na puberdade, mas pode não causar dor até mais tarde na vida.

Como fisioterapeuta, Plass queria explorar todas as opções de tratamento e consultou um cirurgião que recomendou uma artroscopia do quadril. "Ele me disse que eu não seria capaz de voltar às maratonas se não fizesse o procedimento", diz ela.

Fisioterapia pode ser alternativa de tratamento menos invasivo do que a cirurgia - Atstock Productions/Adobe Stock

No entanto, Plass sabia que não havia certeza sobre quais pacientes se beneficiam da cirurgia. Depois de consultar um colega, decidiu tirar uma folga da corrida e passar por um programa de fisioterapia direcionado para fortalecer o quadril. Ela lentamente voltou ao esporte, eventualmente retornando às maratonas e também aos triatlos para dar diferentes estímulos ao corpo.

A cirurgia ortopédica revolucionou o tratamento de muitas lesões comuns e oferece benefícios incríveis, até mesmo transformadores. Mas alguns especialistas se preocupam que muitas cirurgias populares são prescritas em excesso –e são até ineficazes– quando a fisioterapia simples pode ser a melhor solução.

"Depois de descobrir que uma condição não é séria e precisa de atenção imediata, sua primeira linha de ação deve ser a fisioterapia", diz David M. Matusz, cirurgião de coluna da NY Orthopaedics em Nova York. "Vai funcionar na maioria dos casos."

Decidir começar com fisioterapia ou cirurgia requer uma abordagem informada, e os pacientes devem estar munidos dos fatos certos para fazer a melhor escolha. Aqui está o que considerar se você estiver diante dessa situação.

Cirurgia ou fisioterapia?

De acordo com alguns especialistas, há décadas que os profissionais de saúde escolhem primeiro a abordagem cirúrgica, particularmente para os procedimentos comuns da coluna para aliviar dores nas costas, reparos de menisco e certas cirurgias de quadril.

"Este é o 'encontre, conserte', ou o modelo biomédico de dor", aponta Chris Johnson, um fisioterapeuta em Seattle. Esse modelo sugere que a dor é principalmente um fenômeno físico causado por dano ou disfunção tecidual, que pode ser identificado e resolvido por meio de reparo cirúrgico.

Além disso, muitos provedores têm um incentivo financeiro das seguradoras para recomendar a cirurgia. Cerca de 750 mil americanos passam por tratamento cirúrgico para lesões simples de menisco a cada ano, a um custo cumulativo de cerca de US$ 3 bilhões. Mas em 2017 um painel internacional foi contra o procedimento.

"Nosso sistema de saúde nem sempre está focado em uma abordagem proativa como a fisioterapia", afirma Johnson. "Se você está trabalhando dentro desse sistema, pode ser um desafio."

Em alguns casos, a cirurgia é a única opção, especialmente no caso de uma lesão aguda traumática que pode indicar uma ruptura completa do ligamento ou tendão. "Digamos que você esteja esquiando, caia e ouça ou sinta um estalo no joelho. Provavelmente será um caso para cirurgia", indica Johnson. "Há momentos em que você precisa de um médico para intervir e operar imediatamente."

Em outros casos, uma abordagem menos invasiva com fisioterapia pode levar a resultados iguais, se não melhores. Veja o caso das rupturas do menisco –lesões no joelho consideradas menores e incrivelmente comuns. Evidências sugerem cada vez mais que reparar cirurgicamente um menisco rompido não oferece mais benefício do que fisioterapia para ajudar a fortalecer os tecidos circundantes e apoiar a cicatrização.

Além disso, a cirurgia pode levar ao início mais rápido de osteoartrite, bem como aumentar o risco de outras condições que acompanham uma sala de cirurgia, como infecções por estafilococos. Em 2017, um painel internacional recomendou contra o procedimento e a favor da fisioterapia e outras intervenções conservadoras, como alterações nas atividades e mudanças no estilo de vida.

O doutor Matusz atende algumas dezenas de pacientes em média por dia e envia a maioria para a fisioterapia, em vez da sala de cirurgia. Ele disse que isso representa uma mudança em sua abordagem ao longo de seus 18 anos de prática.

"As pessoas acham surpreendente porque sou um cirurgião", disse ele. "Mas a maioria dos pacientes que meus parceiros e eu atendemos não precisam de intervenção cirúrgica. Eles precisam de FT."

Como decidir qual a melhor abordagem

Se você tiver uma lesão persistente ou aguda, encontre o especialista certo para sua condição e parte do corpo e, em seguida, reúna todas as informações relevantes e possíveis opções. Com seu médico, determine coisas como se a articulação foi danificada por um evento traumático ou se o problema decorre de problemas mais crônicos, como desequilíbrios de força ou alterações relacionadas à idade que foram exacerbadas por um aumento na atividade física.

Se você estiver considerando a cirurgia, faça perguntas ao seu médico. "Certifique-se de que ele entenda seus objetivos, demandas e atividades da vida", diz Johnson. "Saiba se você tem uma lesão isolada, como uma pequena ruptura no LCA [ligamento cruzado anterior], ou múltipla, como alguns ligamentos ou menisco também. Nesses casos, a cirurgia pode ser melhor."

Antes de se decidir pela cirurgia, você e seu médico também devem levar em consideração sua idade e nível de atividade. Um jogador de futebol profissional de 20 anos com uma lesão no LCA pode querer um reparo, por exemplo, para que possa retornar ao campo de jogo a 100%, ou próximo disso. Um corredor de 50 anos, por outro lado, provavelmente pode evitá-la, recuperando estabilidade suficiente através de fisioterapia para permitir que volte ao esporte, já que exige menos do joelho.

Nem todos os tipos de lesões são iguais, pontua Allison Fillar, cirurgiã ortopédica da MedStar Health em Baltimore. Veja uma lágrima de menisco ou uma ruptura total do LCA. Nesses casos, a cirurgia é necessária. Mas, com outras rupturas de menisco, a fisioterapia sozinha pode funcionar, diz ela.

Se você está inclinado para a tentar o tratamento, deve solicitar uma bateria completa de exames de seu médico ou fisioterapeuta, incluindo avaliações funcionais da articulação danificada e testes de força, diz Johnson. Isso também pode incluir testes de desempenho envolvendo movimentos como saltos, elevações de panturrilha, agachamentos, flexões e muito mais.

Se você decidir fazer fisioterapia, diferentes médicos terão abordagens variadas. "O que funciona para um paciente pode não funcionar para outro", afirma Matusz. "Às vezes, até faço um paciente trocar de fisioterapeuta se não estiver obtendo os resultados que deseja antes de darmos o passo para a cirurgia."

Na opinião de Matusz, mesmo que você acabe na sala de cirurgia, se você tentou fisioterapia para começar, está à frente do jogo por ter dado a chance de funcionar. "Quando você chega à cirurgia, seja para a coluna ou qualquer outra coisa, deve ser seu último recurso", afirma.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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